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Estado de Minas MERCADO DE TRABALHO

Desemprego atinge em cheio população entre 18 e 24 anos

Números não são tão ruins como na Europa, mas há capitais com taxa de desocupação acima de 20%. Em Salvador, chega a 28%


postado em 04/09/2015 06:00 / atualizado em 04/09/2015 07:28

Jozadaque Alipsio: como um retirante do desemprego, ele viaja à procura de uma vaga. Saiu de Salvador, foi para Vitória, chegou a BH e já pensa em seguir para o Rio(foto: Alexandre Guzashe/EM/D.A PRESS)
Jozadaque Alipsio: como um retirante do desemprego, ele viaja à procura de uma vaga. Saiu de Salvador, foi para Vitória, chegou a BH e já pensa em seguir para o Rio (foto: Alexandre Guzashe/EM/D.A PRESS)
Um em cada três desempregados na Grande BH tem entre 18 e 24 anos. A faixa etária é a mais afetada pelos cortes de postos de trabalho. Na região metropolitana, a taxa é 2,5 vezes maior entre jovens do que entre os adultos de 25 a 49 anos. Com a diminuição da renda familiar, muitos deles antecipam a entrada no mercado de trabalho, mas, sem experiência, a procura tende a ser árdua, podendo durar meses.

Até o ano passado, o desemprego entre jovens apresentava números bastante positivos, sempre abaixo de dois dígitos. Em dezembro, com as contratações temporárias para as festas de fim de ano, atingiu 6,9%. Mas, de janeiro para cá, com uma escalada do aumento dos desocupados, a taxa atingiu 13,3% em julho. No comparativo com igual mês do ano passado, são 14 mil jovens a mais sem uma vaga.

Com a taxa de desemprego em crescimento acelerado, o risco é de um mergulho em taxas medidas em países profundamente afetados pela crise internacional de 2009. A distância do indicador nacional em relação ao medido em nações integrantes da Zona do Euro ainda é considerável. No Brasil, a média é de 18,5% em julho, enquanto em países europeus aproxima-se de metade da população jovem economicamente ativa – Grécia (53,2%), Espanha (49,2%), Itália (44,2%) e Croácia (43,1%). Apesar do abismo existente na taxa nacional, em algumas regiões brasileiras, o percentual aproxima-se aos poucos da realidade europeia. Em Salvador, por exemplo, a taxa de desemprego já é de 28,1%.

Aos 18 anos, o baiano Jozadaque Alipsio deixou a terra natal em busca de dias melhores no Sudeste. Em Vitória, ele ficou dois meses e não conseguiu a sonhada vaga. Em Belo Horizonte, por enquanto, também não. “Deixei alguns currículos, mas ninguém liga de volta. Tinha empresa com 400 currículos na mesa”, afirma o jovem, que trabalha desde os 9 anos, mas nunca ficou por período tão prolongado sem vaga. Ao todo, são seis meses. “Dizem que é a tal crise”, afirma. Hospedado em uma pousada para migrantes, ele aceita qualquer emprego. “Se não arrumar nada esta semana, vou ter que ir pro Rio”, diz o peregrino.

Renata Soares está há dois anos sem trabalho(foto: Alexandre Guzashe/EM/D.A PRESS)
Renata Soares está há dois anos sem trabalho (foto: Alexandre Guzashe/EM/D.A PRESS)
Assim como Alipsio, muitos outros jovens estão em busca de uma vaga no mercado de trabalho. Segundo a coordenadora de Recrutamento e Seleção do Grupo Selpe, Liliane Dias, até o ano passado, as pessoas mantinham o foco em determinada vaga. Hoje, as pessoas se candidatam a vagas sem muitas vezes se encaixar no perfil exigido. “Era preciso chamar três vezes o número de pessoas para ocupar as vagas disponíveis. Marcávamos entrevista com 20, apareciam cinco, seis”, recorda Liliane. Hoje, o cenário é bem diferente. Todos comparecem.

“A procura por uma vaga está muito grande, enquanto a demanda por novos profissionais é pequena. As empresas estão mais exigentes”, afirma Liliane. Ela cita o exemplo de um engenheiro civil recém-formado que, devido à baixa na construção, aceitou uma vaga administrativa.

Com experiência de quase três anos como auxiliar administrativo, Renata Soares, de 20 anos, está há quase dois anos desempregada. Um mês depois de ser demitida, ela descobriu que estava grávida. Depois disso, não conseguiu se inserir mais no mercado de trabalho. “Qualquer um que vier, eu pego”, afirma Renata. Ela até conseguiu uma indicação para uma vaga de serviços gerais, mas, antes de iniciar, precisa arrumar uma vaga para a pequena Emily na creche.

Inexperiência

A explicação mais plausível para a taxa mais alta de desemprego entre jovens, segundo o coordenador do MBA em gestão estratégica de pessoas da PUC Minas, Sandro Márcio, é a falta de experiência. “O jovem é um investimento, uma aposta. Ainda não tem tanto a agregar. As empresas estão cortando esse tipo de gasto. Tudo o que é opcional é cortado”, afirma. Ele acrescenta que, com o corte na renda familiar (-2,87% no rendimento médio real em BH no comparativo entre meses de julho de 2014 e de 2015), a possibilidade de famílias mais pobres de investir na continuidade da educação é reduzida, condição agravada com os cortes em programas educacionais.

O professor de economia da Unicamp Cláudio Dedecca considera o corte na renda o efeito mais sentido no mercado de trabalho. Ele compara o crescimento do desemprego em 2015 com o de crises passadas, nas décadas de 1980 e 1990, e considera o corte ainda pouco expressivo. “Apesar de todas as dificuldades em que o país se encontra, frente à paralisia da economia, o corte de vagas ainda é limitado”, avalia. A análise do professor é que o corte é menos acentuado que no passado. “As empresas estão com cautela para saber o real impacto da crise”, adverte. Nesse cenário, elas seguram as demissões, para, em caso de uma reviravolta, não terem que reinvestir na especialização da mão de obra, o que, na prática, teria um ônus maior.


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