O incentivo ao setor hoteleiro para expandir a rede de hospedagem na capital e atender à demanda da Copa do Mundo deixou em Belo Horizonte um saldo de mais de R$ 400 milhões em investimentos que até o momento não conseguiram cumprir o cronograma. Eles deveriam estar prontos em março de 2014, mas a inauguração não se transformou em realidade. Até 2017, cinco hotéis devem ser inaugurados na cidade com atraso de três anos. Outros seis que chegaram a ter as obras paralisadas estão em ritmo lento ou sem previsão de abertura para o público.
A maioria desses empreendimentos, segundo o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte (Sindhorb) aderiu à lei que possibilitou o parcelamento da multa por descumprimento do prazo, prevista na Lei 10911/16. Nesse tempo, alguns investimentos não se viabilizaram, alguns mudaram de mãos, outros estão se transformando em apart-hotel e há ainda hotéis sem previsão para abrir as portas. Do projeto inicial, que contava com 39 empreendimentos, apenas 13 cumpriram os prazos estipulados pela Prefeitura de BH.
Segundo levantamento recente da JR&MvS Consultores, especializada no setor hoteleiro, o balanço do programa aponta que 11 hotéis estão no meio do caminho. Entre eles, os cinco com previsão de inauguração até o fim de 2017 somam investimentos de R$ 188,6 milhões, sem contabilizar a multa por descumprirem o cronograma. O maior deles é o Royal & Golden Tulip, construção que se destaca na paisagem do Boulevard Arrudas, com 408 apartamentos e investimentos estimados em R$ 111 milhões.
Entre as obras que chegaram a ser paralisadas, estão o Pullman e Ibis Belvedere, no Bairro Buritis (R$ 50 milhões); Apart Hotel Dom Gustavo (R$ 3,9 milhões) e o Blue Tree Stadium (R$ 82 milhões), no Bairro Ouro Preto, Região da Pampulha. Também estão nesse time o Fasano BH (R$ 24 milhões), no Bairro de Lourdes, o Novotel Suites Savassi (R$ 24 milhões) e ainda o Bristol Multi, no Buritis (R$ 19,5 milhões). A situação dos empreendimentos começou a mudar depois da aprovação da lei, mas pelo menos quatro empreendimentos continuam sem data prevista para o fim das obras.
Segundo o Sindhorb, grande parte dos investimentos aderiu ao parcelamento da multa e será inaugurada nos próximos anos. Esse é o caso dos hotéis Pullman e Ibis Belvedere, que mudaram de mãos. A obra, antes da construtora Paranasa, agora está sendo gerida pela PHV. “Assim que recebermos o aval da Prefeitura começamos a pagar a multa”, informa Rogério Martins Pinto, diretor-técnico da PHV. Segundo ele, o investimento da construtora será ao todo de R$ 60 milhões e foram feitas adequações.
Os antigos Pullman e Ibis, localizados em um mesmo terreno entre as avenidas Raja Gabáglia e Barão Homem de Melo, no Bairro Buritis, estão entre os maiores investimentos do pacote Copa do Mundo. O empreendimento, agora com a PHV, mudou o perfil da atividade e também o nome: se chamará Park Avenue e vai funcionar como um apart-hotel, de 208 apartamentos, variando entre 50 e 60 metros quadrados. O novo formato tem como alvo os solteiros, o público corporativo, os mais velhos, ou seja, o público que deseja viver em um apartamento com as comodidades dos serviços de um hotel. “Teremos todos os serviços de um hotel, como restaurante, lazer e serviços de quarto”, explica Rogério Martins. Agora, a inauguração está prevista para 2018.
Outro hotel que chegou a ser contabilizado pela JR&MvS como paralisado e sem previsões para abertura foi o luxuoso Fasano, em Lourdes, com obras a cargo da construtora Concreto, investidora junto com o grupo Fasano e a Asamar. No entanto, a reportagem entrou em contato com o hotel e, por meio de sua assessoria, o Fasano informou que as obras estão em andamento. O hotel estará no circuito da cidade a partir do fim de 2017. Também está prevista a abertura do restaurante italiano Gero.
SEM FLEXIBILIDADE “Acredito que alguns empreendimentos que estão sem previsão para inauguração dependem de uma mudança da lei, que permita que os projetos tenham outra finalidade. Só a lei de parcelamento da multa não resolve”, diz Maarten Van Sluys, consultor da JR&MvS. Segundo ele, os projetos para abertura de novos empreendimentos coincidiram com a crise da economia, que reduziu consideravelmente o volume de negócios na cidade e, consequentemente, afetou os índices de hospedagem. A taxa de ocupação dos hotéis acumula queda de 8% nos sete primeiros meses deste ano, em relação ao mesmo período de 2015, segundo dados da JR&MvS. Já a tarifa média na capital encolheu 17%, de R$ 198 para R$ 178, no mesmo intervalo de tempo.
O Sindihorb calcula que, desde 2014, cerca de 20 hotéis que estavam no mercado há mais de 10 anos fecharam em Belo Horizonte. “Outros quatro hotéis devem encerrar suas atividades até o fim do ano. Os prédios estão se transformando em empreendimentos comerciais”, diz Paulo Cesar Pedrosa. Ele cita como exemplo de estabelecimentos que deixaram a atividade, o Hotel Liberty, o Square, o Metropolitan e o Flamboyant, todos eles na Região Centro-Sul da capital.
o que diz a lei
Segundo a Lei 10.911, de março de 2016, é possível desconto de 50% sobre a multa prevista para o empreendimento, desde que assegurado o funcionamento da atividade hoteleira por 20 anos. Sobre o valor apurado poderá ser concedida a redução de 25%, caso o início do pagamento ocorra no prazo de até 60 dias contados a partir da publicação desta lei. O crédito fiscal poderá ainda ser parcelado em até 180 parcelas.
CRONOGRAMA PERDIDO
Veja os hotéis que deveriam estar abertos para a Copa do Mundo
Inauguram em 2017
Hotel Investimento*
Novotel BH Savassi R$ 41 milhões
Ibis Budget Savassi R$ 31 milhões
Royal & Golden Tulip R$ 111 milhões
Arena Hotel Mineirão R$ 5,6 milhões
A partir de 2018
Hotel Investimento*
Park Avenue R$ 60 milhões
Apart Hotel
Dom Gustavo R$ 3,9 milhões
Blue Tree Stadium R$ 82 milhões
Hotel Fasano BH R$ 24 milhões
Novotel
Suites Savassi R$ 24 milhões
Bristol Multy Horizonte R$ 19,5 milhões
*Sem contabilizar a multa.