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Estado de Minas

Nova alta na conta de luz pode aumentar o calote em Minas

Bandeira tarifária amarela, que vai encarecer a energia elétrica neste mês, afeta orçamento das famílias em meio a aumento de 106% de inadimplência no estado


postado em 03/11/2016 06:00 / atualizado em 03/11/2016 08:52

A volta da bandeira tarifária amarela, que, a partir deste mês, vai encarecer a conta de energia elétrica em R$ 1,50 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos, agrava o peso da despesa das famílias num momento de muito aperto no orçamento doméstico. A inadimplência em Minas Gerais, medida entre aqueles consumidores que acumulam atraso de três meses no pagamento da fatura, quase dobrou em junho na comparação com o mesmo mês do ano passado, atingindo 8,06%, segundo os últimos dados divulgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

O aumento da tarifa assusta consumidores, como a auxiliar de serviços administrativos Deise Oliveira, de 29 anos. Apesar de ter ser contemplada com a tarifa social, na casa de Deise a conta é de aproximadamente R$ 83. “Acho um absurdo esse aumento que vem aí. Muitas vezes já tive que atrasar o pagamento da luz para pagar água e o supermercado”, observa. Deise conta que os seis moradores de sua casa, incluindo três crianças, saem cedo e só voltam à noite. Ela também explica que toma providências como banhos rápidos, mornos ou frios em tempos de calor e o uso mínimo de eletrodomésticos.

 

Em junho do ano passado, a inadimplência entre os consumidores residenciais atendidos pela Cemig Distribuidora, braço da Companhia Energética de Minas Gerais, era de 3,91%, percentual que evoluiu para 8,06%, alta superior a quatro pontos percentuais. Já a inadimplência entre os consumidores de baixa renda pulou de 5,40% para 13,21%, avanço de 7,8 pontos percentuais.

A recessão e o desemprego ainda crescente levam especialistas do setor elétrico a apostar que, neste ano, se o volume de chuvas coincidir com as previsões meteorológicas que apontam para um percentual dentro da média histórica, o país pode escapar da bandeira tarifária vermelha. Ela significa um maior despacho das usinas térmicas, energia mais cara que reflete no encarecimento da conta para o consumidor.

Para Eduardo Nery, diretor da Energy Choice, consultoria em desenvolvimento sustentável, observações como as da dona de casa Deise Oliveira refletem o atual momento da economia brasileira e devem pesar na definição da política tarifária. “Como a economia está em recessão a decisão é complicada”, aponta Nery. Segundo ele, do ponto de vista do planejamento energético, o mais adequado seria o país despachar mais térmicas e ter em 2017 um período de bandeira vermelha para atravessar os meses de seca com maior segurança. “No entanto, observando a economia em recessão e o crescimento do desemprego, o governo deve manter a tarifa amarela. Essa decisão traz um alívio para o custo de vida, mas é de maior risco para a geração de 2018”, observa.

PREOCUPAÇÃO A bandeira amarela já será aplicada nas contas de luz a partir deste mês, já que o volume de água dos reservatórios das usinas hidrelétricas, principalmente do Sudeste, do Centro-Oeste (34%) e Nordeste (10%), está baixo e o governo vai recorrer à energia das térmicas. O reservatório de Sobradinho, por exemplo, que é o maior lago do mundo, está a um nível de 2% de sua capacidade.

A notícia de preços mais altos na conta de energia assustou também a balconista Ana Paula Souza Silva, de 28. Sua conta de luz é de R$ 75 para uma família de três pessoas. “Tomo banhos rápidos, apago todas as luzes à noite e uso pouco eletrodomésticos, não sei o que mais posso fazer para economizar energia.”

Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em setembro as residências registraram um aumento no consumo de eletricidade de 4,6%, na sétima alta mensal consecutiva. Em tempos de calor quando o uso de equipamentos como ar-condicionado e ventiladores pode pressionar a tarifa, os consumidores terão de pisar no freio. O auxiliar de serviços administrativos Ildefonso da Silva, de 47, diz que sua conta de luz é “altíssima.” Ele paga cerca de R$ 200 por mês para uma família de quatro pessoas.

Para arcar com o aumento provocado pela bandeira amarela, o jeito encontrado por ele será o corte de gastos. “Terei que cortar gastos para pagar a conta de luz em dia. Provavelmente, vou cortar no lazer da família”, lamentou. Márcio Davanzo, gerente de comercialização do Grupo Safira Energia, diz que os preços da energia até o primeiro quadrimestre de 2017 mostram proximidade com a bandeira amarela. Já sobre a volta da bandeira verde em abril, o especialista preferiu não comentar.

A especialista em planejamento energético e professora da escola Ibmec Juliana Marreco também acredita que com o volume de chuvas dentro da média o governo não deve acionar as térmicas de maior custo, mantendo a bandeira amarela. “A política de bandeiras mostra uma mudança na matriz energética brasileira. O sistema hidrelétrico não é capaz de atender sozinho à demanda do país, que cada vez mais tem utilizado as térmicas.”

Ano foi seco e de baixo investimento


Em 2016, uma combinação de fatores fez os custos com energia encarecerem para o consumidor. “O país enfrentou um ano ruim de ventos, que não ultrapassou 40% da média histórica, o que interferiu na geração eólica”, explica Eduardo Nery. Segundo o especialista, a longa estiagem que castigou o Nordeste e especialmente os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste impediu a recuperação dos volumes da importante Bacia do São Francisco. Para completar, o especialista cita ainda o atraso na construção do sistema de transmissão da hidrelétrica de Belo Monte, que não viabilizou levar a energia da usina para o Nordeste, região que tem a situação mais crítica.

Desde abril deste ano, a bandeira tarifária estava verde, o que significa que não havia custo extra para os consumidores. No ano passado, em todos os meses houve bandeira vermelha, primeiramente com cobrança adicional de R$ 4,50 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos e, depois, com a bandeira vermelha em seu primeiro patamar, que significa acréscimo de R$ 3 a cada 100kWh. O sistema de bandeiras tarifárias foi adotado em janeiro de 2015 como forma de recompor os gastos adicionais com a utilização de energia de usinas termelétricas, mais cara do que a energia de hidrelétricas.

 


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