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Estado de Minas

Empresas investem em logística de ponta para escoar produção

Empresas investem em ferrovias e terminais multimodais privados para minimizar os problemas e as perdas relacionados ao transporte da safra recorde de grãos no país


postado em 13/03/2017 06:00 / atualizado em 13/03/2017 09:38

Terminal Integrador da VLI no Triângulo Mineiro reduziu tempo de carregamento de trens de três dias para cerca de cinco horas(foto: Beto Oliveira/VLI/Divulgação)
Terminal Integrador da VLI no Triângulo Mineiro reduziu tempo de carregamento de trens de três dias para cerca de cinco horas (foto: Beto Oliveira/VLI/Divulgação)

Grandes empresas de logística perseguem as estrelas da safra brasileira de grãos, numa estratégia de atender os produtores rurais e faturar com o bom resultado da produção agrícola, apesar dos problemas decorrentes da infraestrutura precária de rodovias, portos e hidrovias no país. Como um quebra-cabeças em que nem todas as peças vão se juntar niveladas, investimentos em ferrovias e terminais multimodais privados buscam agilizar etapas do escoamento. O ganho de eficiência nos processos de retirada da carga das carretas para o trem e do descarregamento deles para os navios graneleiros é que passa a fazer a diferença, contra a distância percorrida no asfalto ou nos trilhos e os problemas enfrentados nessa travessia.

A VLI, empresa que interliga o interior de Goiás, Minas Gerais e São Paulo ao Porto de Santos, por meio da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e de oito terminais de recebimento e despacho de carga, está na fase final para chegar à plena operação do Terminal Integrador de Uberaba, no Triângulo mineiro, que consumiu R$ 230 milhões, e é considerado um dos mais modernos da América Latina para transbordo de grãos e açúcar. A estrutura montada no empreendimento inaugurado no ano passado permitiu reduzir o tempo de carregamento de trens de três dias para cerca de cinco horas.


Com agendamento on-line e tecnologia nova de descarregamento das carretas de grãos e açúcar e de carregamento de trens, o terminal fecha o ciclo em 4,7 horas, em média, para encher 80 vagões com soja, milho e farelo. Antes da implantação do projeto, eram necessárias 68 horas para carregar a mesma composição, usando vários pequenos terminais. É tempo que teria reflexo, seja nos próprios terminais, seja nos portos, em filas de trens, destaca o gerente comercial de agronegócio da VLI, Igor Bretas de Figueiredo. “Nosso foco aqui é dar giro ao produto, com estrutura para descarregar rápido os caminhões (desde o recebimento até a liberação das carretas, são gastos cerca de seis horas) e carregar os vagões com velocidade”, afirma.

Atrás do mesmo objetivo de ocupar espaço aberto pelo bom desempenho do agronegócio, a MRS Logística, operadora de malha ferroviária de 1.643 quilômetros em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, trabalhou para captar novas cargas do campo e obteve em 2016 resultado histórico de transporte de produtos agrícolas, informa o gerente-geral de negócios para carga geral da companhia, Guilherme Alvisi. “Houve uma mudança pró-ativa da companhia para captar cargas que não são o trivial das suas operações (a empresa é reconhecida por sua especialização no transporte de minério de ferro, gusa e carvão) e percebemos demanda reprimida no segmento”, afirma o executivo.


Os dados mais recentes divulgadas pela MRS, relativos ao período de janeiro a setembro do ano passado, mostraram avanço de 19,8% nos volumes transportados de soja e de 19,5% no de milho. A expansão se deu, ainda, na movimentação de açúcar, farelo de soja e fertilizantes. A empresa investiu R$ 445 milhões entre 2014 e 2016 para melhorar a malha e a estrutura de atendimento a clientes, principalmente em São Paulo, o que permitiu a captação de novas cargas agrícolas e de produtos transportados em contêineres. Segundo Guilherme Alvisi, o esforço e a destinação de recursos a esses segmentos continuam em 2017, com perspectivas de um terceiro ano de desempenho recorde e acompanhando a maior safra agrícola da história prevista para este ano – de 224 milhões de toneladas.

CONCORRÊNCIA
Para o sojicultor Thiago Soares Fonseca, que está colhendo em Uberaba a maior produção por hectare dos últimos 15 anos na Fazenda São José, de 78,56 sacas, a região do Triângulo se beneficiou de investimentos de operadores logísticos, indústrias esmagadoras de grãos e companhias exportadoras, colhendo agora frutos de um sistema de escoamento mais eficiente. “A competição fez com que a logística fosse ampliada e a descarga de produto tem sido tão rápida que chega a haver sobra de caminhão. É como se estivéssemos navegando em céu de brigadeiro”, afirma.

Em Tupaciguara, na mesma região, a Bioenergética Aroeira, empresa produtora de etanol, se prepara para ofertar açúcar pelo primeiro ano a partir de maio, com expectativa em relação ao escoamento da produção, informa o diretor-administrativo Gabriel Feres. “O Brasil produz muito mais açúcar do que pode exportar em tempo hábil. Se tivéssemos malha ferroviária mais ampla, acredito que haveria maior concorrência e o frete poderia baratear”, afirma.


Enquanto a ampliação não sai do papel, as empresas de logística se debruçam nos projetos para oferecer mais eficiência pontual aos clientes. A VLI deverá concluir neste ano investimentos de ampliação do Terminal Integrador Portuário Luiz Antônio Mesquita, infraestrutura própria instalada no Porto de Santos, que terá capacidade para movimentar 14,5 milhões de toneladas por ano de produtos como grãos, açúcar e fertilizantes. O gerente comercial de agronegócio da companhia, Igor Figueiredo, diz que o projeto permitirá reduzir o tempo de descarregamento de trens no terminal de 36 pra seis horas.

Parte essencial dessa nova estrutura, também implantada no terminal de Uberaba, está no sistema da chamada pera ferroviária, em formato circular, que permite o transbordo da carga para os vagões sem a necessidade de manobras para desmembrá-los. A MRS, por sua vez, duplicou trechos próximos do porto de Santos, adquiriu locomotivas e material rodante para ampliar sua capacidade de escoamento de carga. O gerente Guilherme Alvisi diz que a ampliação da malha ferroviária o Brasil passa também pela definição de políticas públicas para o setor de transporte.

 

Três perguntas para Priscila Miguel
Coordenadora do Centro de Excelência em Logística Supply Chain da Fundação Getulio Vargas

 

1 O Brasil festeja a estimativa de safra recorde, mas qual é o grau de preocupação que surge com o sistema de escoamento da produção?
A infraestrutura deficiente do país é, de fato, responsável por perda de competitividade das cadeias de suprimentos. Em primeiro lugar, pela própria necessidade de transportar boa parte do que é produzido no campo usando modal rodoviário. Esse modal não é adequado para percorrer longas distâncias, visto que ele se torna pouco competitivo em termos do valor de frete. Caminhões também têm capacidade de transporte limitada, sendo necessárias várias carretas para transportar a mesma quantidade que seria acomodada em um vagão de trem, por exemplo. O modal mais adequado para transportar cargas de grandes volumes e preços baixos por longas distâncias é o ferroviário. Um outro ponto de atenção é o próprio estado das nossas rodovias e ferrovias. Como boa parte das nossas estradas tem manutenção deficiente, há perdas de grãos durante a movimentação da carga ao longo de todo trajeto. Por fim, como a safra resulta em um acúmulo de caminhões que chegam aos portos, perdemos novamente pelo tempo que os caminhões ficam aguardando para entrar nos terminais.

2 O que explica tantos anos de reclamação dos produtores por investimentos em infraestrutura que não saem de projetos e, em geral, são esquecidos em períodos de crise?

Os problemas são resultantes da falta de planejamento de longo prazo. Infraestrutura requer estudo e investimentos que não se limitam a um governo, mas que precisam ser pensados para o desenvolvimento do país. Onde o Brasil precisa estar em 20 anos? Os projetos de infraestrutura atuais são pensados olhando-se o passado. Precisamos avaliar qual o potencial de movimentação de cargas em 20 anos e fazer um projeto para tal. Os projetos atuais tentam apenas suprir deficiências atuais. Como cada governo tenta um novo plano, acabamos não evoluindo como deveríamos.

3 Que impacto provoca num país como o Brasil o fato de existir uma atividade agropecuária tão dinâmica e não encontrar um sistema eficiente de escoamento?

O Brasil perde competitividade no cenário internacional. Apesar de aumentarmos nossa produtividade na produção, não conseguimos acompanhar esse aumento na distribuição dos produtos. Isso resulta em maiores custos, maiores prazos e nos torna menos atrativos no mercado internacional.


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