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Estado de Minas

Ciclovias ainda atraem poucos ciclistas em BH

Comparação com levantamento de 2010 mostra que rotas exclusivas não tem muito sucesso, em parte por falta de conexões e infraestrutura. BHTrans planeja quadruplicar trechos


postado em 12/02/2012 07:21 / atualizado em 12/02/2012 08:19

Ciclista prefere pedalar do outro lado da Professor Moraes que usar ciclovia: críticas à funcionalidade das rotas exclusivas(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Ciclista prefere pedalar do outro lado da Professor Moraes que usar ciclovia: críticas à funcionalidade das rotas exclusivas (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)

Depois de implantar oito quilômetros de ciclovias e iniciar a construção de mais oito no ano passado, com investimentos de R$ 1,16 milhão, Belo Horizonte traça os próximos passos para aumentar sua malha cicloviária e saltar dos atuais 34 quilômetros de pistas para 120 quilômetros no fim do ano. Na terça-feira, integrantes do projeto Pedala BH, da BHTrans, que comemora a doação de mais de R$ 2 milhões pelo Banco Mundial para a construção de 24 quilômetros no Barreiro e em Venda Nova, começam a estudar novas rotas para a cidade. Os planos para quadruplicar a extensão das ciclovias ocorrem num momento em que vários entraves ainda impedem que a bicicleta se torne transporte viável na montanhosa capital mineira.

Seis meses depois da inauguração de quatro espaços exclusivos para bicicletas – Rota Avenida Américo Vespúcio (Região Noroeste), Rota Avenida Risoleta Neves (Região Norte), Rota Savassi (Centro-Sul), no Bulevar Arrudas (Região Central) –, a participação dos ciclistas no trânsito da capital mineira ainda é irrisória. Ciclistas e especialistas em transporte insistem que construir pistas específicas para o veículo sobre duas rodas não é o bastante. “Estrutura cicloviária não é sinônimo de ciclovia. Por enquanto, as pistas ainda são muito isoladas umas das outras. Faltam espaços seguros para deixar a bicicleta e não há uma campanha educativa continuada sobre o assunto”, diz o integrante do movimento Mountain Bike BH Humberto Guerra, participante ativo das discussões sobre as ciclovias em BH.

Num contexto em que faltam informações e estatísticas que expressem o crescimento e o alcance do uso da bicicleta na capital, contagem de ciclistas feita pelo Estado de Minas, na semana passada, quando a cidade retomou seu ritmo na volta às aulas, dão indícios de quão embrionário é esse movimento na capital, estigmatizada pela topografia montanhosa. Em duas manhãs, das 8h às 12h, a reportagem contou quantos ciclistas passaram por duas pistas de BH e comparou com estudo semelhante feito em 2010 pelo Mountain Bike BH, com base em metodologia do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, na sigla em inglês) e a pedido da BHTrans, antes da implantação das ciclovias.
Muitos moradores ainda se arriscam no entorno da ciclovia da Savassi(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Muitos moradores ainda se arriscam no entorno da ciclovia da Savassi (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)

Inaugurada em outubro, a Rota da Savassi, única da Região Centro-Sul, tem 2,8 quilômetros e vai da Rua Professor Moraes até a Rua Piauí, na esquina com a Avenida dos Andradas. Em abril de 2010, passaram pelo trecho, das 8h às 12h, 21 ciclistas, média de 5,2 por hora, a menor entre os seis trechos pesquisados. Quase dois anos depois, com a pista exclusiva implantada, 26 ciclistas passaram no mesmo intervalo, média de 6,5 ciclistas por hora. Um aumento de 24% que, em números absolutos, representa um adepto ao meio de transporte a mais a cada 60 minutos. E, mesmo com a pista exclusiva, chama a atenção a quantidade de ciclistas que atravessam ou ficam próximos às ciclovias, sem usá-las.

Em quatro horas, 17 pessoas transitaram de bicicleta no entorno, sem usar a pista. “Acho o trajeto dessa ciclovia pouco funcional”, resume o músico Breno Terra, de 22 anos, que cruzou a ciclovia na Avenida Afonso Pena. Mas há também quem não abra mão de usar a via exclusiva. “Prefiro dar volta maior e pegar a ciclovia, pois aqui temos mais segurança. O problema maior é a falta de integração com outras rotas”, afirma o cirurgião-dentista Rodrigo Moremose, de 48 anos, que até instalou buzina na magrela, para, cordialmente, pedir passagem aos pedestres, que aderiram em peso à pista.

VIA 240 Primeiro espaço inaugurado no âmbito do Pedala BH, em julho, a ciclovia da Avenida Risoleta Neves, antiga Via 240, que corta bairros da Região Norte, tem 2,2 quilômetros de extensão e conecta a ciclovia da Avenida Saramenha à Estação BHBus São Gabriel. Em levantamento feito em maio de 2010, a via apresentou o maior número de usuários entre as rotas para bicicletas estudadas. No período das 8h às 12h, o trecho foi cruzado por 70 bicicletas, média de 17,5 por hora. Já na semana passada, com a via implantada, o EM contou, no mesmo intervalo, 37 bikes – 9,2 por hora, queda de 47%.

Outros 12 ciclistas, o que representa um terço do grupo na ciclovia, passaram pela região, mas fora da faixa exclusiva. “Prefiro ficar na rua. Se atropelo alguém, depois o culpado sou eu”, diz Rodrigo Santos, de 31, que acabava de voltar de entrevista de emprego. “Não polui, não gasto passagem”, resume, ao falar dos benefícios da bicicleta. Uma das centenas de praticantes de cooper da Via 240, onde a pista de bicicleta foi implantada na calçada, a nutricionista Juliana Cappa, de 23, rebate: “Acho a ciclovia muito interessante, mas deveriam ter destinado também um espaço para os pedestres.”

O mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia Paulo Rogério Monteiro alerta que fatores como calor ou chuva podem alterar de forma expressiva o número de frequentadores das ciclovias, que devem ser analisadas de maneira qualitativa, e não quantitativa. “O sistema de transporte é composto por várias engrenagens e a bicicleta é uma delas. Ela cumpre uma função ambiental e de saúde, mas tem que ser ligada a outros meios de transporte”, afirma. O especialista também cobra a implantação de elementos que convidem cidadãos a adotar a bicicleta como transporte. “Se você, por acaso, tem uma bicicleta, mas não tem onde estacioná-la, vai de bike?”, pergunta. A BHTrans informou que não comentaria planos para
ciclovias.

4 problemas nas pistas

Não há conexão entre as ciclovias. Uma malha cicloviária garantiria alternativas de caminhos para que mais ciclistas percorram trajeto mais longo em segurança.

Faltam bicicletários e locais onde seja possível guardar com segurança as bikes.

Especialistas cobram campanhas educativas que promovam a adesão de mais pessoas ao meio de
transporte, divulguem as ciclovias implantadas e orientem o motorista a respeitar o ciclista.

Falta ligação entre as ciclovias e outros meios de transporte, como ônibus e metrô.
Faltam ciclistas, sobram pedestres: na Via 240, pista é usada para fazer caminhadas(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Faltam ciclistas, sobram pedestres: na Via 240, pista é usada para fazer caminhadas (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


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