(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Grécia é usada, diz auditora brasileira

Economista que analisou dívida em Atenas afirma que o país serve para mascarar plano de salvamento de bancos privados


postado em 07/07/2015 06:00 / atualizado em 07/07/2015 07:37

“A Grécia foi usada para mascarar um enorme plano de salvamento de bancos privados.” Quem faz a denúncia é a coordenadora nacional do movimento Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lúcia Fattorelli, que acaba de voltar ao Brasil depois de sete semanas em Atenas. A convite do Parlamento, a brasileira integrou a comissão de auditoria da dívida grega, formada por 35 especialistas. O trabalho preliminar identificou um esquema de desvio de recursos públicos para o sistema financeiro.

Em 2007, Maria Lúcia Fatorelli foi convidada pelo presidente do Equador, Rafael Correa, para ajudar na identificação de ilegalidades na dívida equatoriana. A auditoria diminuiu em 70% o estoque dos débitos. Segundo a auditora aposentada da Receita Federal, que participou de palestra ontem, em Belo Horizonte, o país comandado pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras tem sido submetido a uma fraude em benefício de instituições financeiras.


“A dívida grega é ilegal e fraudulenta. Pode ser que a maior parte dela não tenha que ser paga”, afirma. Entre as irregularidades, segundo ela, estão a inclusão indevida de títulos e papéis, além da falsificação de estatísticas. O endividamento da Grécia já alcançou 271 bilhões de euros, o correspondente a 177% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

A especialista afirma que os primeiros acordos firmados entre a Grécia e o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE) e a Comissão Europeia, em 2010, incluíram série de medidas irregulares, sob o pretexto de preservar a estabilidade econômica da Europa. O objetivo foi livrar bancos privados da “bolha”, ou seja, papéis podres que abarrotavam as instituições financeiras.

“O primeiro lote de acordos, em 2010, beneficiou principalmente bancos privados que detinham títulos desvalorizados”, explica. O objetivo principal era ajudar essas instituições a transferir “ativos tóxicos” para os países europeus. A auditoria identificou ainda cerca de 50 bilhões de euros irregulares na dívida. “O déficit que justificou o pacote de ajuda à Grécia estava inflado por itens que não lhe pertenciam”, afirma Maria Lúcia.

Ela também revela que a criação de empresa Facilidade para Estabilidade Financeira Europeia (EFSF), em Luxemburgo, foi outra estratégia para tirar a crise dos ombros da iniciativa privada. Em tese, a empresa viabilizaria empréstimos para países a partir de “instrumentos financeiros”, e não de dinheiro. Em 2012, a Grécia assinou contrato com a EFSF.

Mudança de paradigma

“O verdadeiro propósito era transferir uma pilha de papéis podres do banco privado para o setor público. Antes da auditoria, ninguém tinha noção do que realmente se tratava, do que era realmente essa empresa de Luxemburgo”, afirma Maria Lúcia, satisfeita com o resultado do referendo grego, que rejeitou novo pacote de ajustes com alta de impostos, cortes de gastos e de aposentadorias.

De acordo com a especialista, a atitude pode levar a uma mudança de paradigma. “A Grécia se mostra, de novo, como o berço da democracia. Eles estão tirando da sombra a profundidade dessa crise. A culpa é dos bancos privados, desse esquema que usa o endividamento público para fazer a reciclagem dos títulos”, reforça Maria Lúcia, que alerta que o problema está disseminado no mundo e defende auditoria da dívida brasileira.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)