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Estado de Minas EDIFICAÇÕES

Sustentabilidade tem que ser pensada ainda na planta

Enquanto o cliente comum não está disposto a pagar mais caro por um apartamento verde, obras públicas dão o exemplo


postado em 30/05/2012 15:32 / atualizado em 01/06/2012 13:29

O setor de edificações é o que mais emite gases no planeta e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) defende que prédios públicos são modelos ideais para estimular a indústria da construção civil a adotar práticas sustentáveis. Em Belo Horizonte, dois exemplos bem diferentes mostram a aplicação desses princípios: a utilização dos painéis solares no Restaurante Popular do Barreiro e o uso de material originado de entulho reciclado nas obras do PAC/Vila Viva na Vila Califórnia, região noroeste da capital.

Entulho triturado pela SLU serve de base de pavimentação asfáltica em ruas da Vila Califórnia, região noroeste da capital(foto: Rogério Franca/Smurbe)
Entulho triturado pela SLU serve de base de pavimentação asfáltica em ruas da Vila Califórnia, região noroeste da capital (foto: Rogério Franca/Smurbe)
Com cerca de cinco mil moradores, a área da Vila Califórnia ocupa o fundo de um vale, que anualmente sofre inundações. Nas obras de infraestrutura e habitação financiadas pelo Programa de Aceleração Econômica (PAC), do governo federal, a base de pavimentação asfáltica de ruas, becos e da avenida Avaí, com previsão de conclusão até o final de 2012, está sendo executada com entulho triturado pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). De acordo com Marli de Oliveira Damas, engenheira da Pantheon Engenharia Ltda, empresa responsável por esta etapa das obras, o material reciclado tem muitas vantagens. "Além de resistente, tem boa compactação, é mais fácil de aplicar, provoca menos poeira e impede que o asfalto fique borrachudo, permitindo a infiltração adequada. Além de ser ambientalmente correto, esse material é mais barato que o minério de ferro utilizado tradicionalmente", explica a engenheira.

Segundo o Ministério das Cidades, a construção civil é responsável por mais da metade do volume de resíduos sólidos gerados em meios urbanos. Segundo Rogério Siqueira, diretor operacional da SLU, enquanto o sistema público aterra, por dia, um total de 3.200 toneladas, existe uma estimativa de que o setor de construção civil produza 5 mil toneladas/dias de entulho, ou seja, 56% a mais do que o lixo comum. Primeira capital a implantar o Programa de Reciclagem de Entulho da Construção Civil, em 1993, Belo Horizonte tem 32 Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVs) e três Estações de Reciclagem de Entulho - Estoril, Pampulha e Central de Tratamento de Resíduos. O entulho reciclável é triado e britado mecanicamente e pode substituir a brita e a areia em diversas aplicações. Em 2011, foram destinados às estações de Reciclagem de Entulho aproximadamente 102.000 toneladas de resíduos. "Hoje, temos capacidade para reciclar 500 toneladas/dia, ou seja, 10%. A Prefeitura está arcando com algo que não é de sua obrigação e a demanda é muito grande. É preciso que outras empresas invistam neste mercado", defende Siqueira.

Na visão das construtoras, ainda existe uma cultura a ser criada entre os investidores, daí a importância dos exemplos que vêm do poder público. "Na medida em que proliferarem novos projetos, as pessoas vão perceber que o preço de um imóvel verde pode até ser mais alto, mas existe uma economia a longo prazo, e não só para o planeta", explica Geraldo Jardim Linhares Junior, vice-presidente da área de materiais, tecnologia e meio ambiente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG). Segundo Linhares Júnior, o reaproveitamento de água e o uso de energia solar reduzem os valores do condomínio. Mas, enquanto o cliente comum ainda não está disposto a pagar mais caro, iniciativas como a inclusão dos painéis solares em programas como o "Minha Casa, Minha Vida" são importantes para mudar essa visão. "Obras já licitadas com essas características do prédio inteligente garantem o exemplo", defende. Linhares Júnior esclarece que, em função do fortalecimento da legislação, da fiscalização e das exigências de certificação, a gestão das obras mudou. As empresas associadas produzem uma média de 8% de resíduos. "Há 20 anos, tudo era muito abundante. Hoje, a areia, por exemplo, está muito mais cara e passou a pesar no orçamento. Mas apenas grandes obras investem em sistemas próprios de reciclagem", relata o representante do Sinduscon. "Aterrar os resíduos da construção civil é um grande desperdício. Uma obra inteligente permite degradar menos os rios e pedreiras. Uma obra inteligente não joga nada fora", rebate Rogério Siqueira.

Energia Solar e edificações inteligentes
De acordo com as recomendações da ONU para a economia verde, uma edificação inteligente tem que incluir alternativas energéticas, uma vez que um terço da energia utilizada no mundo é gasta dentro de prédios. No Restaurante Popular do Barreiro, inaugurado em 2010, o projeto contemplou a instalação de 234 placas de aquecimento solar, que são responsáveis por toda a energia utilizada na unidade para servir três mil refeições diariamente. De acordo com Jonas Alves de Abreu, encarregado de manutenção sênior dos restaurantes populares da PBH, a intenção era economizar energia, reduzir custos e, é lógico, poupar o meio ambiente. Até a água utilizada no banho dos funcionários é aquecida pelo sistema solar.

Um terço da energia utilizada no mundo é gasto dentro de prédios. Placas solares são alternativa sustentável(foto: Otacilio Lage/EM/DA Press )
Um terço da energia utilizada no mundo é gasto dentro de prédios. Placas solares são alternativa sustentável (foto: Otacilio Lage/EM/DA Press )
Uma das medidas para facilitar o acesso ao sistema solar é garantir a qualidade dos produtos. O Grupo de Estudos em Energia Solar (Green Solar) da PUC Minas, que existe desde 1997, é o único laboratório com simulador solar para ensaios internos da América Latina e também o único credenciado no Brasil para testar e certificar os coletores, que transformam energia solar em energia térmica, e os reservatórios para uso doméstico. O Green participa, junto ao Inmetro, Eletrobrás e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) de Coletores Solares. O grupo certifica também os fabricantes de equipamentos que concorrem às licitações públicas de coletores solares e reservatórios de água para o "Minha casa, minha vida". Dos dois milhões de unidades a serem construídas entre 2011 e 2014, 860 mil deverão conter obrigatoriamente o sistema, configurando o maior programa de aquecimento solar para moradias populares da América Latina.

Segundo a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), o Brasil tem, hoje, 7,3 milhões de metros quadrados de área acumulada de aquecedores solares instalados, o equivalente a 912 campos de futebol. É o sétimo parque solar do mundo (as primeiras posições são ocupadas por China, Estados Unidos e Alemanha), salientando um potencial inexplorado. De acordo com a coordenadora do Green Solar, professora Antônia Sônia Diniz, a combinação entre a conscientização da sociedade, a melhoria da qualidade dos produtos, a aproximação entre mercado e universidades e o investimento na indústria nacional podem facilitar o caminho para esse crescimento.

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