O indicador foi criado pelo BC como instrumento para que a instituição possar antecipar o resultado do PIB e com isso ter mais condições de definir a taxa básica de juros, a Selic, que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência nas operações dos bancos e do comércio. Em relatório divulgado ontem, a empresa americana de consultoria de risco político Eurasia Group, que, na semana passada, havia elevado de 55% para 65% a probabilidade de que a presidente não chegue ao fim de 2018 no cargo, afirmou ontem que as manifestações do domingo vão apressar o processo.
Para o economista-chefe da Opus Investimento, José Márcio Camargo, o recuo do IBC-Br foi maior do que o mercado esperava. “Sinal de que o país começou o ano pior. Apesar de a indústria ter tido um desempenho levemente positivo, que também surpreendeu, a queda de serviços foi responsável pela retração”, analisou.
As perdas nos setores de varejo e serviços iniciaram o ano em 1,5% sobre dezembro e 5% na comparação com janeiro de 2015. Elas ofuscaram a alta inesperada de 0,4% na produção industrial na comparação com o mês anterior. No acumulado em 12 meses, o IBC-Br caiu 4,44% em números dessazonalizados, que fazem uma compensação para comparar períodos diferentes. Com a péssima largada, 2016 promete uma queda no PIB ainda maior do que o recuo de 3,8% do ano passado, segundo os especialistas.
“Nossa projeção era de contração de 4% do PIB neste ano, mas como o cenário começou pior do que se imaginava, acho que as previsões de crescimento vão cair a partir de agora”, destacou Camargo, da Opus. O banco Credit Suisse revisou as projeções para a economia brasileira, indicando queda de 4,2% em 2016 e 1% em 2017. Contudo, a equipe do economista Nilson Teixeira destacou que, se a crise se agravar ainda mais e gerar uma paralisia maior na economia, este ano poderá terminar com um redução de PIB de 6,1%. Se tal cenário se confirmar, o país terá retornado ao PIB de 2004, anulando mais de uma década de expansão econômica.
Outro dado preocupante é a previsão do Banco Goldman Sachs, que estima o recuo do PIB per capita em 10% entre 2015 e 2016. Para dar uma ideia do que isso representa, entre 1981 e 1992, no que se convencionou chamar de década perdida, o PIB per capita encolheu 7,6% em 12 anos. Na avaliação de Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Mizuho, a economia começou o ano com o pé errado.
“O mercado achava que, pela alta da produção industrial em janeiro, havia uma esperança de que a economia pudesse ter alguma reação, mas isso não ocorreu”, disse. O que mais preocupa o especialista, no entanto, é a contaminação do dado negativo. “Vamos ter forte contração do PIB no primeiro trimestre deste ano. Pode ser ligeiramente menor do que o último trimestre do ano passado, mas isso não é necessariamente bom, porque a base de comparação já é deprimida”, alertou.