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Estado de Minas

Defesa experimenta fogo 'amigo' durante o segundo dia do júri de Bola, em Contagem

Até testemunhas chamadas pela defesa complicam situação do acusado de executar Eliza Samudio. Porém, foi depoimento de ex-colega de prisão o que mais pesou contra o réu


postado em 24/04/2013 06:00 / atualizado em 24/04/2013 06:40

Parcialmente encoberto por policial, detento Jailson é questionado pelo advogado Ércio Quaresma, sob olhar de reprovação de Bola(foto: Renata Caldeira / TJMG)
Parcialmente encoberto por policial, detento Jailson é questionado pelo advogado Ércio Quaresma, sob olhar de reprovação de Bola (foto: Renata Caldeira / TJMG)

O segundo dia de depoimentos no julgamento de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de executar Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes de Souza, parece não ter sido favorável ao réu, embora duas das três testemunhas ouvidas ontem tenham sido convocadas pela defesa. Tanto o deputado estadual Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, quanto o corregedor da Polícia Civil, delegado Renato Patrício, chamados pelos defensores, deram testemunhos que atingem a imagem de Bola, ao envolvê-lo em conduta inadequada ou mesmo em outros crimes. Porém, foi a última testemunha de acusação a ser ouvida em plenário, o preso Jailson de Oliveira, quem deu o depoimento mais contundente contra o suposto executor de Eliza.


Jailson e Bola cumpriram cerca de três meses de pena na mesma ala da Penitenciária Nelson Hungria. A testemunha afirma que recebia o réu em sua cela para assistir a TV, e que a conversa sobre a morte de Eliza surgiu quando assistiam a uma reportagem sobre buscas pelo corpo em uma lagoa de Esmeraldas. Segundo Jailson, Bola disse que a polícia só descobriria o corpo “se os peixes falassem”. O preso quis saber por que e Bola teria dito que queimou o corpo dela envolto em pneus, no chamado micro-ondas, jogando as cinzas na água. O detento reafirmou também que denunciou o ex-policial ao saber de um suposto plano para matar a juíza Marixa Fabiane, que preside o julgamento, e outras autoridades.

A defesa repetiu perguntas por várias vezes, na tentativa de que Jailson caísse em contradição. Ele, porém, manteve suas declarações. O promotor Henry Wagner Vasconcelos gostou do depoimento. “Ele não é nenhuma madre Tereza de Calcutá, mas contribuiu.”

Já Ércio Quaresma explorou a ficha criminal do preso e outros procedimentos em que Jailson figura como delator, como forma de demonstrar que a testemunha não é confiável. A defesa tenta mostrar também que Jailson se beneficiava das delações, já que, mesmo condenado a 37 anos em regime fechado, inclusive por latrocínio (roubo seguido de morte), ele fazia trabalhos fora do presídio. Segundo Quaresma, um policial experiente como Bola não seria “imbecil” para “vomitar aquilo tudo” sabendo que se tratava de um “x-9” (delator). Já a promotoria pediu que constasse em ata uma frase dita pelo detento: “O Bola não sabia que eu sou caguete”.

Para o advogado Fernando Magalhães, outro defensor de Bola, o depoimento de Jailson foi favorável. “Ele caiu em contradição e ainda vai levar um processo por falso testemunho, porque confirmou que escreveu carta ao presidente do Supremo Tribunal Federal dizendo-se inocente, mas um minuto depois admitiu que tinha sido condenado por alguns crimes”, afirmou. “A delegada Ana Maria também nos beneficiou, ao afirmar que não havia sequer uma prova de que ela foi morta na casa de Marcos Aparecido”, disse, referindo-se a depoimento da véspera.

Jailson também implicou definitivamente no crime o policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, e o agente da ativa Gilson Costa, investigados em inquérito complementar por envolvimento na morte de Eliza. Os dois seriam ligados a Bola e teriam feito ameaças à testemunha em duas ocasiões.

ANTAGONISMO Acusação e defesa fizeram avaliações bem distintas sobre o resultado dos depoimentos de ontem. Para o promotor Henry Vasconcelos, pesaram contra Bola declarações sobre o envolvimento dele e de três policiais civis nas  mortes e desaparecimento dos corpos de duas pessoas no centro de treinamento do Grupo de Resposta Especial (GRE), extinta força de elite da Polícia Civil, em Vespasiano. Também não soaram bem frente ao conselho de sentença, avaliou, a exposição da vida pregressa de Bola e suas expulsões das polícias militares de Minas e de São Paulo, além da última, em 1992, quando foi exonerado da Polícia Civil mineira por ter omitido as saídas anteriores.

Advogados do ex-policial, no entanto, acreditam que as informações prestadas não podem incriminar Bola e, pelo contrário, desconstróem a figura de culpado com que ele já entrou no tribunal. “O deputado Durval Ângelo foi claro ao afirmar que as investigações iniciais sobre o caso do GRE não incluíam o nome de Marcos Aparecido. Somente por meio de testemunhas é que ele foi citado”, lembrou Fernando Magalhães. O defensor de Bola diz que a ficha dele na polícia não pode incriminá-lo no caso em julgamento e garante que seu cliente não vai confessar, pois é inocente. Magalhães espera que os trabalhos sejam concluídos até sexta-feira.

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