Não sem exceções, o que mais move um profissional qualificado à frente de um bem público é o otimismo, mesmo diante da escassez de recursos e do trâmite lento da burocracia. É o que se pode dizer da arquiteta Tereza Bruzzi, diretora do Museu de Arte da Pampulha e da Casa de JK, quanto à restauração do imóvel projetado por Oscar Niemeyer para servir de refúgio ao ex-governador de Minas, ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-presidente da República Juscelino Kubitschek (1902–1976) na orla da lagoa. A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) restaurou as principais edificações e obras de arte, e uma empreiteira vai recuperar os jardins projetados pelo paisagista Burle Marx (1909-1994).
Sem muita convicção, mas com esperança, Tereza espera em no máximo um ano abrir as portas da mansão modernista ao público, ato que completará, depois de quase 10 anos de espera, a revitalização de todos os bens do conjunto arquitetônico da Pampulha. Os primeiros sinais da restauração feita pela Sudecap estão visíveis logo na entrada, no painel que Alfredo Volpi (1896-1988) deixou na varanda frontal e nos mosaicos de Paulo Werneck (1907-1987). As paredes estão pintadas, obedecendo as cores originais. O sistema hidráulico, que alimenta torneiras de banheiros e cozinha, foi desativado para reduzir os níveis de umidade, para proteção da alvenaria, tecidos e madeira.
Tereza precisava desse trabalho para alimentar o otimismo. Ela espera, ansiosa, os projetos da Engenharia, Planejamento e Obras (EPO), empresa que vai assumir a reforma dos jardins e do mobiliário, por meio da campanha Adote um bem cultural, da Fundação Municipal de Cultura. A promessa é de que em julho eles já estejam tramitando nos órgãos de defesa e proteção do patrimônio histórico e cultural do município, estado e União, pois o imóvel é tombado nas três esferas de administração. Terão de passar ainda pelas mesas da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de BH.
Era de esperar que esse trâmite burocrático desanimasse Tereza Bruzzi, mas isso ela não teme. O único motivo de apreensão da arquiteta é político, pois o ano é de eleição municipal e se houver mudança na cabeça da administração da cidade tudo pode cair de novo no caminho da incerteza, que há quase uma década esconde de BH um seus importantes bens culturais. Afinal, a restauração de pisos, telhados, janelas, esquadrias, painéis artísticos e a construção de uma guarita começaram, segundo a Sudecap, em 2008, com orçamento de R$ 844,2 mil (repasse da Caixa Econômica Federal). Mas as obras foram suspensas por dois anos porque não houve repasse de recursos.
JARDINS
Tarefa difícil será recuperar os jardins, cobertos por mato e lixo. As ervas daninhas escorraçaram as flores e as espécies representativas de vários biomas plantadas na área dos fundos só resistem por causa do porte elevado. Não há mais rastros de Burle Marx, mas Tereza Bruzzi confia no talento do arquiteto e urbanista Ricardo Lana, que tem a missão de elaborar os projetos de restauração. A piscina, ao contrário do que dizem os vizinhos da casa, não alimenta larvas do mosquito da dengue porque está seca, esvaziada. Terá sua profundidade reduzida em pelo menos 80% para se transformar em espelho d’água, ao lado do café a ser instalado na antiga casa dos funcionários da mansão.
“Vamos transformá-la em conceito museu-casa”, anima-se Tereza. Uma atração, se tudo correr como ela espera, que reunirá conceitos históricos, políticos e artísticos, apoiados, principalmente, nas figuras de Juscelino Kubitschek e Oscar Niemeyer. A arquiteta não deixa de agradecer a Juraci Guerra, mulher de Joubert Guerra, amigo e braço direito de JK, que comprou o imóvel em 1956. Juraci o manteve praticamente intacto até ser negociado ao município em 2005. Ainda estão lá objetos que serviram ao ex-presidente como uma grande cadeira e uma geladeira europeia.
Enquanto isso...
...Restauração do Edifício Niemeyer é aprovada
Mais um passo foi dado rumo à reforma, na Praça da Liberdade (Região Centro-Sul de BH), do Edifício Niemeyer, obra em estilo moderno, imaginado e desenhado pelo mestre da arquitetura brasileira, com marquises em ondas para lembrar as montanhas de Minas. Foi publicada ontem no Diário Oficial do Município (DOM) a aprovação do projeto de restauração de fachadas e áreas comuns do conjunto residencial de 10 andares e 20 apartamentos pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural (DIPC). Faltam ainda as chancelas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para que o documento seja levado ao Ministério da Cultura. O objetivo é se candidatar ao benefício da Lei Rouanet para que se busque um patrocinador da iniciativa privada para bancar as obras, orçadas em torno de R$ 1 milhão. (Paola Carvalho)