Apesar das críticas comuns em Portugal, “o acordo ortográfico da língua portuguesa entrou em vigor nas escolas no ano letivo 2011/2012, e está progressivamente a ser adotado nos manuais escolares e na avaliação externa”. A informação é do ministro da Educação e Ciência de Portugal, Nuno Crato.
Para quem defende a reforma ortográfica em Portugal, o ensino com base nas novas regras de escrita é o principal sinal de que o acordo segue o rito de implementação normal e vai ter pleno uso em futuro breve em Portugal. “O fundamental é olhar para isso com uma perspectiva de futuro e não de passado”, pondera Luís Reto, reitor do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e coordenador do livro “Potencial Econômico da Língua Portuguesa”. “No futuro, já com duas gerações que estão sendo escolarizadas dessa maneira, o problema deixara de existir”, calcula.
“Ninguém está livre de ter de viver aqui em Lisboa ou em Ilhéus, na Bahia”, diz Amaral referindo-se ao cenário da novela Gabriela (TV Globo) atualmente veiculada em Portugal. Para o escritor, a tecnologia ajuda na adoção da nova grafia, “o corretor ortográfico nos auxilia imenso”; e a resistência não se justifica nem mesmo entre os que vivem do ofício de escrever. “O nosso cérebro é um mecanismo que funciona com hábito. Demora tempo para mudar, mas não é razão para não fazerem [a reforma], nem penso que seja uma coisa desagradável”.
O também escritor José Luís Peixoto (autor de “Cemitério dos Pianos” e de “Uma Casa na Escuridão”) sublinha que o acordo ortográfico é “chamado pelo o que menos é: um acordo. Parece um grande desacordo com posições muito extremadas, às vezes irredutíveis de um e de outro lado”. Ele confessa ver “aspectos positivos e aspectos negativos”, mas salienta que a grafia não é o mais importante para quem vive do ofício de escrever. “O que me parece mais cativante na escrita e na linguagem são questões que estão além da ortografia”.
Para Domingos Amaral, a discussão sobre a adoção do acordo ortográfico “é um tema já cansativo”, com a discussão (iniciada na década de 1990) se repetindo. Conforme disse à Agência Brasil, os argumentos contra o acordo “são de um fundamentalismo purista que não quer mudar, ponto final e parágrafo! É de quem não aceita que a língua é algo vivo e que evolui”. Ele lembra que “um acordo pressupõe que haja desistências mútuas”, assim como “tentativas de compromisso para que o resultado final seja útil para todos”.
A mesma crítica faz o reitor Luís Reto. “São princípios do purismo que têm a ver com duas coisas: com uma obsessão absolutamente ridícula de que 'nós [portugueses] somos origem e, portanto, nos não mudamos, que mudem os outros'; e com uma visão nacionalista arcaica e conservadora”.