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Concluída há 10 anos, usina de Irapé viabilizou a automação de fazendas no Jequitinhonha

A eletricidade produzida em Irapé alimenta as máquinas dos agricultores do Vale

Paulo Henrique Lobato - Enviado especial , Juarez Rodrigues

Juarez Rodrigues/M/D.A. Press
Jequitinhonha e Turmalina – Juscelino Lodeiro, um lavrador de 64 anos de idade, ficou entusiasmado quando avistou pela primeira vez a usina hidrelétrica que homenageia o xará mais famoso, o ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976). Apelidada de Irapé e erguida sobre as águas do Jequitinhonha, a barragem é a mais alta do Brasil, com 208 metros de pedra sobre pedra.

Superlativos não faltam ao empreendimento, com potência instalada de 399 megawatts, reservatório de 137 quilômetros quadrados e capacidade para 6 bilhões de metros cúbicos de água. A usina foi concluída em 2006 e pode abastecer uma cidade com 1 milhão de habitantes. É muita gente, na visão de Juscelino. “Moço, aquilo é coisa gigante, bonita de a gente ficar admirando”, conta o lavrador, que, tal qual a barragem, foi batizado em homenagem a JK.

A eletricidade produzida em Irapé alimenta as máquinas dos agricultores do Vale, como na fazenda da família de Mafran Almeida, de 50, na área rural da cidade de Jequitinhonha. Em 2016, ele apostou na irrigação automatizada. O sistema custou R$ 12 mil e funciona em conformidade com o chamado horário verde, das 21h às 6h, período em que o governo concede desconto de até 70% na tarifa da energia elétrica.

“O investimento é recuperado em mais ou menos 5 anos. É essencial numa região carente de chuva. Mas, na hipótese de uma chuva com mais de 10 milímetros, a irrigação automatizada é programada para suspender o próprio funcionamento, uma vez que essa quantidade de água é suficiente para molhar o solo. Vale a pena o gasto”, recomendou.

Ainda mais, reforça Mafran, que a família perdeu, em outra propriedade, 50 cabeças de gado por causa da estiagem. A irrigação molha a lavoura de milho e a plantação de capim, usados no preparo da ração para o rebanho. O equipamento suga água no leito do Jequitinhonha e irriga 15 hectares. “Daqui a alguns meses, por causa do sistema que implantamos, a produção de leite aumentará”, comemora.

A energia elétrica essencial à renda de Mafran também garante benefícios a Juscelino, o lavrador que ficou encantado com a barragem da usina. Ele e os amigos têm como parte da renda a produção de farinha numa fábrica em Novo Peixe Cru, distrito de Turmalina. Cada quilo de aipim rende R$ 5. Lá funciona a velha máxima de que a união faz a força. A fábrica de farinha foi erguida pelo governo do estado em benefício de famílias carentes. As despesas são divididas pelos associados. Sentados em bancos de madeira, eles descascam as macaxeiras com cuidado e as levam para as máquinas de beneficiamento.

“A gente consegue parte da mandioca à meia com o dono da lavoura, ou seja, recebemos a colheita e descascamos tudo. Produzimos a farinha e entregamos metade para ele”, explicou Paulo Rocha, de 60. “Seria muito complicado fazer o produto sem as máquinas movidas pela energia de Irapé”, atestou Juscelino. Mas há caso surreal envolvendo a fornecedora de energia... Mas esta história é tema para da reportagem seguinte.

Juarez Rodrigues/M/D.A. Press