A tendência é que a nova estrutura da mineradora Vale, que deixa de ter um controlador definido e passa a ingressar no chamado Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), nível de governança corporativa mais elevado, torne os papéis da companhia mais valorizados.
A mudança, de acordo com especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, é benéfica tanto para grandes quanto pequenos investidores, inclusive aqueles que usaram o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para comprar ações da companhia.
Um dos termos do acordo prevê a conversão de ações preferenciais da Vale, sem direito a voto, em papéis ordinários, que dão direito a voto.
“As mudanças são benéficas e, para quem já tinha ação ordinária, os papéis vão continuar e ainda ganhar no ambiente do novo mercado, pois acredito que a empresa terá mais liquidez, será melhor vista pelos investidores estrangeiros e as ações vão se valorizar”, afirma o professor da Universidade de São Paulo (USP) José Roberto Savoia.
O especialista aposta que a alteração leve à adoção de práticas mais transparentes pela mineradora. Ele também afirma que, para acionistas que ainda detêm ações preferenciais, as condições para conversão estão bastante favoráveis.
A pulverização da Vale passa a valer com a incorporação da Valepar, holding que reúne o bloco de acionistas controladores formado por fundos de pensão estatais, BNDESPar, Bradespar e Mitsui.
A conversão, além de possibilitar a entrada da mineradora no novo mercado, torna o governo acionista minoritário. O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, afirmou que a operação afasta a interferência de governo e seus impactos sobre a Vale. Antes da conversão, ele reforçava que a presença estatal interferia negativamente no valor da companhia.
O analista econômico-financeiro Miguel Daoud também considera que a reestruturação acionária da mineradora favorece grandes e pequenos investidores. “Quem tem ações e quiser lucro, pode vendê-las, pois a tendência é que as ações subam”, afirma Daoud.
Na prática, a pulverização da Vale não traz mudanças para o pequeno acionista. “Não muda nada, apenas transforma ações preferenciais em ordinárias, que dão direito a voto. Cada acionista pode ter, no máximo 25% da empresa, e a companhia fica mais difícil de ser manipulada”, explica o especialista, que considera a mudança “muito positiva”.
Até então, a governança da Vale tinha controle exercido, desde a privatização, em 1997, pela Valepar, com 33,7% do capital total e 53,8% das ações ordinárias. A composição societária da Valepar é de 49% nas mãos do Litel Participações, dos fundos de pensão; 21,2%, do Bradespar; 11,5%, do BNDESpar; e 18,2%, da Mitsui.
CAPITAL RENOVADO Depois de a mineradora ter alcançado um percentual de 84,4% de conversão voluntária de papéis preferenciais em ordinários (com direito a voto), encerrada na última sexta-feira, a Valepar passou a deter 44% das ações com direito a voto, percentual bem abaixo dos 51% que caracterizariam o controle da companhia. Quando todas as ações forem convertidas de preferenciais para ordinárias, esse grupo terá 41% do capital acionário.
De acordo com a mudança, pelo menos 20% do conselho de administração da Vale passará a ser composto por membros independentes e nenhum acionista poderá ter mais que 25% das ações, a menos que realize uma oferta pública de aquisição para os demais.
A ação Vale ON ATZ N1 encerrou ontem como a mais negociada na bolsa de valores, segundo relatório da BM&F Bovespa, com baixa de 0,58%, ao preço de R$ 31,12. Questionada sobre o impacto da mudança sobre investidores que usam o FGTS, a Caixa não respondeu à reportagem do EM até o fechamento desta edição.
DESEMPENHO
Quem é
» A Vale é a maior produtora mundial de minério de ferro e pelotas, matérias-primas essenciais para a fabricação de aço
Desempenho
» No segundo trimestre de 2017, apesar da crise econômica, a mineradora atingiu recorde de produção das minas de ferro de Carajás, no Pará, e de carvão
» Apesar da forte queda dos preços do minério de ferro no início do trimestre, a geração de caixa manteve-se forte, medida pelo EBITDA (lucro antes de juros, depreciação e amortização) ajustado, de US$ 2,7 bilhões
» Foram pagos US$ 1,5 bilhão em dividendos para os acionistas
» A produção de minério de ferro alcançou 91,8 milhões de toneladas de abril a junho último