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Estado de Minas

Vale tudo para se proteger da chuva

Depois de enfrentar inundações do Rio das Velhas, famílias de Santa Luzia, na Grande BH, criam soluções para escapar de enchentes, como abrigos altos e barreiras na porta de casa


postado em 11/01/2012 06:00 / atualizado em 11/01/2012 06:57

Cristiano Massara e a mãe, Áurea Massara, construíram um abrigo para fugir das águas na Rua do Comércio, no Bairro da Ponte(foto: MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS)
Cristiano Massara e a mãe, Áurea Massara, construíram um abrigo para fugir das águas na Rua do Comércio, no Bairro da Ponte (foto: MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS)


As chuvas de janeiro de 1997 deixaram marcas nas paredes da casa e mais ainda na memória da família Lara Masssara, moradora de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Era tarde quando o Rio das Velhas, que divide a cidade, invadiu as residências da Rua do Comércio, no Bairro da Ponte, aterrorizando os moradores e causando perdas na sala, cozinha e quartos. Diante daquela situação extrema, já que foi obrigada a passar a noite com os filhos na rua até o dia clarear, para retirar a lama dos cômodos, a dona de casa Aura Lara Massara, viúva, hoje com 85 anos, tomou uma decisão: construir um abrigo, sobre a garagem, para guardar mobília e eletrodomésticos ao menor sinal de cheia do rio.

Dito e feito. Naquele mesmo ano, Aura, conhecida como Maninha, reuniu os três filhos e deu início à construção de alvenaria, que fica a dois metros de altura do piso, tem área de 40metros quadrados e pode acomodar tranquilamente 10 pessoas. “Fizemos uma escada bem larga, de ferro, sem curvas, para podermos passar com geladeira e móveis. Numa hora dessas, tudo precisa ser muito rápido, pois a enchente não perde tempo. O abrigo é mais alto até do que a casa”, diz o filho de Maninha, o biólogo Cristiano Lara Massara, que trabalha na capital e se preocupa muito em dezembro e janeiro. “Felizmente, nunca precisamos usar o abrigo, mas ele está sempre limpo e livre para qualquer emergência. No caso de ocorrer outra vez…”

Acompanhado da mãe, Cristiano mostra o compartimento sobre a garagem – “na época ficou muito caro”, ele se recorda – e diz que a ideia partiu de Maninha: “O pior naquela noite foi que os vizinhos não podiam se ajudar, pois todos estavam com água pela cintura. Então, tínhamos que pensar numa solução para o futuro”. O dia seguinte à enchente também não foi fácil. “Lembro que da árvore de Natal não sobrou nenhuma bolinha. Perdemos geladeira, colchões, enfim, tudo que estava numa altura de até um metro. As roupas de cama, calças jeans, camisas e outras peças da família ficaram tão sujas, que fomos obrigados a mandar lavá-las em Belo Horizonte. Eram 400 quilos de roupas, fiz até pesquisa de preço em lavanderias”, conta o biólogo, destacando que o carro do irmão, um Fiat Uno, deu perda total devido aos estragos.

Deu certo

"Tem dado muito certo e não houve mais problemas", Lésia Jamil Sarah de Oliveira, professora aposentada que pôs chapa de aço no portão (foto: MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS)
Cansada também de perder o patrimônio, a professora aposentada Lésia Jamil Sarah de Oliveira mora há 46 anos numa casa da Rua do Comércio e tomou uma decisão sábia e, segundo ela, bem eficaz. Depois da enchente de 1997, mandou instalar “comportas” na varanda, providência que impede a entrada da água que vem de um bueiro em frente à casa, se junta à do Rio das Velhas e produz medo e danos. O método é bem simples, mostra Lésia. Ao menor sinal de chuva forte e de que o rio está subindo, ela encaixa uma chapa de aço, de 80cmx80cm, nos trilhos que ficam na base do portão. E pronto. “Tem dado muito certo e não houve mais problemas”, conta a professora, mãe de quatro filha e avó de nove netos.

Para Lésia, uma boa medida seria que as autoridades fizessem o desassoreamento do Rio das Velhas, um dos mais importantes afluentes do São Francisco. “Na década de 1970, a prefeitura fez esse serviço, retirando entulho da calha do rio, e ficamos uns 15 anos sem inundação. Mas depois voltou. É necessário tirar plásticos e entulho das águas”, afirma a professora. Na mesma rua, é possível ver outras casas com as comportas e, em algumas delas, os moradores elevaram um pouco a calçada para conter a força das enchentes.

Natural de Afogados da Ingazeira, no sertão de Pernambuco, a dona de casa Maria Vânia de Souza Santos, de 56, veio para Minas com a família há 25 anos e foi morar há 18 no Bairro Nova Esperança, conhecido como Pantanal, à beira do Rio das Velhas, em Santa Luzia. Acostumada às tristezas da seca, ela nunca imaginou que as águas pudessem lhe trazer transtornos. “Nesta época do ano, fico da janela controlando o nível do rio. Se ele sobe, carrego o que posso aqui para o pavilhão”, diz Vânia. O pavilhão é o “abrigo” que ela construiu sobre a casa, para levar eletrodomésticos e mobília.

Na escada larga que dá acesso aos cômodos, com banheiro, ela diz que o espaço é só mesmo para evitar perdas materiais. “Se a situação apertar, vou para casa de parentes. Uma vez, a água aqui subiu dois metros. Já chegou ao ponto de ficar em casa de parentes no Barreiro, em BH”, revela, lembrando que prevenir é o melhor remédio.

 

 


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