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Estado de Minas

Alto custo ameaça tradição dos burrinhos no Parque Municipal


31/08/2011 06:09 - atualizado 31/08/2011 06:44

João Rafael Antunes herdou negócio do pai e nos fins de semana tem dificuldades para criar e trazer os animais para a capital
João Rafael Antunes herdou negócio do pai e nos fins de semana tem dificuldades para criar e trazer os animais para a capital (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)

Todos os sábados e feriados, entre as 3h e as 4h, o Sítio do Sumidouro, a cinco quilômetros de Itaúna, no Centro-Oeste de Minas, numa estrada de terra, começa a se movimentar: é hora de lavar o rosto, tomar o café e começar a preparar o embarque dos 15 jeguinhos, que já estão à espera, presos num pequeno curral de madeira onde, nos últimos dias, devido à seca e à falta de capim nos pastos, têm passado a maior parte do tempo. Um caminhão Mercedes, ano 1981, vai rodar com eles 95 quilômetros, numa viagem até o Parque Municipal Américo Renné Gianetti, no Centro de Belo Horizonte. Aqui eles serão desembarcados, numa operação meio complicada, devido ao trânsito, em uma rua perto da Avenida dos Andradas. Os proprietários ainda estão negociando a permissão para descê-los dentro do parque, o que seria mais prático.

A tradição, que há 70 anos vem fazendo a alegria da criançada da capital, está ameaçada de ser interrompida, segundo o dono dos animais, João Rafael Antunes, que herdou o negócio do pai, o verdureiro e dono de um carrinho de pipocas no parque Zacarias Antunes. No início da década de 1940, vendo a possibilidade de um bom negócio, ele adquiriu dois cavalos e três jumentos de um certo Walfrido. Rafael Antunes, que na época tinha cinco anos, mas já ajudava o pai, até hoje se recorda – e se emociona ao contar a história – do nome dos animais: Dengoso, Magrinho, Carbureto, Fuzarca e Ventania. Estava começando ali, para os Antunes, um negócio que, desde então, se confunde com a história de Belo Horizonte.

Mas o tempo foi passando e há seis anos, com o crescimento da cidade e o aumento do trânsito, os jeguinhos tiveram de ser levados no fim de semana de caminhão do parque para um curral no Bairro Estrela Dalva, na Região Oeste da capital, onde viviam. Até então, nas manhãs de sábado e domingo seguiam tocados, na ida e volta do parque, atravessando ruas e avenidas da cidade, num espetáculo que chamava a atenção de todo mundo. Há 12 anos, devido à total falta de condições, os animais passaram a viver, de segunda a sexta-feira, num sítio em Mateus Leme, para onde se mudou também a família Antunes, para cuidar deles.

Dificuldades


Mas, por esses reveses da vida, há pouco mais de dois anos, sem outra alternativa, devido a uma doença de Rafael, a família teve de vender, mesmo contra a vontade, os cerca de 10 hectares que tinha em Mateus Leme e alugou o sítio em Itaúna, onde mora. A casa, bastante simples, é cercada de algumas árvores e pés de mexerica, que fazem a fartura na época da safra. Só recentemente, depois de recuperar a saúde, Rafael voltou a trabalhar, assim mesmo com algumas recomendações médicas.

Somam-se a todas essas dificuldades as despesas para manter os animais: compra de ração, numa média de 30 sacos por mês, vacinas, manutenção do caminhão, pagamento dos motoristas, dificuldade para repor os jeguinhos. Além disso, na época da chuva os animais ficam praticamente parados. Segundo os proprietários, diante de tudo isso o desfile dos jequinhos no parque está se tornando um negócio quase inviável. Há quatro anos, segundo Vera Lúcia Galvez, mulher de Rafael, a família só não desistiu da empreitada porque o filho Matheus, “que cresceu no meio dos bichinhos”, começou a chorar e pediu aos pais que continuassem. Hoje, com 18 anos, ele estuda beneficiamento de minérios no Senai, em Itaúna, enquanto a filha, Rafaela, de 21, cursa enfermagem numa universidade local.

Problemas à parte, Vera Lúcia, que durante a doença do marido assumiu o negócio na companhia do filho, conta que quando chega com os jeguinhos ao parque e vê a alegria das crianças, seu coração amolece. “Aí então, reunindo toda as forças, a gente sente que precisa continuar”, diz.


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