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postado em 26/07/2014 06:00 / atualizado em 23/07/2014 15:20

Sílvio Ricardo da Silva

Yasuyoshi Chiba/AFP Photo

A derrota humilhante do Brasil para a Alemanha, mais do que tirar o Brasil da final da Copa do Mundo, trouxe à tona a discussão sobre o modelo de organização do futebol brasileiro, marcado pela mercantilização e pelo afastamento gradativo dos segmentos mais pobres dos estádios, como mostra artigo do pesquisador Silvio Ricardo da Silva, do Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas, da UFMG. Para ele, o momento é o ideal para tirar de debaixo do tapete uma enorme sujeira.

"Em time que ganha, não se mexe!" Os cinco títulos mundiais conquistados pelos brasileiros ao longo desses 84 anos de Copas do Mundo e o título mais recente, em 2013, de campeão da Copa das Confederações, realizada no Brasil, ajudaram a empurrar para debaixo do tapete algumas "poeiras" que estão precisando ser amplamente debatidas e encaradas já há alguns anos. O tão propalado "país do futebol" aquietou o que clamava por discussões e ações. Ao contrário, a derrota acachapante sofrida pela Seleção Brasileira de Futebol diante da Seleção Alemã em 8 de julho no Estádio Governador Magalhães Pinto, o conhecido Mineirão, trouxe a necessidade de repensarmos o nosso futebol e debater alguns desses temas.

O primeiro deles, que me parece mais urgente, é o modelo de organização do futebol brasileiro. Havia muito tempo, o nosso futebol era enaltecido dentro dos campos (principalmente após 1958) e criticado fora deles, com argumentos que apontavam uma grande desorganização, uma administração centralizada, um personalismo doentio de seus dirigentes e a presença de um Estado antidemocrático que, por vezes, tentava tirar vantagem da popularidade do futebol.

Essas críticas ao modelo de organização do futebol brasileiro foram na década de 1990 um prato cheio para que o modelo neoliberal apresentado na gestão econômica do nosso país chegasse ao futebol, com a Lei Pelé, que substituía a Lei Zico, um primeiro ensaio desse atual cenário. A lei tinha o discurso de dar transparência e profissionalismo ao futebol nacional, disciplinar a prestação de contas por dirigentes de clubes e a criação de ligas, profissionalizar as gestões e conceder aos jogadores o direito ao seu passe.

Teoricamente, a lei buscava dar liberdade aos jogadores, que antes eram presos aos clubes. Na prática, atendeu aos interesses dos empresários de futebol, um grupo que se locupleta pelas transações de atletas, enfraquecendo, cada vez mais, os clubes, que se veem, em muitos casos, dependentes desses empresários para formar seus plantéis a cada semestre.

É a partir desse modelo de organização que os torcedores passaram a não terem mais seus times na "ponta da língua". O time muda a cada semestre, o pertencimento clubístico e a paixão são desrespeitados de forma vil, em nome do lucro de um grupo que pouco se importa com aquilo que diferencia o futebol dos outros esportes: o vínculo do torcedor com o clube do coração, o sentimento que passa de geração em geração, que ressoa como um valor, assim como a religião, e que não pode ser tratado apenas como negócio.

A categoria de base dos clubes não forma mais jogadores para os respectivos clubes e sim para serem vitrines desses empresários, que mediam transferências milionárias, visando ao lucro próprio. Tudo feito com pouca transparência e muita pressa.

Torço e acredito que o Estado se movimentará e mediará um diálogo com os clubes, com a mídia séria, com atletas e com a academia, que muito tem produzido, no sentido de frear essa lógica perversa e mercadológica, disfarçada de moderna, que vem acometendo o nosso futebol e dar uma nova diretriz. O futebol é parte da nossa cultura, um patrimônio caro para muitos brasileiros, e não deveria ser vilipendiado dessa forma por aqueles que o administram pensando nos seus respectivos lucros.

O futebol tem sido administrado pelas elites brasileiras. Dirigentes ricos, de famílias tradicionais. Raras são as exceções. E também pela mídia, com o monopólio de uma determinada empresa de comunicação. Assim sendo, trago aqui um segundo ponto a ser debatido e quiçá repensado: há uma tentativa de elitização do futebol. Em pesquisas que fazemos no Mineirão, vemos que um determinado grupo social (pessoas de menor poder aquisitivo) foi afastado do estádio. Há um grande grupo que permanece. São pessoas remediadas economicamente, que optam pelo futebol como seu lazer e apoiam seus clubes, mesmo com o alto valor do ingresso que tem sido cobrado. Esses torcedores por vezes se associam aos programas de fidelidade oferecidos pelos clubes ou passam a ir a jogos de tempos em tempos, sem aquela tradicional fidelidade que é marca do torcedor. Como pode um trabalhador ser frequente em um estádio com um jogo terminando à meia-noite? Tudo leva a crer que não se deseja esse grupo lá e que o que lhes sobra é acompanhar o seu clube do coração pela TV.

Esse enfraquecimento da relação do clube com o torcedor é, sob minha visão, um tiro no pé do nosso futebol. Todos nós queremos um estádio limpo, confortável, seguro, onde todas as pessoas se sintam à vontade e sem constrangimentos. Mas será que para termos esse modelo de estádio precisamos mesmo banir um determinado grupo social? Essa máxima da exclusão dos torcedores mais pobres, visando à presença de um torcedor consumidor, é algo que deve ser questionado. A média de público nos jogos brasileiros é baixa. Torcedor se forma é no estádio!

Temos possibilidade de contemplarmos uma diversidade considerável de torcedores nos estádios, fazendo a festa a que sempre fomos acostumados e mantendo acesa a paixão pelo futebol. Quem sabe a volta da geral, ou de outro espaço para que os torcedores se sintam mais à vontade, não seja uma boa opção? Na tão comentada Alemanha, muitos estádios dão a possibilidade de o torcedor ver o jogo em pé, com preços mais acessíveis. A média de público lá é três vezes superior à nossa.

Behrouz Mehri/AFP PHOTO


Por fim, após tratar do modelo de administração do futebol brasileiro e da relação imposta pelas elites dirigentes entre torcedores, estádios e clubes, quero me reportar a um terceiro ponto: sobre o que acontece dentro do campo. Tivemos, durante muito tempo, a fama de termos um futebol clássico, com toques e dribles requintados, muita posse de bola. Mas o que temos visto há algum tempo é que seleções como da Espanha, Alemanha e Holanda têm assumido essa característica. Além de serem times com uma excelente disciplina tática (característica há muito tempo conhecida), agora não mais dão aqueles chutões e chuveirinhos para a área.

Nesta Copa, nossa seleção sentiu a falta de um meio-campo que fizesse a ligação da defesa para o ataque. As bolas eram rifadas, na esperança de o Neymar dominá-las e chegar ao gol. O que mudou? Os países estrangeiros citados tiveram a humildade de formar jogadores para seus clubes e para suas seleções, aperfeiçoando o que era necessário e aprendendo o que não sabiam. A Copa mostrou que no futebol globalizado não existe mais o "time bobo" e que devemos buscar sempre nos aperfeiçoar, pelo bem do futebol. Fizemos o contrário nesta Copa. A nossa seleção acreditou que não precisava aprender nada com ninguém e que a nossa fama nos bastava. O futebol brasileiro depende de mais pesquisas e intercâmbios. As categorias de base não podem ficar sob a responsabilidade somente de ex-jogadores que não tiveram oportunidade de cursos de formação e que se apegam a máximas que são repetidas ao longo dos tempos, sedimentando verdades que não fazem sentido. A experiência de um ex-jogador é importante, mas ela tem que estar associada a um grupo interdisciplinar que veja o futebol pelos mais diferentes prismas e à luz de diferentes ciências. Não há mais espaço para o personalismo em uma comissão técnica. Trabalhar em grupo é essencial, respeitando a contribuição que cada área possa dar à equipe. Dessa forma, creio que o futebol brasileiro não será o mesmo e que esta Copa nos deixará um legado muito maior do que já vimos até agora. Trabalhar para ver!

. Silvio Ricardo da Silva é professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (GEFuT)
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