São Paulo e Brasília - O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, afirmou na noite desta segunda-feira que a Selic tem caído em face das expectativas de inflação ancoradas em torno da meta, do processo de desaceleração dos preços e do alto grau de ociosidade da economia. Esse processo, diz Ilan, tem levado à redução do juro real que já tem girado em torno de 5% ao levar em conta a expectativa de inflação futura.
Nesse trecho do discurso, Ilan Goldfajn ressaltou que o juro real, que chegou perto de 10% em 2015, já caiu praticamente pela metade. Ao levar em conta a taxa de juro prefixada de 12 meses do mercado futuro descontada a inflação esperada para o mesmo período, o juro real embutido nesses contratos caiu de 9% em setembro de 2015, para 7% no ano passado e, mais recentemente, para o atual patamar em torno de 4,9%.
Outras métricas indicam a redução do juro real. Se levar em conta a trajetória da Selic prevista na pesquisa Focus para os próximos 12 meses, a taxa real está em 5%. No mercado de títulos, o juro real embutido nas NTN-B - papéis indexados à inflação medida pelo IPCA - já indicam taxa entre 5% e 5,5%.
"É importante enfatizar que a medida de juros reais "ex-ante" (para frente) é a medida mais apropriada, pois é a que influencia as decisões econômicas", disse, durante o jantar. O presidente do BC notou ainda que a chamada taxa "ex-post" (taxa Selic menos inflação passada) "é a taxa realizada do passado e, portanto, não influencia as decisões presentes que dependem do futuro". "Essa medida é muito afetada por choques do passado, por exemplo, por surpresas inflacionárias", disse, segundo os apontamentos do BC.
Esse choque acontece no Brasil recente, disse Ilan. Levando-se em conta a inflação dos 12 meses passados, o juro real "ex-post" atingiu o mínimo do ano de 2016, quando girou em torno de 2% real. "Exatamente quando a inflação ultrapassou 10% em 12 meses", disse o presidente do BC. Desde então, com a queda da inflação acumulada, essa medida tem recuado e já está em patamar entre 8 e 9%.
"Ao longo do ciclo monetário, é normal essa medida de taxa de juros real ex-post subir quando o combate à inflação é bem sucedido, para depois cair gradualmente na medida em que os juros cedem. Com a estabilização da inflação em torno da meta, as duas medidas ex-ante e ex-post devem convergir para o mesmo valor", disse Ilan. "Esse patamar atual de taxa de juros real é baixo do ponto de vista histórico. A taxa de juros real na economia brasileira oscilou nas últimas décadas, mas com clara tendência de queda", disse o presidente do BC.
Ilan Goldfajn lembrou que o Brasil já teve taxas reais acima de 20% na década de 1990, patamar em torno de 10% na década passada e chegou a uma média de 5% real no passado mais recente. "Considerando o período insustentável de juros reais de 2% no governo anterior", disse o presidente do BC.
"A taxa de juros real da economia brasileira ainda está em processo de convergência. A possível queda da taxa de juros ao longo do tempo dependerá de avanços que levem à diminuição da taxa estrutural de juros da economia", disse o presidente do BC. (André Ítalo Rocha e Fernando Nakagawa - andre.italo@estadao.com; Fernando.nakagawa@estadao.com)