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Estado de Minas

Juros do cartão de crédito já chegam a quase 400% ao ano

Taxa do rotativo do cartão bate recorde em julho a 395% e inadimplência nessa modalidade sobe de 35% para 37%


postado em 27/08/2015 06:00 / atualizado em 27/08/2015 07:19

Uso do dinheiro de plástico exige mais cautela do consumidor(foto: Marcos Michellin/EM/D.A Press- 3/7/11 )
Uso do dinheiro de plástico exige mais cautela do consumidor (foto: Marcos Michellin/EM/D.A Press- 3/7/11 )
Brasília – O brasileiro precisa pensar mais de duas vezes antes de pegar um empréstimo ou fazer um financiamento. As taxas de juros para pessoas físicas explodiram. Para se ter uma ideia, o rotativo do cartão de crédito atingiu astronômicos 395,3% ao ano. Um aumento de 23,2 pontos percentuais em relação a junho. Esse é o índice mais alto da série histórica iniciada em março de 2011. Especialistas alertam que com esse nível de juros, pode ocorrer uma piora da inadimplência e o aumento do desemprego pode tornar a situação um filme de terror sem fim.

E não precisa esperar muito para isso acontecer. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, alertou que a inadimplência no rotativo atingiu 37% contra 35,5% do mês anterior. “É um crédito que deve ser tomado pontualmente devido ao seu alto custo. Se pagou uma parte e não parcelou, a pessoa entrou no rotativo com essa taxa de quase 400%. Agora, se parcelou, a taxa média é de 90,9% como um todo”, explicou.

É o que fez a gerente Maria Ilda Barbosa, que disse conseguir controlar as contas e pagar a fatura do cartão de crédito à vista. Há dois anos ela teve que parcelar e não se conforma com o aumento da conta até hoje. “Nunca mais! Agora sei que poderia ter trocado essa dívida por um crédito consignado onde os juros são menores, mas na época eu não sabia dessa opção e financiei com a própria administradora do cartão”, contou.

É isso que recomenda a auditora fiscal Maria Candida Carvalho, 60 anos: fazer um empréstimo consignado para pagar a dívida do cartão de crédito de uma só vez. Ela mesma nunca ficou inadimplente a ponto de financiar a dívida. “Só paguei os juros do cartão uma única vez por esquecimento. Eu tinha uma aplicação sem resgate automático e por isso fiquei negativa, mas foi por pouco tempo”, relatou. “Os juros aqui no Brasil são totalmente abusivos. É um dos países com as taxas mais altas do mundo e os bancos acompanham, simples assim. E eu não pretendo pagá-los, se puder evitar”, desabafou.

A vendedora Vanessa Andrade, 32 anos, quebrou o cartão de crédito depois que se enrolou com uma dívida de R$ 2 mil no ano passado. “Parcelei em cinco vezes e quebrei o cartão de crédito porque esses juros não são de Deus. Agora só uso cartão de débito”, afirmou.

Para Otto Nogami, professor de economia do Insper, somente as pessoas que levaram um susto é que costumam tomar mais cuidado na obtenção de crédito. “Estamos num momento crítico, todo mundo controlando gastos, mas não podemos esquecer que estamos no segundo semestre e à medida que as datas festivas vão se aproximando, as pessoas perdem o controle. Historicamente esse período apresenta o maior pico de consumo”, advertiu.

No cheque Por isso, o consumidor precisa tomar cuidado com a outra modalidade de crédito que bateu recorde em julho: o cheque especial com taxa de 246,9% ao ano. Um aumento de 5,6 pontos percentuais de junho para julho. No ano os juros já acumulam alta de 45,9%. Esse tipo de linha de crédito é aquele quando a pessoa ultrapassa o limite do especial e entra no vermelho na conta bancária. É a mais cara depois do rotativo do cartão de crédito. A falta de pagamentos nessa linha cresceu de 14,3% em junho para 14,9% em julho.

A aposentada Zaneide Queiroz, 62 anos, não quer nem lembrar do momento que descobriu que estava negativa no cheque especial. Ela emprestou uma folha de cheque para o cunhado que fez um gasto maior do que o combinado. Pior, não contou nada para ela, que só descobriu depois que o gerente ligou. “Acabou o afeto” resumiu. Ela só conseguiu quitar a dívida fazendo um empréstimo pessoal consignado em 12 meses.

O crédito consignado (aquele em que empréstimo é descontado direto na folha de pagamento) é a linha mais barata que a pessoa física tem acesso. Mesmo assim, a taxa em julho subiu para 27,8%. O que não é muito quando comparado com o crédito pessoal que foi para 49%. O chefe do departamento econômico do BC disse que o crédito consignado apresentou um aumento de R$ 2 bilhões na carteira. “A maioria é de servidores públicos ou aposentados”, esclareceu

Mudança
Outro item que o BC observou foi que o comprometimento da renda vem demonstrando uma redução. A relação crédito/renda é de queda de 0,1%. “O comprometimento manteve-se estável, excluído o crédito imobiliário que caiu 2%”, esclareceu Maciel. E acrescentou: “é natural que o crédito crescendo em ritmo menor, logo o endividamento e o comprometimento da renda mude de comportamento. Além disso, a postura dos bancos na concessão é de mais rigor”, disse Maciel.

Mas Nogami discorda dessa visão. “É uma tendência natural, na medida que tem uma economia recessiva, com estatísticas de atraso e inadimplência, que se aumente a taxa de juros e, portanto, o consumo diminua. Passamos do momento da artificialidade do crédito fácil que fazia as pessoas se sentirem ricas. E as instituições financeiras têm de avaliar o risco de inadimplência para subir o juros e preservar a liquidez”, defendeu.

Aperto para as pequenas

Brasília – A inadimplência bateu forte nas pessoas jurídicas (empresas). O capital de giro representa dois terços da carteira de inadimplência. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, destaca que “há indícios de que sejam as pequenas e médias empresas, ligadas ao setor produtivo, que estão tendo maiores dificuldades” para quitar suas dívidas em dia. As operações abaixo de 365 dias apresentaram uma taxa de 4,1%, “a mais alta da série histórica”, reforçou Maciel. Há um ano, esse índice era de 3,5%. Otto Nogami, professor de economia do Insper, explica que com a economia em recessão, as empresas não conseguem desovar estoques. “Isso reflete no caixa das companhias que têm dificuldade de honrar compromissos financeiros”, salientou

Os empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) cresceram 0,9% totalizando R$ 615,195 bilhões. Em 12 meses atingiram 13,8%. Maciel disse que “o efeito câmbio” seria o responsável por esse aumento. “Se não fosse a variação cambial, teríamos uma queda de 0,3% em julho e em 12 meses iria para 13,2%”, constatou. Maciel ainda ressaltou a desaceleração da concessão de crédito do banco de fomento. “No fim de 2014 estavam em 16% e agora giram em torno de 13%”.

Maciel explica que as condições menos favoráveis dos juros e a redução da atividade econômica explicam a diminuição de crédito do BNDES. Os bancos públicos foram os únicos a ampliar a carteira de crédito em julho. O aumento foi de 0,9%, com recursos da ordem de R$ 1,7 trilhão, o que corresponde a 55% do mercado. Os bancos privados nacionais reduziram a participação em 0,3%, para R$ 941, 4 bilhões. (CP)

Crédito imobiliário

O crédito imobiliário continua crescendo, mas com moderação. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, ressaltou que em 2010 o crédito aumentava a uma taxa de 50%, em junho foi de 23% e em julho atingiu 22%. Ele credita a queda às alterações nas condições de financiamento e nas taxas de juros que subiram. “No final de 2014 eram de 8,9% e agora atingiram 10,7% em julho. Agora estamos em outro patamar no volume de concessões de crédito imobiliário”, admitiu.


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