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Estado de Minas PESCA

Colônias de pescadores auxiliam na preservação da fauna aquática mineira

Programa Peixe Vivo atua na conservação da fauna de peixes e bacias hidrográficas, produção de conhecimento científico na comunidade


postado em 30/05/2012 14:38 / atualizado em 01/06/2012 19:43

Uma das formas de obter informações sobre os animais é a telemetria acústica. O peixe é marcado com um pequeno aparelho sonoro, que emite sons e cria uma imagem tridimensional do animal na água(foto: Divulgação Cemig)
Uma das formas de obter informações sobre os animais é a telemetria acústica. O peixe é marcado com um pequeno aparelho sonoro, que emite sons e cria uma imagem tridimensional do animal na água (foto: Divulgação Cemig)

“Tem que ter muito peixe, caso contrário ninguém vive. Queremos ver os cardumes cada vez maiores, alimentando as famílias, o turismo e a natureza”, explica Norberto dos Santos, 64 anos de idade e 53 de pesca na região de Três Marias, que inclui os municípios de Abaeté, Biquinhas, Morada Nova de Minas, Paineiras e Pompéu. São dois mil pescadores profissionais, que dependem da atividade para sobreviver. Nesta região, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) estabeleceu as primeiras ações do programa Peixe Vivo, em 2007, que depois foi estendido a outras regiões do estado. O programa atua em três frentes: conservação da ictiofauna (conjunto das espécies de peixes de uma determinada região) e bacias hidrográficas, produção de conhecimento científico e promoção do envolvimento da comunidade.

O programa foi criado após uma série de acidentes. Em anos como os de 2002 e 2004, a mortandade de peixes chegou a mais de 11 toneladas . Os valores de multas recebidas pela empresa em decorrência dos acidentes aumentou ao longo dos anos, saindo de R$100 mil em 2002 para cerca de R$10 milhões em 2007. De acordo com João Magalhães Lopes, analista ambiental da Cemig, os levantamentos realizados pelo setor elétrico demonstram que partidas de unidades geradoras e drenagem de máquina são as operações de maior risco para a fauna.

Após a análise dos dados de acidentes, foi implantada uma instrução de serviço específica para os funcionários das usinas, incluindo os aspectos ambientais no planejamento das manobras, além da obrigatoriedade de comunicação prévia à Polícia Florestal e ao Ministério Público. A metodologia de avaliação prévia de riscos à ictiofauna foi desenvolvida em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Várias outras medidas foram tomadas após a abertura do diálogo com a comunidade do entorno das 59 usinas hidrelétricas da Cemig em Minas, Espírito Santo e Santa Catarina. Exemplo disso é que, quando um pescador avista um cardume em direção à usina, ele entra em contato com os funcionários para avisar”, explica o analista.

Desde a implantação do Peixe Vivo, nenhum grande acidente foi registrado e houve queda de 87% na mortandade de peixes/mês. Mas, em 2011, ainda foi registrada 1,5 tonelada de peixe mortos, a maioria animais que conseguem acessar o tubo de sucção mesmo com a turbina em funcionamento. As soluções para o problema também estão sendo estudadas. Uma das formas de obter informações sobre os animais é a telemetria acústica, em que o peixe é marcado com um pequeno aparelho sonoro, que emite sons e cria uma imagem tridimensional do animal na água, permitindo acompanhar o caminho percorrido por ele até a usina. A ação é feita em parceria com a Universidade Federal de Lavras (Ufla) e o objetivo é marcar 200 peixes.

Na Escola de Barco à Vela, 150 crianças e jovens têm aulas de natação, vela, remo, educação ambiental e turismo (foto: Divulgação Cemig)
Na Escola de Barco à Vela, 150 crianças e jovens têm aulas de natação, vela, remo, educação ambiental e turismo (foto: Divulgação Cemig)
Outro projeto desenvolvido a partir das sugestões dos moradores é a Escola de Barco à Vela. Idealizado nos moldes do Projeto Grael, criado pelos irmãos Lars e Torben Grael e o velejador Marcelo Ferreira, em Niterói (RJ). A ação segue os princípios da iniciação esportiva, educação complementar e capacitação profissional. A escola recebe, por semestre, 150 crianças e jovens com idades entre 9 e 24 anos, que participam de aulas de natação, vela, remo, educação ambiental, turismo e manutenção de motores de popa. Três Marias foi o primeiro município do interior do País a receber a iniciativa. A ideia surgiu da preocupação das famílias, que apontavam a falta de perspectiva para as crianças e adolescentes da região. “Tudo está mudando. Nos anos 70, nem se falava em meio ambiente. Agora, garantindo a reprodução e abundância de peixes, queremos desenvolver mais o turismo associado à pesca”, planeja Norberto.

O Peixe Vivo inclui ainda o Projeto Pescadores do Saber, realizado pela Universidade Federal de Lavras (Ufla), que atende 300 crianças entre 6 e 11 anos, matriculadas do 1° ao 5° ano do ensino fundamental. Em aulas com 50 minutos de duração, os alunos recebem informações sobre os estudos desenvolvidos no Laboratório de Ecologia de Peixes da Universidade. “Muitas vezes, as crianças moram ao lado de um rio e não sabem nada sobre ele. O conhecimento e a participação nos peixamentos aproxima e estimula o respeito àquele ambiente”, explica Lopes. Além da educação dos pequenos, o Peixe Vivo investe na produção científica de alunos de graduação, mestrado e doutorado, formando recursos humanos e trazendo novas informações para a comunidade científica em temas como o comportamento, fisiologia, reprodução e ecologia das espécies nativas de peixes.

Pesca continental cresce no Brasil
A ictiofauna de água doce brasileira compreende, atualmente, cerca de 2.300 espécies descritas pela ciência, sendo 135 delas em extinção. A estimativa é de que exista uma riqueza muito superior ainda não conhecida. Minas Gerais é um dos estados com maior disponibilidade hídrica do País. Segundo dados do Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP) do Ministério da Aquicultura e Pesca (MAP), existem no Brasil 853.231 pescadores profissionais registrados e ativos. No sudeste, são 74.925 pescadores registrados, sendo 22.170 em Minas, 25.288 em São Paulo, 11.000 no Rio de Janeiro e 16.455 no Espírito Santo. De acordo com o último levantamento do MAP, realizado em 2010, Minas Gerais ocupa o oitavo lugar na pesca extrativa continental, com 8875 toneladas de pescado em 2009 e 9573 toneladas em 2010.

O Brasil ocupa o 18º lugar na produção mundial do pescado e o terceiro lugar na América do Sul, atrás de Chile e Peru. Em 2010, a produção de pescado do Brasil foi de 1.264.765 toneladas, um aumento de 2% em relação a 2009. A pesca extrativa marinha é a principal fonte de produção de pescado nacional, mas teve uma redução de 8,4% em relação a 2009. Por outro lado, a produção da pesca extrativa continental e a aquicultura continental tiveram alta em relação a 2009, com um acréscimo de 3,9% e 16,9%, respectivamente.

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