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Estado de Minas

Deslizamentos de terra ameaçam 50 áreas de BH

Força-tarefa vistoria 50 locais com alto risco de desmoronamento e afundamento de terreno, incluindo áreas nobres de BH, para buscar soluções e evitar tragédias


postado em 12/01/2012 06:00 / atualizado em 12/01/2012 06:38

Barranco abaixo de mansão abandonada representa grande risco na Rua João Camilo de Oliveira Torres, no Mangabeiras(foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS)
Barranco abaixo de mansão abandonada representa grande risco na Rua João Camilo de Oliveira Torres, no Mangabeiras (foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS)


Pelo menos 50 pontos localizados em áreas de alto risco geológico em várias regiões de Belo Horizonte estão sendo vistoriados por uma força-tarefa formada por agentes da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) e 28 engenheiros voluntários da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS). Os locais sob risco iminente de deslizamento e afundamento de solo que podem ameaçar a integridade de construções estão por toda a cidade, inclusive áreas nobres, como o Sion e Mangabeiras, na Região Centro-Sul de BH. No fim das vistorias, previsto para sábado, serão recomendadas soluções construtivas para sanar os problemas e recomendações da Comdec para aprimorar o código construtivo municipal.

De acordo com os engenheiros, a contribuição poderá culminar na proibição de construir em terrenos considerados de alto risco. O mutirão técnico foi formado nesta semana e atua desde segunda-feira. O primeiro local vistoriado foi o Bairro Buritis, na Região Oeste, onde um edifício condenado desabou antes que a ordem judicial para demolição fosse cumprida. Outros três estão sob ameaça e um deles já recebeu ordem para ser demolido. De acordo com o coordenador da Comdec, coronel Alexandre Lucas Alves, os 50 locais vinham sendo monitorados, mas careciam de embasamento especializado para que as notificações fossem mais precisas aos moradores e outras pessoas que passam nesses lugares. “Estamos sendo acompanhados por profissionais de notório saber técnico e que poderão nos auxiliar nas melhores soluções possíveis para cada caso”, disse. Os locais onde as vistorias ocorrem não são divulgados pela Comdec. “É uma estratégia institucional para que não ocorra o mesmo que está havendo no Buritis. Os edifícios ameaçados se transformaram numa atração turística, reunindo gente à sua volta. Isso leva ainda mais perigo”, afirma o coordenador.

O Estado de Minas percorreu locais vistoriados pela força-tarefa. Entre as ruas João Camilo de Oliveira Torres e Engenheiro Bady Salum, no Mangabeiras – próximo à Praça do Papa e ao Palácio das Mangabeiras –, há uma encosta da qual sedimentos e pedras grandes deslizam há anos ameaçando construções próximas e em especial uma grande casa branca que está desocupada. O imóvel já foi notificado pela Comdec. “A situação ali é crítica. A movimentação do solo está ocorrendo e um pedaço da encosta já desceu. A mansão que fica no alto está correndo risco de ser danificada e até de desabar dependendo do que ocorrer”, analisa o engenheiro da ABMS Ivan Libânio Vianna. “Estamos dando esse apoio técnico à Defesa Civil com foco na prevenção de acidentes e preservação da vida humana. Não sabemos os locais de antemão, a Comdec é que nos leva e nós avaliamos”, afirma Vianna.

Proprietário de uma casa na Rua Engenheiro Bady Salum, na parte de cima da encosta, o consultor Cláudio Santos reclama que a prefeitura tem feito constantes vistorias no bairro, mas nenhuma providência foi tomada. “Moro aqui há quatro anos e a casa sempre esteve fechada. Tenho certeza de que o barranco nos fundos da propriedade vai ceder ainda mais”, alertou. Para o vigia Ronaldo Pereira, ainda há risco de os sedimentos soterrarem completamente a Rua João Camilo de Oliveira Torres. Metade da via já foi encoberta pela terra, obrigando os veículos a trafegarem em uma faixa. “Os moradores estão com medo de ficarem ilhados, uma vez que a rua é sem saída”, afirmou Pereira. Alguns metros à frente, outro desmoronamento obstruiu parte da pista ao redor da Praça Anselmo Bruschi, parte do itinerário da linha de ônibus 4103 (Aparecida/Mangabeiras).

Perigo no Sion

Outro ponto que inspira cuidados e foi avaliado ontem fica na altura do número 927 da Rua Patagônia, no Sion. Lá os perigos são nítidos. Os passeios e o muro de contenção já racharam com fissuras em que cabe um braço. Três postes precisaram ser substituídos pela Cemig, pois corriam risco de desabar. “A região toda é composta por solo muito instável, composto por filito, que é um minério fino combinado com rocha”, avalia o engenheiro da ABMS. Morador de um edifício em frente à encosta, o aposentado Eduardo Vieira revela que a terra vem deslizando aos poucos desde o início das chuvas. “Tem até um bolsão de barro formado numa das bases do morro. Se não fizerem nada, é inevitável que a terra caia sobre os veículos que passam pela via”, alertou.

 

Desmoronamento de terra é ameaça crescente na Rua Patagônia, no Sion, na Região Centro-Sul(foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS)
Desmoronamento de terra é ameaça crescente na Rua Patagônia, no Sion, na Região Centro-Sul (foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS)
 

 

Palavra de especialista

 

Edésio Teixeira de Carvalho
geólogo aposentado da UFMG

Solo dificulta construções

Os vales que seguem a Serra do Curral, como partes do Buritis, Belvedere, Mangabeiras e Sion, são formados por rochas chamadas filito e quartzito. Esse solo apresenta uma dificuldade construtiva natural. Não é nada que não possa ser contornado. A engenharia tem técnicas para que se construa com segurança em quase todos os terrenos. Hoje, só não se consegue construir em lava de vulcão. O problema é que esses solos exigem técnicas caras e perfurações muito profundas. Os engenheiros costumam construir em Belo Horizonte usando experiência e conhecimento prático que adquiriram ao trabalhar nesses tipos de solo. Há muitos engenheiros que dominam esses conhecimentos e fazem muito bem essas análises, mas a presença de geólogos no levantamento do terreno é algo que pode garantir a segurança construtiva.


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