(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Brasil caminha para dois anos de recessão, preveem especialistas

Luz no fim do túnel distancia-se com as incertezas do rumo da economia chinesa


postado em 29/08/2015 06:00 / atualizado em 29/08/2015 07:20

De abril a junho, setor industrial teve a maior retração com perda de 4,3% em relação ao período de janeiro a março(foto: Marcelo Ribeiro/Tribuna de Minas)
De abril a junho, setor industrial teve a maior retração com perda de 4,3% em relação ao período de janeiro a março (foto: Marcelo Ribeiro/Tribuna de Minas)

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre impõe ao Brasil novo quadro de recessão técnica. Depois de encolher 0,7% entre janeiro e março, a economia do país reduziu 1,9% nos três meses seguintes, segundo informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é o pior resultado da economia brasileira desde o primeiro trimestre de 2009. E mais: com investimentos e consumo em forte queda, a saída da crise poderia estar no aumento de exportações, dada a desvalorização do real ante o dólar, mas a luz no fim do túnel distancia-se com as incertezas do rumo da economia chinesa.

O resultado do indicador reflete uma deterioração dos números de todas as atividades. Agricultura (-2,7%), indústria (-4,3%) e serviços (-0,7%) tiveram retração sobre o período imediatamente anterior. Apesar de todos os setores apresentarem quedas, o tombo da indústria é ainda maior, com queda de 2,9% no acumulado em quatro trimestres. Entre os setores industriais, construção civil (-8,2%) e transformação (-8,3%) tiveram os maiores cortes.

Em anos anteriores, o consumo das famílias sustentou o crescimento da economia mesmo em meio à crise internacional. A inflação elevada, no entanto, reduziu o poder de consumo. O desemprego agravou a situação, forçando os mais jovens a ingressarem no mercado de trabalho para contribuir nas contas familiares. Nos dois primeiros trimestres do ano, as despesas relacionadas ao consumo de famílias recuaram (0,9% entre janeiro e março e 2,1% de abril a junho). “Com o aumento do nível dos preços, muitos consumidores são forçados a reduzir o consumo familiar. Outro elemento são os juros altos que têm reduzido a oferta de crédito, inibindo assim a aquisição de produtos de maior valor agregado”, afirma o presidente da CDL-BH, Bruno Falci.

O aumento do investimento poderia ser outra saída, mas, com o contingenciamento orçamentário e a falta de credibilidade do governo, o volume de recursos destinados a investimentos também apresentou retração de 8,1% em relação aos três primeiros meses do ano. Com isso, a taxa de investimentos caiu para 17,8% do PIB. É a oitava queda consecutiva do indicador trimestral. Em igual período do ano anterior, era de 19,5%. “É uma taxa menor que a média da América Latina e muito inferior à dos Brics”, crítica o diretor-regional da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Marcelo Veneroso.

O setor, considerado termômetro dos investimentos, sofreu corte ainda maior que o da indústria (-10,9% nos 12 meses encerrados em julho, segundo a Abimaq). Segundo Veneroso, com índices de confiança em baixa, os investidores estão segurando novos projetos. E alerta: a tendência é de piora até o fim do ano. “Não há medida para incentivar novos investimentos”, afirma.

Quadro ruim “Era esperado um resultado ruim, mas veio muito pior”, pontua o professor de economia do Ibmec, Reginaldo Nogueira. Ele acredita que, com isso, a queda em 2015 do PIB deve ser próxima de 2,5% e não mais de 2%. O especialista ressalta que se se concretizar a crise chinesa o país caminha para dois anos de recessão, como previsto pelo mercado financeiro na semana passada. O boletim Focus projetou queda do PIB em 2015 e 2016, algo inédito desde 1930-31, período pós-crash da Bolsa de Nova Iorque. Isso porque uma saída vislumbrada para afugentar a crise seria a maior competitividade das exportações com a desvalorização do real. O yuan também foi depreciado, o que reduz a vantagem brasileira em um possível aumento de competitividade no exterior.

Com isso, ele diz também não ver “fontes” para o crescimento antes de 2017. “O Brasil se tornou viciado numa economia chinesa que cresce a dois dígitos”, adverte Nogueira. Neste ano, a expectativa é de crescimento abaixo de 7%, o que, apesar de ser um percentual invejável, representa forte desaceleração, com peso na demanda por commodities e, em consequência disso, baixa significativa dos preços. O professor acrescenta que a “flexibilização” do plano de ajuste fiscal do ministro da Fazenda Joaquim Levy contribuiu para aumentar a crise e, por conseguinte, enfraquecer o governo. Segundo ele, foi dado um voto de confiança ao governo, mas, sem força no Legislativo, não foi possível implementar o pacote em sua totalidade.

Desconfiança
A melhoria na economia, segundo o gerente de Estudos Econômicos da Federação da Indústria do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Leão, só virá com o aumento da confiança do empresariado, que, atualmente, em 33,7 pontos, no caso da indústria, está muito abaixo do patamar de equilíbrio de 50 pontos. Para isso, a saída, segundo ele, está na reversão da instabilidade política. “O grande fator que poder mudar é o reequilíbrio político do país. Enquanto tiver um cenário desse é difícil se discutir formas de tirar o país da crise”, afirma.

O quadro de calmaria no meio político resgataria a confiança e, logo, permitiria a retomada de investimentos estrangeiros no Brasil, uma vez que o aumento de gastos do governo também não é viável dado o ajuste nas contas públicas. Leão recorda que no auge da crise de 2009 a adoção rápida de medidas no Congresso permitiu ao Brasil escapar do “furacão” antes mesmo de outros países.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)