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Estado de Minas

Dinheiro para combate à seca não chega no Norte de Minas

Há anos que a população de Taiobeiras (30,35 mil habitantes), no Norte de Minas, é castigada com a escassez de água, perdas nas lavouras e o desemprego


postado em 16/12/2012 07:48 / atualizado em 23/04/2013 09:40

Vista da Barragem de Berizal, no Norte de Minas. A barragem comecou a ser implantada no Rio Pardo, em 1998, e está parada há anos (foto: Renato Lopes/Especial para o EM - 15/06/2007 )
Vista da Barragem de Berizal, no Norte de Minas. A barragem comecou a ser implantada no Rio Pardo, em 1998, e está parada há anos (foto: Renato Lopes/Especial para o EM - 15/06/2007 )

A construção de barragens é considerada como uma ação eficaz para a amenizar o sofrimento no semiárido, por garantir a oferta de água, gerar emprego e fixar o homem no campo, impedindo o êxodo rural. No entanto, em muitos lugares, há décadas, as barragens ficaram somente nas promessas ou nos projetos iniciados e nunca concluídos, com a população flagelado ficando na dependência de caminhões-pipas e da distribuição de cestas básicas nos períodos críticos de estiagem, perpetuando a chamada “indústria da seca”.

Há anos que a população de Taiobeiras (30,35 mil habitantes), no Norte de Minas, é castigada com a escassez de água, perdas nas lavouras e o desemprego, sendo ostensiva a saída de moradores em busca do sustento em outras plagas. Em outubro e no início de novembro deste ano, por conta de uma das piores secas da história, toda população de Taiobeiras teve que ser atendida por caminhões-pipas durante mais de 20 dias. As condições de vida dos moradores e a economia da região já poderiam ter sido melhoradas se tivesse sido construída a barragem de Berizal, no Rio Pardo, a 40 quilômetros da cidade. Acontece que a obra, iniciada há 14 anos com recursos do Governo Federal, ficou no meio do caminho. Ela está parada há cinco anos, devido ao impedimento da liberação de recursos por problemas no licenciamento ambiental e na indenização e no reassentamento de proprietários de terras a serem inundadas.

O prefeito de Taiobeiras, Denerval Germano da Cruz (PSDB), afirma que a barragem de Berizal não sai do papel pela falta de vontade política e incapacidade dos governantes no enfrentamento do flagelo da seca. “É preciso parar de dar esmola e cesta básica para o povo. Não podemos ficar somente no caminhão-pipa. O problema da seca só é resolvido com água e barragens. É preciso dar opção de trabalho para o sertanejo. Sabemos que o investimento nessa área é muito pequeno diante dos resultados. Mas, falta planejamento e vontade político. Esse descaso só alimenta a indústria da seca”, denuncia Cruz.


Ele afirma que foram investidos mais de R$ 30 milhões na parte da ferragem e na parte de concreto da barragem de Berizal, mas o material está sendo depreciado pela ação do tempo enquanto a obra continua parada. “O grande problema da barragem de Berizal é a má gestão”, dispara o prefeito de Taiobeiras. Ele responsabilizou o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), pelo fato de a obra continuar parada. A reportagem tentou, mas não conseguiu contato com a coordenação regional do Dnocs em Minas, instalada em Montes Claros.

Durante visita que fez a Rio Pardo de Minas (a 45 quilômetros de Taiobeiras), para lançamento de um programa de saúde bucal, em agosto deste ano, a presidente Dilma Rousseff recebeu vários pedidos para a construção de barragens e outros investimentos na melhoria dos recursos hídricos da região, mas não se manifestou sobre o assunto.
Espinosa (31,2 mil habitantes) é outro município do Norte de Minas que, ano a ano, sofre os efeitos danosos da estiagem. Em setembro deste ano, por vários dias, as torneiras da cidade secaram, com os moradores sendo abastecidos com caminhões-pipas. O problema se agravou porque a barragem de Estreito – que abastece o município – teve o seu volume muito reduzido, ficando com apenas 6% de sua capacidade. Além do fato de a região ter vivido uma das piores secas da história, o nível da água reduziu muito por causa do assoreamento.

“Foi a primeira vez na minha vida que vi essa barragem num nível tão baixo”, testemunhou o aposentado Antonio Cardoso Sobrinho, de 78 anos, da comunidade de Sussuarana, ao lado da barragem, localizada no Rio Verde Pequeno, na divisa de Minas Gerais com a Bahia. Ele disse que trabalhou na “abertura da picada” para a construção da obra, concluída em 1968.
O secretário municipal de Agricultura de Espinosa, Nilson Faber, disse que, há mais de 15 anos, existe um projeto para se construir uma barragem em outro ponto do Rio Verde Pequeno (acima da cidade de Espinosa) e que resolveria em definitivo o problema do abastecimento da cidade nos períodos críticos da estiagem. O local da barragem chama atenção pelo nome “Ponto do Impossível”.

Faber disse desconfia que o nível da barragem de Estreito tenha se reduzido tanto porque houve na região o aumento, de dois para quatro, do número de núcleos de pequenas irrigações, voltados para pequenos produtores, que retiram água do reservatório. Os núcleos de irrigação são administrados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf). O secretário municipal salienta que, há algum tempo, foi construída uma outra barragem, na localidade de Cova de Mandioca, no município de Urandi (já na Bahia), que foi interligada à barragem de Estreito. Ele considera que a intervenção também contribuiu para diminuir o nível do lado de Estreito. “Acho que houve um problema de falta de gestão. Este é o grande problema do setor público. As coisas são feitas sem planejamento ou sem embasamento técnico”, critica Nilson Faber.

Ainda segundo ele, a barragem do “Impossível” teria como finalidade exclusiva abastecer Espinosa, com as barragens de Estreito e de Cova de Mandioca sendo voltadas somente para a irrigação. Além de Espinosa e Taiobeiras, outros municípios do Norte de Minas esperam há anos por construções de barragens, que nunca saem do papel. É o caso de Monte Azul.  O exemplo de que a construção de uma obra pode resolver o problema da falta de água e gerar empregos e renda é mostrado pela barragem do Bico da Pedra, no rio Gorutuba, entre os municípios de Janaúba e Porteirinha. Além de garantir o abastecimento das duas cidades, o Bico da Pedra também garantiu a implantação do projeto de irrigação do Gorutuba, onde são gerados centenas de empregos. Neste ano, por causa da seca severa, Bico da Pedra atingiu um nível muito baixo.

“As barragens são fundamentais para melhoria da produção em regiões secas. No Nordeste, foram construídos vários açudes. No entanto, no Norte de Minas, ainda existe um déficit em relação a isso”, avalia o produtor Alexandre Viana, ex-presidente da Sociedade Rural de Montes Claros. “Devemos lembrar que desde a pré-história, as civilizações cresceram ao longo dos cursos d água. Por isso, a construção de barragens e a revitalização dos rios são muito importantes. Ninguém vive sem água”, observa o técnico Reinaldo Nunes de Oliveira, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG).

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