Sentado num modesto gabinete da Prefeitura de Bom Despacho, Elano assina memorandos e documentos, negocia a criação do primeiro parque municipal da cidade e faz contatos com vereadores, deputados, governadores e até com políticos norte-americanos para mobilizar esforços em prol da natureza. Depois que bate o cartão e deixa a sala da Superintendência de Meio Ambiente, nada de descanso. Como presidente do Projeto de Educação e Conscientização Ambiental (Peca), ONG criada pelo jovem aos 13 anos de idade, Elano tem a missão de administrar uma verba mensal de cerca de R$ 70 mil e articular ações de um programa de reflorestamento com os escritórios regionais de Belo Horizonte, Uberlândia e Formiga, em Minas; Ceará, Bahia e Rio de Janeiro, além de Cleveland, nos Estados Unidos, e Toronto, no Canadá.
Em casa, diante do computador, ele prepara palestras que, a partir de janeiro, custarão R$ 6 mil e serão agendadas por uma agência especializada que detém o direito de conferências com nomes de peso, como o publicitário Washington Olivetto, o político José Serra e o médico psiquiatra e escritor Augusto Cury. Nas horas vagas, é comum encontrar o garoto munido de enxada, pá e alavanca, plantando mudas em ruas e avenidas ou caminhando pelas matas da cidade, onde zela por árvores e animais silvestres. Nessa atribulada rotina, Elano ainda encontra tempo para se dedicar aos estudos. Ele concluiu o ensino médio numa escola pública de Bom Despacho no ano passado e já comemora a aprovação no vestibular para o curso de direito, numa universidade de BH, para onde deve se mudar este ano.
Precoce
A história de engajamento de Elano, um otimista e sonhador nato, teve início em 2007, quando tinha 13 anos. Os trabalhos começaram como um lazer de fim de semana, durante caminhadas com amigos e parentes por matas da região de Bom Despacho. Movido pela paixão pela natureza, ele começou a plantar mudas à beira de nascentes, rios e córregos e ajudar no salvamento de animais silvestres. Por meio de um acordo com a Polícia Militar de Meio Ambiente, o jovem conseguiu autorização para levar animais apreendidos ou resgatados na cidade para escolas, onde fazia palestras para os alunos sobre a importância da preservação da fauna e da flora.
“Eles me cediam jabutis, tartarugas ou cobras por uma tarde e eu percorria salas de aula de 1ª a 4ª séries falando sobre a importância de preservação de uma determinada espécie e também do ambiente em que ela vive. Esse foi o jeito que eu encontrei para deixar só de gostar da natureza para começar a agir. Hoje, me surpreendo com a dimensão que as ações tomaram”, conta Elano.
Desde então, ele coleciona histórias de 400 palestras ministradas e mais de 5 mil árvores plantadas à frente da ONG Peca. No ano passado, quando o norte-americano Al Gore, vice-presidente do governo Bill Clinton, esteve no Brasil para se manifestar contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, o jovem bom-despachense conseguiu fazer contato com o político e poucos meses depois recebeu uma correspondência dele, reconhecendo a importância das ações.
Numa viagem de férias aos Estados Unidos e ao Canadá, Elano ganhou a simpatia de outros jovens e, assim, começaram a nascer as filiais internacionais da Peca. Em 2010, emancipado pelos pais aos 16 anos, ele conquistou direitos da maioridade e pode registrar legalmente a ONG, que hoje recebe recursos provenientes de termos de ajustamento de conduta (TACs) e multas decorrentes de ações do Ministério Público estadual, além de doações.
Cargo Público
Tanto engajamento chamou a atenção da administração municipal de Bom Despacho, que em meados deste ano, convidou Elano para assumir a Superintendência de Meio Ambiente da cidade. Em dezembro, ele colheu o mais importante fruto do seu trabalho na prefeitura: a criação do Parque Municipal Mata do Batalhão. “Conseguimos que o governo estadual cedesse um terreno de 38 hectares para a fundação do primeiro parque de Bom Despacho. A preservação dessa área é fundamental e vamos desenvolver ali um projeto ambiental de extrema importância”, afirma.
As palavras do comandante do 7º Batalhão da Polícia Militar da cidade, tenente-coronel Wagner Soares de Sant’Ana, fazem coro ao discurso do garoto. “Arregaçamos as mangas para trabalharmos juntos. Nos surpreendeu o tamanho da sua responsabilidade diante de projetos que já têm repercussão internacional. Independentemente da idade, ele tem grande envolvimento com a causa ambiental e seu trabalho é a mola propulsora do município para o desenvolvimento de ações ecológicas”, declara o militar.