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Estado de Minas

Patrimônio religioso está desprotegido em Minas

Ministério Público confirma que 40 santuários mineiros com peças históricas tiveram alarmes desligados por falta de renovação em 2011 de contrato entre o Iepha e empresa de segurança


postado em 17/02/2012 06:00 / atualizado em 17/02/2012 06:36

 


Imagens sacras talhadas pelo mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho; quadros a óleo do século 18 com cenas e personagens da época colonial brasileira; castiçais, candelabros e relíquias religiosas em ouro e prata. O patrimônio que conta a história de Minas Gerais e fica abrigado em igrejas, santuários e sítios está vulnerável à ação de ladrões desde que o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) não renovou os contratos de 2011 com as empresas de segurança que instalaram alarmes em 40 locais, por meio do programa Minas para Sempre. A denúncia é do coordenador das promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC), promotor Marcos Paulo de Souza Miranda. “Todos os dispositivos de vigilância estão inoperantes”, afirma. O instituto informou não ter notícia do desligamento, mas também não soube dizer se os equipamentos estão funcionando. O valor do contrato é de R$ 200 mil.

A ausência dos sistemas de alerta e vigilância trazem mais tranquilidade para as ações de quadrilhas especializadas em roubo e comércio de obras de arte tombadas, como a do grupo de ladrões que levou anteontem cerca de 20 objetos sacros de Itacambira, no Norte de Minas. “Estamos ainda mais expostos com a chegada do carnaval, quando é normal a vinda de veículos com placas de fora, disfarçando entre os foliões os ladrões de peças históricas”, destaca o promotor.

Segundo Miranda, o secretário de Estado de Defesa Social, Lafayette Andrada (PSDB), foi comunicado por telefone da situação e teria concordado em alertar as forças policiais sobre a necessidade de estender a segurança aos locais históricos até que o Iepha-MG resolva a pendência.

Três igrejas tombadas pelo Iepha na Grande BH foram visitadas ontem pelo Estado de Minas. Em Sabará, funcionários das igrejas de Nossa Senhora da Conceição e de Nossa Senhora do Carmo confirmaram que o sistema de alarmes estava inoperante. No primeiro templo, os padres não quiseram falar sobre o assunto, mas uma secretária confirmou que há dias não funciona o equipamento que monitora o movimento dentro da igreja. Faltam vidros nas janelas, outros estão quebrados e uma das janelas, voltada para a rua, não tem grades.

Funcionários revelaram que sistema eletrônico de alerta está inoperante nas igrejas de Nossa Senhora do Carmo e de Nossa Senhora do Rosário, em Sabará, que guardam acervo de Aleijadinho, mestre do barroco
Funcionários revelaram que sistema eletrônico de alerta está inoperante nas igrejas de Nossa Senhora do Carmo e de Nossa Senhora do Rosário, em Sabará, que guardam acervo de Aleijadinho, mestre do barroco


Preciosidades

Na Igreja de Nossa Senhora do Carmo o sensor de alarme ficou sem uso por tanto tempo que teias de aranha que o cobriam foram escurecidas pela poeira acumulada no aparelho. Imagens históricas de Aleijadinho, como a de São Simão Estoque e São João da Cruz, ficam expostas, bem como quadros a óleo, documentos do século 18, castiçais e candelabros de metais preciosos. Tudo está sem a proteção eletrônica.

A Capela Nossa Senhora do Rosário, de Sumidouro, em Pedro Leopoldo, não é mais aberta durante a semana por medo de invasões e roubos. De acordo com uma das guardiãs do templo, Nadir Correia, em 13 de julho ladrões invadiram o local, desarmaram os alarmes, cortaram a energia, quebraram computadores que registravam imagens de segurança. Foram roubados o sistema de som e as galetas de prata usadas para vinho e água no ritual da eucaristia. “A gente fica preocupada com esse descaso. É a nossa história que vai se perdendo. Minha avó contava casos de coroações com uma santa que foi roubada. Desde o tempo dela, ninguém mais da comunidade pode repetir o ritual que vinha de séculos”, lamenta Vaneça Maria Soares, de 28 anos, que vive na comunidade Quintas do Sumidouro, onde fica a capela.

Absurdo
Enquanto não se resolve a questão de segurança, pessoas como ela, que moram perto da Capela de Nossa Senhora do Rosário tentam impedir os roubos. “Quando vemos carros estranhos ou gente que não é daqui, chamamos a polícia ou começamos a aparecer nas ruas para evitar os roubos”, conta Vaneça. A estudante Gabriela Cristiane Dias, de 22, frequenta a missa na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Sabará, e acha um absurdo o desligamento dos alarmes. “Sabará não tem outras atrações históricas além das igrejas e o patrimônio dentro delas. Se isso acabar, os turistas não virão mais. Ou os investimentos voltam ou os padres usam o dízimo para a proteção da própria igreja”, sugere.

De acordo com o promotor que coordena o CPPC, 60% do patrimônio sacro móvel de Minas Gerais se perdeu em roubos e coleções particulares. “Se não agirmos logo, mais se perderá. As quadrilhas agem em todo estado e são formadas por gente de for a. Os grandes polos de venda são Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo”, afirma.

De acordo com o Iepha, nenhuma prefeitura nem o CPPC informaram sobre os desligamentos dos alarmes. Em nota, o instituto responsável pelo patrimônio estadual informa que “todos os procedimentos burocráticos para renovação dos contratos de manutenção no sistema de alarme estão sendo realizados”. No entanto, foi apresentada uma previsão para sanar os problemas. A Secretaria de Estado de Defesa Social informou que o efetivo de policiamento foi ampliado em todas as cidades históricas no período de carnaval, o que contemplaria a necessidade de reforço na segurança do patrimônio.


Enquanto isso...

…POLÍCIA procura ladrões no norte

A polícia já identificou a quadrilha que roubou cerca de 20 peças sacras tombadas da Matriz de Santo Antônio, em Itacambira, no Norte de Minas, quarta-feira. “Não vamos divulgar ainda de onde vieram, mas tivemos informações de que ainda estão no Norte de Minas preparando outro roubo. As forças policiais estão avisadas, inclusive as rodoviárias que participam de bloqueios”, afirma o coordenador das promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, promotor Marcos Paulo de Souza Miranda. Até ontem apenas cinco imagens foram identificadas, a última delas a de São Vicente Férreo. De acordo com o promotor, quem leva as imagens pode ser processado por furto qualificado (pena de dois a oito anos), e quem compra, por receptação (três a oito anos).


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