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Estado de Minas

Jogo perigoso durante o julgamento de Bruno

Conselho de sentença formado por maioria de mulheres e depoimento negativo levam o goleiro a tentar destituir defesa e desmembrar o júri, mas juíza nega


postado em 21/11/2012 06:00 / atualizado em 21/11/2012 16:11

(foto: Paulo Filgueras / EM/ D.A Press)
(foto: Paulo Filgueras / EM/ D.A Press)

O segundo dia do julgamento complicou mais ainda a situação de Bruno Fernandes e dos outros acusados da morte de Eliza Samudio. Nova manobra resultou em outro desmembramento do processo. O goleiro tentou reverter a derrota sofrida pela sua defesa no primeiro dia do júri, como a maioria feminina (seis mulheres e um homem) na formação do conselho de sentença, o que pode contribuir para sua condenação. Além disso, o depoimento contraditório de Clayton Gonçalves, ex-motorista de Bruno, foi considerado negativo também. Ontem, mais três depoimentos comprometeram o goleiro, inclusive o do detento Jaílson Oliveira, que disse ter ouvido a confissão de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, sobre o assassinato de Eliza num sítio. Ainda ontem, o promotor Henry Vasconcelos soube que testemunhas de defesa usaram celular no hotel e pensa pedir a impugnação deles no processo.

Logo no início da sessão de ontem, Bruno pediu a destituição de Rui Pimenta e dos demais advogados de defesa na expectativa de que seu julgamento fosse adiado, assim como ocorreu na segunda-feira com o de Bola. Mas a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues impediu a jogada do goleiro aceitando apenas a destituição de Rui Pimenta e Marcos Vinicius Pimenta, mantendo Francisco Simim, e desmembrou apenas o júri da ex-mulher de Bruno, Dayanne Souza, que será julgada em outra data. Simim então convocou o advogado Tiago Lenoir Moreira para auxiliá-lo na defesa.

Antes de abrir a sessão, a juíza anunciou que os advogados Ércio Quaresma, Zanone Oliveira Júnior e Fernando Magalhães, que abandonaram a defesa de Bola, serão multados em R$ 18.660 cada, por ausência sem justificativa legal, conforme o Código de Processo Penal. O valor corresponde a 30 salários mínimos. A juíza lembrou que houve gastos para realização do julgamento, trabalho dispendioso da Justiça. Além disso, acrescentou, os defesonres atentaram contra a ética dos advogados. “Faltou profissionalismo”, disse Marixa.

A sessão de ontem foi aberta às 9h25. Quando se preparava para ouvir a primeira testemunha da acusação, João Batista Alves de Oliveira, a juíza atendeu o pedido de Bruno para falar antes com Simim, e Carla Silene Cardoso, advogada da ex-namorada do goleiro Fernanda Gomes de Castro. Ele decidiu então destituir Rui Pimenta e o outro defensor “por se sentir inseguro” e pediu prazo à juíza para escolher novo advogado. “O senhor pode contratar outro advogado no curso do julgamento”, disse Marixa ao goleiro.

Primeira a depor ontem, a delegada Ana Maria dos Santos, que também investigou o caso, revelou como Eliza teria sido assassinada e tido parte do seu corpo jogado para cães, repetindo a versão de um primo de Bruno ouvido pela policial. O primo, menor na época, contou que Eliza foi mantida vigiada o tempo todo no sítio do goleiro. Disse que ele, outro primo do goleiro, Sérgio Rosa Sales, e Macarrão levaram Eliza e o bebê para casa de um homem conhecido como Bola ou Neném, em Vespasiano, onde foi assassinada. “Segundo o menor, Neném passou a ter um diálogo com Eliza, pediu para ela ficar tranquila, que ele era policial, e que Macarrão teria dito que aquele senhor seria o responsável para levá-la ao apartamento onde ela residiria com o bebê”, disse a delegada.

Bola teria pedido a Macarrão para amarrar as mãos de Eliza para trás e que ela foi chutada depois. “Disse que o moço deu uma gravata do pescoço de Eliza, que ela foi perdendo o fôlego, seus olhos ficaram arregalados, avermelhados feito sangue, com a língua para fora e colocando espuma pela boca, até cair morta. O menor narrava e ameaçou chorar, ofegante, e pediu para segurar a minha mão”, disse Ana Maria.

Ainda conforme ela, o adolescente ficou alterado emocionalmente e disse que as lembranças perturbavam o seu sono, motivo pelo qual ele havia procurado um tio no Rio de Janeiro para desabafar. A delegada negou que o jovem tenha sofrido qualquer tipo de coação no depoimento. Segundo ela, o menor relatou que Bola saiu com o corpo de Eliza e que voltou com ele em um saco. “Bola teria dito que não era para ninguém se preocupar mais, pois ele daria um fim ao corpo, tirando de dentro do saco o que o menor identificou como sendo uma mão humana e a jogou para os cães, que se ajuntaram e alimentaram”, contou Ana Maria.

DEPOIMENTOS A segunda testemunha de acusação foi João Batista Alves de Oliveira. Ele disse que em 2010 estava numa padaria ao lado da Delegacia de Homicídios de Contagem e foi escolhido aleatoriamente por um policial civil para acompanhar o interrogatório do ex-motorista de Bruno, Clayton Gonçalves. Na ocasião, ele relatou um comentário de Sérgio Sales, primo de Bruno, de que “Eliza já era”, dando a entender que ela já estava morta. Depois, disse que foi coagido pelos policiais para dizer o que disse.

 João Batista negou que Clayton tenha sofrido  constrangimento e que o depoimento foi espontâneo. “Achei a delegada muito à vontade, educada, segura e tranquila”, disse João Batista, referindo-se Alessandra Wilke, que deu início às investigações. “Não percebi nenhuma ameaça”, reforçou.

O QUE PESA CONTRA BRUNO

Fatos negativos para o goleiro depois de dois dias de julgamento

Maioria de mulheres no conselho de sentença (são seis e um homem).


Depoimento de Clayton, que se contradisse várias vezes sobre horários e pessoas que estavam no grupo com Eliza que chegou do Rio e foi para Ribeirão das Neves.

Juíza Marixa Fabiane travou manobra de Bruno para ficar sem advogado e desmembrar o julgamento dele.

Depoimento de João Batista, que disse que Clayton não foi coagido pela polícia para afirmar que ouviu de Sérgio Sales, primo de Bruno, que “Eliza já era”.

Depoimento da delegada Ana Maria Santos, que confirmou a versão de um primo menor de Bruno sobre a morte.

Depoimento do detento Jailson Oliveira, que diz ter ouvido no presídio a confissão de Bola sobre a morte de Eliza.

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