Brasília – A semana começa com apostas em novo corte nos juros e em taxa positiva para o Produto Interno Bruto (PIB, a soma da produção de bens e serviços do país) relativo ao primeiro trimestre do ano, mas também com dúvidas sobre como o mercado financeiro vai reagir à troca de comando no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O anúncio da substituição no BNDES ocorreu apenas uma hora antes do fechamento da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), agora batizada de B3, em meio à crise política do governo de Michel Temer. Analistas de bancos e corretoras ouvidos pelo Estado de Minas acreditam que as oscilações continuarão fortes ao longo dos próximos dias.
As operações na bolsa e de câmbio ficaram mais voláteis devido ao aumento das incertezas em relação à aprovação das reformas trabalhista e previdenciária depois do terremoto provocado no último dia 17, quando foi divulgada a delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, que abalaram os alicerces políticos do presidente Michel Temer.
No dia seguinte, a Bovespa despencou mais de 10% e o circuit breaker (mecanismo que paralisa o pregão) foi acionado por 30 minutos pela primeira vez desde outubro de 2008.
Diante dessa nova crise, especialistas ficaram no compasso de espera e não mexeram nas previsões do último boletim semanal Focus, do Banco Central (BC), divulgado no dia 22, que reúne as taxas projetadas por analistas de bancos de corretoras para o comportamento dos principais indicadores da economia.
No entanto, o relatório a ser divulgado amanhã já deve mostrar as primeiras revisões contabilizando a piora do cenário político depois do acirramento da crise política.
São esperados aumentos na projeção da taxa Selic, aquela que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência para as operações nos bancos e no comércio, para o fim do ano e de alta do dólar.
É possível, também, uma queda na mediana das estimativas de expansão do PIB, atualmente em 0,5%. Um consenso entre os especialistas ouvidos pelo EM é de que o presidente Temer deverá ser substituído por nome que conseguirá manter a agenda de reformas, o que poderá ajudar a diminuir a forte oscilação dos últimos dias no mercado de ações e no câmbio.
As instituições financeiras mais otimistas previam redução de juros de 1,25 ponto percentual na Selic, atualmente em 11,25% ao ano, mas já refizeram as contas. Agora esperam que o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central anuncie diminuição de, no máximo, um ponto percentual nos juros nesta quarta-feira, mas há quem espere menos, como é o caso do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Ele aposta em corte de 0,75 ponto percentual, ante 1,25 ponto anteriormente.
O Itaú Unibanco também cortou de 1,25 para um ponto a previsão de corte para a Selic e reduziu de 1,4% para 1,1% a previsão de crescimento do PIB no primeiro trimestre deste ano. A mediana das estimativas do mercado é de 0,9%.
“O governo Temer acabou. Ele virou uma rainha da Inglaterra, mas os parlamentares da base estão convencidos de que é preciso tentar avançar a agenda de reformas. E é nisso que o mercado acredita e por isso não entrou em parafuso porque o Congresso Nacional está funcionando, aos trancos e barrancos”, afirma o economista Simão David Silber, professor da Universidade de São Paulo (USP).
Reação Adiada
Silber entende que um possível substituto de Temer precisará vir do Congresso Nacional para que a agenda de reformas não fique para o ano que vem. O desempenho positivo do PIB de janeiro a março deste ano, que será divulgado na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deverá interromper oito trimestres seguidos de retração da economia.
Contudo, esse bom desempenho não deverá se repetir no segundo semestre, avisam os especialistas, dificultando a saída do país da recessão.
Os indicadores medidos em abril foram ruins porque o mês teve poucos dias úteis e maio começava a dar sinais mais positivos na primeira quinzena, mas que foram interrompidos na segunda metade do período. A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, por enquanto, manteve as projeções, mas reconhece que elas estão com “viés negativo”. Prevê corte de um ponto percentual nos juros e Selic de 8% ao ano em dezembro.