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Estado de Minas

Escola de Contagem é a única do Sudeste a receber verba para debater questão racial

Instituição receberá R$ 30 mil para desenvolver atividades que promovam a igualdade entre os alunos no período de 1 ano. Meta é ampliar relação com a comunidade afrodescendente e nivelar conhecimento de alunos


postado em 21/11/2014 06:00 / atualizado em 21/11/2014 07:12

Jéssica Ventura, de 9 anos, aluna da Escola Estadual Nair Mendes Moreira: ontem, pela primeira vez, ela estudou Zumbi dos Palmares, morto por defender a liberdade dos negros (foto: Cristina Horta/EM/D.A PRESS)
Jéssica Ventura, de 9 anos, aluna da Escola Estadual Nair Mendes Moreira: ontem, pela primeira vez, ela estudou Zumbi dos Palmares, morto por defender a liberdade dos negros (foto: Cristina Horta/EM/D.A PRESS)

As mechas dos cabelos de Jéssica de Jesus Ventura, de 9 anos, foram ornadas com laços de todas as cores. O penteado foi o pedido especial da menina à mãe para ir à escola no Dia da Consciência Negra, comemorada ontem. Para ficar pronta, foram necessários 30 minutos, mas a menina não se incomodou. “Gosto muito que minha mãe penteie meu cabelo assim”, disse, sem saber que o penteado é uma maneira de afirmação. Na tarde dessa quinta-feira, ao colorir um desenho, Jéssica tomava contato pela primeira vez com Zumbi dos Palmares, herói brasileiro conhecido por fundar o Quilombo dos Palmares, que foi morto há 319 anos para defender a liberdade do povo negro.

O contato de Jéssica com a história do herói que lutou contra a escravidão há mais de três séculos foi possível na tarde de ontem, porque a menina é uma dos 940 alunos da Escola Estadual Nair Mendes Moreira. A instituição foi a única da Região Sudeste selecionada no edital Gestão para Equidade – Juventude Negra, promovido nacionalmente pelo Instituto Unibanco. Localizada no Bairro Praia, em Contagem, na Grande BH, a escola receberá R$ 30 mil para desenvolver atividades que promovam a igualdade entre os alunos no período de 1 ano.

Um dos objetivos é ampliar a relação com a comunidade negra dos Arturos, fundada por Camilo Silvério da Silva, e vizinha de bairro da escola. “Ele foi um líder negro que veio trazido da Angola para cá no navio negreiro”, afirma Davidson Inácio Bruno, de 19, um dos descendentes que estudam na instituição. Na tarde de ontem, eles e seus colegas celebraram referências importantes para a conquista da liberdade dos negros, como Zumbi, no Brasil; Martin Luther King, nos Estados Unidos; Nelson Mandela, na África do Sul; e Bob Marley, na Jamaica. Ao lado de líderes históricos, não faltou espaço para negros que se destacam na atualidade, como o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa.

Outra ação prevista será o nivelamento de todos os alunos em matemática e português. “Temos percebido que as crianças afrodescendentes têm menos proficiência em matemática e português. O nosso objetivo é sanar as deficiências nessas duas matérias que são básicas. Assim, elas também terão melhor desempenho em geografia, física e história”, pontua Gizele Miranda Silva, professora de língua portuguesa. A valorização da cultura negra será por meio da proximidade com a comunidade dos Arturos. “Muitos alunos têm estereótipos sobre os Arturos. O que queremos é que eles possam conhecer um pouco mais da comunidade e assim conhecerem um pouco mais da própria história”, diz Rodrigo de Almeida Jorge, professor de física.

Davidson Bruno é descendente de líder negro que fundou a Arturos: comunidade também será estudada na escola(foto: Cristina Horta/EM/D.A PRESS)
Davidson Bruno é descendente de líder negro que fundou a Arturos: comunidade também será estudada na escola (foto: Cristina Horta/EM/D.A PRESS)

ÁRVORE GENEALÓGICA
As professoras de português pretendem trabalhar com literatura afro. Vão realizar atividades com autores negros que começaram a ser estudados devido à Lei 10.639, que instituiu o ensino da história e cultura afro-brasileira em toda a rede de ensino. “Tínhamos dificuldade de conseguir livros sobre literatura afro-brasileira. Tudo isso nos fez buscar mais referências”, afirma a professora de língua portuguesa, Patrícia Costa Mendes de Barros.

Outra forma de aprender sobre a cultura dos antepassados será a construção de árvores genealógicas. Para os professores, como muitos alunos têm forte presença negra na família, é importante reforçar o orgulho dessa ascendência. O corpo docente trabalha de forma integrada, procurando valorizar a cultura dos alunos, a maior parte oriunda da Vila Barroquinha.

A ideia é também enfrentar problemas que atingem esses jovens, como por exemplo a gravidez na adolescência. O tema é abordado de maneira inusitada e criativa. Para saber das responsabilidades que um filho acarreta, os jovens são convidados a tomar conta de filhotes de galinha. Tem que tomar conta dos pintinhos como se fossem bebês e ter cuidados como encontrar alguém para tomar conta deles quando sair, levar para vacinar, entre outros. “Procuramos nos aproximar dos alunos, falar a linguagem deles”, conclui o vice-diretor Arisson Flávio Ramos Ribeiro.


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