A velha história de que os mineiros não conseguem transpor as montanhas e vivem enraizados na própria terra não faz sentido para 6.725 estudantes, que literalmente romperam barreiras. Minas Gerais é segundo estado com maior número de participantes do Ciência sem Fronteiras (CsF), programa do governo federal que financia bolsas de estudos em 27 países. Os mineiros representam 17,5% dos 38.272 estudantes que estão fora do Brasil ou já retornaram do intercâmbio, incluindo alunos de graduação e pós-graduação. E para garantir a oportunidade de aprender ou aperfeiçoar outro idioma em instituições de excelência, muitos apelam à Justiça. Pelo menos 30 do estado carimbaram o passaporte para o programa por meio de liminar. No Brasil, foramcerca de 300 bolsistas.
Em decisão sobre um dos casos, o juiz Márcio Barbosa Maia, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por exemplo, afirma que a alteração no regramento deveria levar em conta tempo suficiente para quem “ingressou no curso superior por outra via (que não o Enem), ou que se submeteram ao Enem anteriormente a 2009, pudessem se submeter ao exame, com tempo hábil para obter avaliação e assim participar do programa”, afirmou o magistrado.
Aluno de engenharia mecânica do Centro Universitário Newton Paiva, Arthur Campolina conseguiu na Justiça uma bolsa para a Austrália. “Eu só tinha o Enem de 2008 e, de repente, me vi prestes a perder a oportunidade. Havia me dedicado muito para conseguir o intercâmbio, mudei a minha grade na faculdade e fiquei o semestre inteiro estudando inglês”, contou o estudante. Mesmo com a liminar, ele fez o Enem deste ano, apesar de o resultado estar previsto apenas para o início de 2014. Com quase 90% do curso concluído, esta seria a última chance para Arthur participar do CsF. Ele embarca em fevereiro, quando começa o curso de inglês. Depois de cinco meses, fará teste de aptidão para a cursar um ano na Universidade do Sul da Austrália (Unisa), em Adelaide. “Jamais teria a oportunidade de estudar no exterior. Foi como ganhar na Mega-Sena”, disse.
DEFESA “Estamos contestando todos os casos que entram na Justiça. Uns ganharam, outros perderam, mas ainda não houve julgamento decisório”, informou Glaucius Oliva, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), instituição que gere o programa com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Segundo ele, o Enem é o critério nacional e republicano encontrado pelo governo para comparar estudantes.
Até o fim do ano, o programa chegará a 55 mil bolsas, com meta de mandar para o exterior até 2015 101 mil estudantes de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Além da mensalidade em moeda local, são concedidos auxílio-instalação, seguro-saúde, passagens aéreas e auxílio-material didático, para compra de computador portátil ou tablet.
Com investimentos de R$ 5 bilhões, o CsF foi lançado em 2011 para fomentar o intercâmbio de universitários brasileiros em estudos e pesquisas nas áreas de tecnologia, inovação, ciências, saúde e meio ambiente. “Temos atingido média de interessados correspondente a três vezes o número de selecionados. Quem participou tem taxa de satisfação acima de 90%”, ressalta Glaucius, que destaca a participação dos mineiros. “As universidades têm motivado bastante o programa.”
OPORTUNIDADE
O estudante do 5º período de engenharia elétrica da UFMG Luís Felipe Simão, de 23, está se adaptando à volta ao Brasil, depois de um ano na Universidade de Brigthon (Inglaterra). “Foi uma experiência sensacional. A estrutura é excelente, laboratórios ótimos e ainda tive a oportunidade de fazer estágio numa empresa que prestava serviços para o Ministério da Defesa britânico”, conta. “O intercâmbio abrirá muitas portas”, imagina.
SANDUÍCHE
Terminam no dia 29 as chamadas para graduação-sanduíche do Ciência sem Fronteiras no Reino Unido, Bélgica, Canadá, Holanda, Finlândia, Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Espanha, EUA, Alemanha, França, Itália, Suécia, Noruega, Irlanda, China, Hungria, Japão e Áustria. A bolsa custeará o aluno por até 12 meses em tempo integral. Na China, a permanência é de até 24 meses. Mais informações no www.cienciasemfronteiras.gov.br.
ESTUDOS NO EXTERIOR
São Paulo envia mais e EUA recebem mais bolsistas
EXIGÊNCIAS
» Ter nacionalidade brasileira
» Apresentar perfil de aluno de excelência, baseado em bom desempenho acadêmico
» Ter cumprido no mínimo 20% e no máximo 90% do currículo previsto para seu curso no momento do início da viagem de estudos
» Nota do Enem igual ou acima de 600, emteste feito a partir de 2009
» A inscrição deve ser feita na instituição de ensino superior do aluno
PRINCIPAIS ORIGENS PRINCIPAIS DESTINOS
São Paulo.............8.493 Estados Unidos.....8.863
Minas Gerais.........6.725 França.................4.320
Rio de Janeiro.......3.448 Canadá................3.795
Rio Grande do Sul....3.441 Reino Unido............3.702
Paraná..................2.496 Austrália..............3.028