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Estado de Minas

Vendas de Minas para a China despencam

Com desaceleração na economia chinesa, vendas do estado para país asiático têm queda de 45% no ano puxadas pelo tombo no preço do minério de ferro. Bolsas despencam no mundo


postado em 25/08/2015 06:00 / atualizado em 25/08/2015 07:26

A brusca queda no valor das commodities nos últimos meses impactou diretamente o resultado das exportações brasileiras para a China neste ano. Com os novos rumos da economia chinesa, a demanda por minério e outros produtos teve forte queda. Principal parceiro comercial do país desde 2009, apesar de o volume negociado de minério com o gigante asiático ter se mantido estável em relação ao ano passado, o valor das remessas firmadas se dissolveu. O total negociado de minério representa menos da metade do valor no comparativo entre os sete primeiros meses de 2014 e 2015. A fuga de investidores das bolsas asiáticas, segundo especialistas, pode agravar o cenário, com desaceleração ainda mais forte do crescimento chinês.

Os números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) mostram que, pela primeira vez em uma década, as exportações brasileiras para a China apresentaram queda nos sete primeiros meses do ano. O recuo foi de 19,43% em relação ao ano passado. O corte é ainda mais profundo ao se analisarem os dados das exportações mineiras: -45,05% no período. No caso do estado, no ano passado já havia se registrado queda no indicador.

A explicação para a retração está na forte perda de valor do minério de ferro no mercado internacional. O volume negociado entre Minas Gerais e China manteve-se estável neste ano (59 milhões ante 58,7 milhões de toneladas). Apesar disso, a cifra paga pelo produto derreteu. Em valores absolutos, as exportações de minério totalizaram US$ 4,58 bilhões entre janeiro e julho de 2014, enquanto neste ano caíram para US$ 2,10 bilhões. Isso representa um corte de 54,15% no valor total do produto.

O panorama é retrato da mudança de paradigma da política econômica chinesa. Depois de um período de taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nas alturas, o governo tem segurado um pouco o avanço. E, em vez de priorizar os investimentos em infraestrutura, o foco agora é o consumo interno. Apesar de a alteração de rota não ser bem uma novidade, a possibilidade de a desaceleração ser mais forte do que a imaginada tumultuou o mercado financeiro global nos últimos dias, com forte queda nas bolsas mundo afora. “É uma transição não tão fácil”, analisa o professor de relações internacionais da PUC-RJ e pesquisador do Brics Policy Center, Paulo Wrobel.

A avaliação do especialista é que a tendência é mudança de patamar no crescimento dos países emergentes, que, nos últimos anos, avançaram a taxas mais altas que as nações desenvolvidas. Depois de crescer a dois dígitos nos últimos 30 anos, a taxa chinesa deve ficar abaixo de 7% neste ano. “A demanda chinesa caiu e levou os preços das commodities junto”, diz Wrobel. E acrescenta não vislumbrar um cenário próspero para o Brasil e para Minas Gerais, “do ponto de vista da exportação de commodities”, inclusive com possibilidade de o volume demandado, assim como os preços, cair.

Risco no ar O diretor de câmbio da corretora Correparti, Jefferson Luiz Rugik, avalia que a fuga de capitais da China pode aprofundar a desaceleração do país, o que, numa ciranda de efeitos, acabaria por diminuir ainda mais a demanda por commodities. Para frear o ritmo de queda, segundo ele, é preciso algum tipo de sinal do gigante asiático quanto à desaceleração da economia. “Pode ser que a volatilidade seja de curto prazo, depende do governo chinês injetar mais dinheiro para fazer a economia rodar”, afirma Rugik.

Ao longo do chamado superciclo das commodities, países exportadores desses produtos, como o Brasil, investiram pesado para aumentar a oferta de olho na alta rentabilidade no mercado global. A cotação da tonelada do minério de ferro chegou a atingir valor superior a US$ 150. Neste ano, depois de bater no menor nível desde a crise de 2009, a cotação está próxima de US$ 50.

Na Bovespa, o nível de pontos ontem retornou ao patamar de 2009(foto: Miguel Schincariol/AFP )
Na Bovespa, o nível de pontos ontem retornou ao patamar de 2009 (foto: Miguel Schincariol/AFP )
“É uma nova realidade. Não haverá aumento de demanda tão forte para absorver toda essa oferta”, afirma o diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Kevin Tang. E adverte: “Vários investimentos em minas eram rentáveis com valor antigo, mas não são com o valor atual”. A afirmação corrobora com a análise do Banco Central do Brasil diante da atual situação da economia chinesa.

A perspectiva do BC é de paralisação das atividades minerárias em algumas unidades de Minas com o novo valor do minério de ferro. “É esperado que algumas plantas deixem de produzir no estado, principalmente aquelas com preço mais caro”, disse o coordenador da gerência técnica de Estudos Econômicos do Banco Central (BC) em Minas Gerais, Rodrigo Lage de Araújo, em evento em Belo Horizonte, na sexta-feira.

Risco chinês derrubam ação

A China gerou uma forte onda de aversão ao risco e derrubou as ações pelo mundo ontem, incluindo a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que teve sua maior queda neste ano e fechou no menor nível desde abril de 2009. Apenas duas ações terminaram no azul, enquanto os papéis relacionados a commodities exibiram os maiores tombos. O Ibovespa, que chegou a cair mais de 6% no início do dia, terminou o pregão em baixa de 3,03%, maior recuo porcentual desde 12 de dezembro de 2014. Fechou aos 44.336,47 pontos, menor nível desde 8 de abril de 2009 (44.181,98 pontos). No mês, acumula perda de 12,83% e, no ano, de 11,34%. O giro financeiro totalizou R$ 8,199 bilhões, o maior do mês excluído o pregão de 12 de agosto, quando houve exercício de Ibovespa futuro e opções sobre Ibovespa.

Os fracos indicadores recentes divulgados na China criaram uma expectativa por medidas de estímulo que não vieram no fim de semana. Ontem, a bolsa chinesa desabou 8,5% e as demais bolsas globais acompanharam o movimento de venda, num efeito manada disseminado por todo o mundo. Os preços das commodities caíram forte. Na Nymex, o petróleo caiu 5,46% no contrato para outubro, a US$ 38,24 o barril, enquanto o preço do minério de ferro caiu 4,1% no mercado à vista chinês, para US$ 53,3 a tonelada seca.

A Europa teve perdas de 4% a 6% e até mesmo as bolsas norte-americanas não economizaram: no fechamento, as quedas variaram entre 3% e 4%. O Dow Jones terminou o dia em baixa de 3,58%, aos 15.871,28 pontos, o S&P recuou 3,94%, aos 1.893,23 pontos, e o Nasdaq caiu 3,82%, aos 4.526,25 pontos. Segundo o pesquisador do Brics Policy Center, Paulo Wrobel, o efeito sistêmico da queda da Bolsa de Xangai é demonstração do impacto global da China, algo antes restrito aos Estados Unidos. “Todas as bolsas caíram no mundo, do Brasil à Austrália”, afirma, ressaltando se tratar de impacto diferente do sentido com a crise na Grécia. E adverte: “Essa turbulência financeira das últimas semanas pode incidir em uma queda ainda maior de investimentos da China”.

“O governo tem buscado conter a queda dos mercados, mas perdeu a mão. Os incentivos que concedeu anteriormente para ajudar na formação de uma classe média consumidora e que pudesse investir em Bolsa estão sendo revertidos pela perspectiva de uma desaceleração mais forte da economia”, avalia Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

Agora, a expectativa dos investidores é que, após a queda generalizada de ontem, o governo chinês possa promover uma nova rodada de estímulos econômicos no país. Alternativa que, na visão de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, não vai se concretizar. “A China vive uma bolha no mercado acionário. O governo está achando bom desinchar a Bolsa, pensando no longo prazo”, avalia.

Impacto Na Bovespa, apenas duas ações subiram: Natura ON (+2,18%) e Cia. Hering ON ( 1,17%). A lista de maiores quedas foi encabeçada por Metalúrgica Gerdau PN (-12,46%), Usiminas PNA (-10,42%) e Oi PN (-9,67%). Petrobras ON terminou em baixa de 5,43%, a R$ 8,70, Petrobras PN caiu 6,51%, a R$ 7,76, Vale ON recuou 7,78%, a R$ 15,40, e Vale PNA ficou 7,96% mais barata, a R$ 12,38. Em meio à forte turbulência no cenário internacional provocada pela China, o dólar fechou em alta de 1,62% frente ao real, cotado a R$ 3,553.

BAIXA nos pregões
China
-8,5%

Ibovespa
-3,03%

Dow Jones
-3,58%

Nasdaq
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