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Estado de Minas

Mercado pet de BH dribla a crise e investe até em bufê especializado

Ampla cadeia de prestadores de serviços para pets se aproveita da disposição dos donos de continuar gastando com o melhor amigo. Estabelecimentos comerciais entram na onda


postado em 05/03/2017 06:00 / atualizado em 05/03/2017 11:17


A pequena Zoe ganhou festa de aniversário de princesa em comemoração ao seu primeiro ano de vida, com direito a decoração personalizada, bolo, docinhos, monitores para cuidar das crianças convidadas, e até aos serviços de um bobo da corte como mestre de cerimônias. Foi em 19 de novembro do ano passado que a administradora Raquel Diniz Dalseco, de 38 anos, promoveu o evento, cercado de tantos cuidados e ao custo de R$ 12 mil. Os gastos rotineiros com Zoe já incluem books fotográficos, professores e hidratação para manter brilhantes e sedosas as madeixas louro-caramelo. São cachorros como ela – sim, Zoe é uma yorkshire – que movimentaram, a despeito da crise da economia brasileira, um mercado estimado em R$ 19 bilhões no país em 2016.

Bufês dedicados aos animais investem para ter capacidade de ir além do bolo e do salgado, produzindo eventos(foto: Januaria Vargas/Divulgacao )
Bufês dedicados aos animais investem para ter capacidade de ir além do bolo e do salgado, produzindo eventos (foto: Januaria Vargas/Divulgacao )


De olho nas cifras, o segmento não para de crescer, apesar do impacto generalizado da recessão na demanda das empresas prestadoras de serviços. Em Minas Gerais, empresários investem na especialização para atender aos bichinhos, enquanto no comércio em geral ganha força a estratégia de adaptar os estabelecimentos para receber o melhor amigo do cliente. Além de agradar a quem faz o caixa, a iniciativa ajuda a garantir o lucro.

O mercado pet encampou serviços nada tradicionais na atividade, como bufê infantil, fornecimento de comida feita com ingredientes frescos e sem conservantes, escolinhas, creches, spas, fotografias especializadas e hotel, tudo para mimar os animaizinhos de estimação de quem tem dinheiro disponível. Zoe é um exemplo disso. Manter todo o luxo oferecido à yorkshire custa cerca de R$ 1,5 mil em um mês típico de despesas, sem grandes estripulias. Entre outros serviços, como banhos e hidratação, ela tem adestrador e frequenta uma escolinha pra socialização toda semana. Da festa de aniversário dela participaram 13 convidados de quatro patas e 30 pessoas.

(foto: A administradora Raquel Dalseco gastou R$ 12 mil na festa de aniversário de um ano da yorkshire Zoe, com direito a bolo, doces e monitores para as crianças e cães convidados)
(foto: A administradora Raquel Dalseco gastou R$ 12 mil na festa de aniversário de um ano da yorkshire Zoe, com direito a bolo, doces e monitores para as crianças e cães convidados)


A dona da Paladar Pet, de Florianópolis, Marina Gregório Resende, fez cursos, estruturou a cozinha e adquiriu material para dar início às atividades há cerca de um ano. Em três meses pagou o investimento feito e já está lucrando com a empresa fornecedora de alimentos naturais e bufê. Atualmente, prepara quatro festas por fim de semana. “A maioria é só para entregar bolo e salgado, mas há gente, como os donos de uma festa que vamos fazer em abril, que produz um megaevento” conta.

O cardápio de produtos oferecidos, que contempla bolo, cupcake (pequeno bolo de forma batizado de cãopkake), quibe, coxinha, brownie e outros petiscos, tem preços variando de R$ 3 a R$ 110 a unidade. “Como a pessoa escolhe o que vai querer do cardápio, varia muito o preço da festa. Vai depender, por exemplo, se o cliente quer só o bufê ou se vamos montar e decorar”, conta Marina.

A empresária também lucra com o fornecimento de alimentação natural para petshops e creches caninas parceiras. “É um segmento em expansão, só em BH conheço 50 creches em que os animais ficam o dia todo e voltam para casa para dormir”, diz. Outra empreendedora que está satisfeita com o investimento voltado aos bichinhos é a fotógrafa Rossana Magri, que se inspirou no próprio pet, o shihtzu Ted, e buscou especialização para clicar os peludos.

Rossana oferece ensaios fotográficos a partir de R$ 670 por duas horas de serviço. O consumidor pode comprar ainda a foto impressa, ímãs ou porta-retratos com as fotos do cãozinho. “O público do petbook geralmente são casais sem filhos que só têm um cachorro ou pessoas mais maduras que querem registros dos bichinhos”, conta. O foco principal de trabalho hoje são as parcerias dela com petshops e fabricantes de medicamentos em eventos para animais. Em nove meses, a fotógrafa lucrou 10 vezes o valor investido no negócio.

Pet Friendly


O comércio de Belo Horizonte se adapta para abraçar uma tendência mundial conhecida como pet friendly, aqueles estabelecimentos que aceitam os bichos de estimação junto aos seus tutores, a exemplo de restaurantes, shopping centers e salões de beleza. Na capital mineira, nem o segmento fitness escapou à onda. A dona do Studioliv, clínica de pilates, Lívia Godoi Costa, criou uma espécie de berçário para receber os animais dos alunos enquanto eles fazem aula.

Para isso, adaptou área de 16 metros com cobertura, cama, brinquedos e ossinhos. O investimento assegura a presença do cliente, e, claro, do faturamento. “Já tive alunos que deixaram de vir por causa dos cachorros. É uma demanda que decidi atender para dar mais conforto aos alunos”, diz a fisioterapeuta. A empresária Nayana Andrade, de 30, que leva a buldogue francês Margot para onde vai, aprovou. “Agora, passeio com ela, faço meu exercício com ela no pilates e volto.”

Atenta ao setor, a jornalista Renata Dayrell criou um site para cadastrar e divulgar os locais que aceitam os animais de estimação. O Mascote.Net já tem mais de 1 mil estabelecimentos de todo o Brasil cadastrados. Em Belo Horizonte, são 68 restaurantes, 20 lojas e shoppings, 21 parques e praças e 39 hotéis pet friendly. Em parceria com duas amigas, Renata decidiu investir na endereço eletrônico, que será reformulado nos próximos dias.

Renata pretende ganhar dinheiro com a criação e venda de um cartão de descontos para formar uma espécie de clube dos locais pet friendly, não descartando parcerias com verba publicitária. “A gente vê que cada vez mais as pessoas deixam de fazer coisas quando não podem levar seus animais. É um mercado superpromissor”, afirma.

Menor expansão dos últimos 6 anos


Embora o setor de prestação de serviços especializados em animais não tenha sofrido tanto como outros ramos do comércio, a crise econômica abateu as taxas de expansão do mercado pet. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), houve redução no orçamento dedicado aos bichinhos. A receita apurada em 2016 ainda não foi medida, mas se confirmada a projeção de R$ 19 bilhões com os produtos para pets, o resultado será crescimento de 5,7% em relação a 2015.

Segundo o presidente-executivo da Abinpet, José Edson Galvão, uma vez alcançada essa taxa de expansão, será, no entanto, a menor dos últimos seis anos. “Consideramos que o mercado pet mantém certa resiliência em relação a outros setores econômicos por conta da relevância do pet para a família brasileira. Há uma relação afetiva que coloca o animal de estimação automaticamente dentro do orçamento doméstico”, disse.

Edson Galvão observa que os efeitos da crise foram percebidos pelo mercado de produtos pet na frequência de gastos dos tutores dos animais. “Um bichinho que tomava banho uma vez por semana passou a tomar uma vez a cada 15 dias. Verifica-se uma economia também com brinquedos e acessórios. Só que o pet está dentro do orçamento doméstico e essas despesas serão reduzidas e não cortadas”, afirmou.

O dirigente da Abinpet reclama da carga de impostos incidente sobre os produtos, que atinge 51% do preço final pago pelo consumidor. Ele defende tributação menor e contesta o entendimento de que o setor trabalha com produtos supérfluos, na medida em que para boa parte dos donos os bichinhos são considerados membros da família.

“Em um momento de crise e de queda da confiança do consumidor final, essa questão torna-se crucial”, afirmou. O carro-chefe do mercado pet ainda é a alimentação, que responde por 67,6% do faturamento do setor. A segunda maior fonte de receita, que representa 16,4% do total, é o pet serv, que são os serviços em geral. Na sequência aparecem higiene e acessórios (pet care), com 8,2%, e o pet vet (medicamentos veterinários), com 7,8%. (JC)


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