Paulista de Marília e morando em BH desde 2013, Fernanda Paes, de 19, já garantiu uma vaga em direito em duas faculdades particulares, mas fez o Enem para tentar a UFMG. Assim como boa parte dos candidatos, ela achou as provas de química e física, no sábado, mais complexas, e as de biologia, matemática e geografia, ontem, também complicadas. Assim como a maioria dos inscritos, Fernanda não esperava que fosse escrever sobre um assunto como publicidade infantil. “Mas acho que consegui analisar bem essa questão e falar sobre como a propaganda pode afetar a criança, sua formação, o que pode e o que não pode, e ao mesmo tempo conciliar essa coisa da liberdade de expressão e a proteção à criançada”, destacou.
MAIS POLÊMICA No câmpus da UFMG, na Pampulha, o tema da redação também virou assunto obrigatório depois das provas e dividiu opiniões. Para Maria Laura Tergilene, de 17, não poderia ter sido melhor. Recentemente, ela fez um trabalho sobre publicidade infantil no curso técnico de gestão empresarial do Sebrae e construiu a argumentação tendo como referência a legislação das propagandas voltadas para as crianças. Muitos candidatos esperavam que o tema fosse relacionado às manifestações de junho de 2013 ou à Copa do Mundo. Foi o caso de Natália Lavínia, de 19, que levou duas horas para fazer a redação. “Prefiro português e redação. Matemática estava bem difícil”, disse, esperando ter uma boa nota para ingressar no Pronatec ou tentar o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Mônica Gomes da Silva, de 19, nunca pensou nos impactos da publicidade no público infantil. “Felizmente não é um tema muito difícil, então consegui encontrar uma explicação”, disse. A candidata gostou dos temas abordados na prova de português, com questões sobre blogs e até mesmo o funk. No segundo dia foi bem menor o número de pais que aguardaram os filhos durante as cinco horas e meia de prova. A esteticista Marize Godinho, de 44, manteve-se firme à espera de Michele Godinho, de 18, apesar da longa duração do teste. “Ela é muito dedicada e estuda em uma escola muito boa. Estamos confiantes”, argumentou.
Postura de cidadão
Segundo o professor e coordenador da área de linguagens do Colégio Chromos, Rodrigo Fonseca, a redação do Enem 2014 cobrou uma “postura cidadã do candidato”. Assim como nos últimos anos, o tema abordado – Publicidade infantil em questão no Brasil – teve a ver com direitos humanos e sociais e esteve “dentro do usualmente cobrado no exame”. Fonseca considerou a redação “tranquila” para alunos capazes de desenvolver um texto acerca de questões éticas e cívicas.
Contudo, o professor destacou que estudantes que não se prepararam corretamente e esperavam temas triviais como Copa do Mundo e eleições não tiveram “a mesma condição dos demais e foram capazes apenas de fazer uma redação mediana”. “O Enem não dá mais margem para o candidato apostar em chutes”, diz. Ele comentou que os estudantes poderiam desenvolver os textos com base em práticas publicitárias indutórias, investimentos em educação e também nas relações familiares.
O assunto coloca o mercado publicitário e as entidades de defesa dos direitos da criança em lados opostos. Em abril, o Diário Oficial da União publicou a resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que considera “abusiva” a publicidade dirigida ao público infantil e redireciona a comunicação mercadológica para os adultos, fato que não foi bem aceito no meio da publicidade e propaganda. (Marcus Celestino)