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Estado de Minas

Julgamento dá espaço para quem quer ganhar fama


postado em 07/03/2013 07:11 / atualizado em 07/03/2013 07:20

Psicólogo João Ferreira Pinto exibiu um cartaz para atrair os jornalistas(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Psicólogo João Ferreira Pinto exibiu um cartaz para atrair os jornalistas (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

O vaivem de advogados e jornalistas na frente do fórum de Contagem, que entretém curiosos desde o início do julgamento de Bruno e Dayanne, nunca atraiu tanta gente quanto ontem. A cada hora que passava, a aglomeração aumentava. As pessoas se espalhavam no estacionamento, no gramado e nas calçadas. Famílias, grupos de amigos, casais de namorados, vendedores de picolé... E pessoas que queriam fama, ainda que fosse breve e minguada.

Na calçada que margeia a Avenida João de Deus Costa, em um dos pontos mais cobiçados pelo público, sentou-se a família da comerciante Taís da Silva Costa, de 30 anos. Quando começou a chover, à tarde, o pessoal armou dois guarda-chuvas e continuou por lá, atento. “Deixei o carro na oficina aqui perto, para trocar o óleo. Enquanto isso, viemos dar uma olhada”, explicou a moça. “A gente fica curiosa, queria ter mais tempo pra ficar aqui”, disse a mãe de Taís, a artesã Maria Rita Silva Costa, 58. “Devia ter um telão, para a gente ver o que tá ocorrendo lá dentro”, sugeriu outra filha de Maria, a cabeleireira Tânia da Silva Costa, 37. O grupo ainda incluía João da Costa Neto, de 12, e Thalyson Henrique Sousa, de um ano, respectivamente filhos de Tânia e Taís.

De repente, um pandeiro dourado começou a soar, logo acompanhado por uma voz pungente e meio rouca. “Sou ourives, mas também trabalho como showman. Aqui, estou apenas cantando”, disse, no intervalo entre uma música e outra, Milton Dias, de 70 anos. Mesmo calado, ele e seus óculos escuros espelhados chamariam a atenção. Os cabelos longos e um tanto grisalhos escapavam do boné azul. Amarrado em volta das calças, um barbante laranja fazia as vezes de cinto. Os bigodes finos pareciam nascer de dentro das narinas. “Vim aqui para servir de testemunha de Bruno, mas não me deixaram entrar. Muitas pessoas compram a lei neste país, seria injusto se só ele se desse mal”, defendeu, sem deixar claro se falava sério. Depois, de pé a um canto do estacionamento, Milton voltou a cantar, a gritar, a se contorcer, para delírio de parte dos presentes.

“O pior é quem mandou matar”, defendeu um jovem de cabelos longos, camiseta preta e uma garrafa de cerveja na mão, no meio de um grupo de pessoas que havia acabado de conhecer, no estacionamento do fórum. “Não, é quem matou. O Bola tinha que pegar mais anos de cadeia que o Bruno”, discordou uma mulher. “Mas foi o Bruno quem mandou matar”, sustentou o rapaz. A discussão estava com jeito de que não acabaria tão cedo.


Sempre que os jornalistas corriam em bloco atrás de algum entrevistado, muita gente seguia atrás. Alguns dos curiosos até se ofereciam para falar. “Eu quero é ficar famosa”, admitiu uma moça. Outro arrumou um jeito peculiar de atrair os repórteres. “Felipão, por favor! Espere pelo Bruno”, estava escrito no cartaz que João Ferreira Pinto, de 58 anos, segurava. “Esse cartaz é só pra chamar a atenção”, admitiu. O objetivo do psicólogo aposentado não era pedir a condenação de Bruno, nem sua absolvição. “Mas acho uma injustiça usar esse caso para esquecer a cachoeira de coisas erradas que estão acontecendo em Brasília. Esse julgamento está desviando o olhar do brasileiro, que tem coisas mais importantes com que se preocupar”.

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