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Estado de Minas COMÉRCIO DE RUA

Recessão faz venda despencar na feira hippie

Inflação e juros altos, crédito restrito e medo de desemprego afastam os consumidores. Expositores afirmam que queda neste semestre em relação ao ano passado chega a 70%


postado em 06/07/2015 06:00 / atualizado em 06/07/2015 07:29

Corredores mais vazios e ausência de compradores de outros estados mostram a desaceleração nos negócios(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Corredores mais vazios e ausência de compradores de outros estados mostram a desaceleração nos negócios (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

O primeiro semestre de 2015 foi uma verdadeira prova de fogo para os expositores da Feira de Artes, Artesanato e Produtores de Variedades de Belo Horizonte, a tradicional Feira Hippie, que funciona aos domingos, na Avenida Afonso Pena, no Centro. Influenciada pela alta da inflação e dos juros, além do crédito mais restrito e do medo crescente de perder o emprego, as vendas no local caíram cerca de 70%, se comparado ao primeiro semestre do ano passado. Os corredores estão mais vazios e a tradição de receber excursões vindas do interior do estado e outras partes do país com os “sacoleiros” que compravam os produtos e revendiam em suas cidades praticamente acabou.

Paulo Rizero mostra bolsa a cliente: faturamento caiu 30%(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Paulo Rizero mostra bolsa a cliente: faturamento caiu 30% (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Dos 12 segmentos encontrados na feira, entre sapatos, bolsas, cintos, bijuterias, vestuário, artigos para decoração, móveis e produtos infantis, todos registraram entre 40% e 70% de queda nas vendas, de acordo com os feirantes. A retração do comércio na Feira Hippie apresenta indicadores muito piores do que os do varejo em geral, que, no acumulado do ano, caiu 1,5%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística (IBGE). Não bastasse o cenário de dificuldades econômicas, os feirantes ainda enfrentam uma crise de representação. Alguns deles trabalham para fundar uma nova associação e se opor à já existente, a Associação dos Expositores da Feira de Artesanato e Variedades da Avenida Afonso Penas (Assfeira). Segundo eles, o objetivo é exigir uma melhor representação junto à Prefeitura de Belo Horizonte.

A situação preocupa feirantes que dizem não saber mais o que fazer para tentar reverter o quadro e se veem obrigados a buscar uma segunda atividade como fonte de renda. O casal de expositores Paulo Rizero e Imaculada Lima conta que as vendas na barraca caíram cerca de 30% neste ano e a produção que antes era de 100 bolsas por semana passou para 30. Para dar conta das despesas da casa, Imaculada começou a dar aulas de reforço escolar. “Já reinventamos nosso produto, melhoramos a qualidade, mas não adianta. O povo está receoso para gastar. Hoje, quando vendemos 20 bolsas num domingo temos que comemorar, e muito”, disse Rizero.

Com recuo de 70% na feira, Mariana aposta nas redes sociais (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Com recuo de 70% na feira, Mariana aposta nas redes sociais (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Com produtos para o público infantil, a feirante Mariana Rosa Martins, que assumiu a barraca da família, conta que nunca viu uma queda tão brusca nas vendas e se preocupa com o futuro. Ela conta que, há quatro anos, cerca de 18 pessoas ajudavam na fabricação dos produtos vendidos na feira. Hoje, sobraram apenas cinco ajudantes. “As vendas caíram mais de 70% somente neste ano. A crise está instalada e já chegou à feira sim. As pessoas estão com medo de gastar e o público atacadista não vem mais”, relata. Para tentar equacionar as contas, Mariana diz que aposta nas vendas em redes sociais, como Facebook e Instagram, e afirma que já até pensou em desistir de expor os produtos na feira.

Apesar de ter produtos que estão em alta na moda brasileira, a expositora de bijuteria Rejane Garcia aponta declínio de 40% nas vendas. Segundo ela, os revendedores que compravam cerca de R$ 600 em produto agora compram a metade. Por conta da queda, Rejane precisou dispensar há cerca de um mês um dos ajudantes na fabricação dos produtos. “Tivemos que diminuir e espero que essa crise pare por aqui. Mudamos a forma de trabalhar para tentar reverter o quadro. Apostamos sempre em promoções, damos garantia do produto e trabalhamos com troca nos casos em que os revendedores não conseguem comercializar a peça”, completa.

Fidolo e Márcia Cabanilas pararam de produzir chinelos em janeiro (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Fidolo e Márcia Cabanilas pararam de produzir chinelos em janeiro (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Pior ano até agora

Expositor desde os anos 1990, o casal Fidolo e Márcia Cabanilas afirma que 2015 é até agora o pior ano de vendas na sua barraca. A produção dos chinelos parou em janeiro. Antes os dois produziam 100 pares por semana. Fidolo afirma que se não fosse o salário da aposentadoria, não sabe como faria para custear as contas da casa. “Já fizemos de tudo para atrair mais clientes. Damos descontos quando os clientes levam mais produtos, parcelamos no cartão, mas não adianta, ninguém quer gastar”, lamenta. Ainda de acordo com Fidolo, a situação é tão ruim que alguns amigos de feira, cerca de cinco ou seis, já desistiram de tocar o negócio e abandonaram suas barracas.

A servidora pública Rosarlete de Assis Rotrodel é uma das consumidoras que reduziram os gastos na feira. Acostumada a passar pelo local todo domingo, antes ela levava cerca de R$ 200 em dinheiro e ainda fazia compras no cartão de crédito. Hoje, as idas à feira diminuíram, assim como o consumo que passou para cerca de R$ 100 por visita. “Só vim hoje para comprar um presente para o marido. Acabei comprando umas almofadas, mas não gastei metade do valor que eu gastava antes. Com inflação mais alta e juros altos, a gente compra só o essencial e corta os supérfluos”, conta.

Na banca de sapatos do feirante Marcos Ferreira Diniz que é expositor há mais de 30 anos, as vendas caíram mais de 70% neste ano. Ele conta que, apesar de ter muitas pessoas andando nos corredores da feira, a maioria não compra. Ainda de acordo com ele, de todos os anos de experiência, esse tem sido o pior. “Está difícil para todo mundo. Ninguém tem dinheiro para comprar. Antes a feira era cheia de sacoleiros que vinham e compravam cerca de 100 pares por vez. Hoje, essa mesma pessoa vem com uma frequência menor e compra 10 pares de sapato porque ela não sabe se vai conseguir vender”, explicou. Marcos afirma ainda que não há nenhuma expectativa de que o comércio na feira volte a crescer, pelo menos enquanto a economia do país continuar nos mesmos patamares.

Alívio nas barracas de móveis

Expositores da Feira Hippie reclamam de queda acentuada nas vendas, poucos enxergam um mercado mais otimista e afirmam que só tem o que comemorar. É o caso do feirante de móveis José Correia do Carmo. Ele afirma que não está dando conta de produzir para atender a demanda e que suas vendas aumentaram cerca de 10% neste ano. “Hoje eu só não vendi mais mesas porque eu não tinha cadeiras para compor o conjunto”, relatou. Correia acredita que o sucesso nas vendas é conquistado pela tradição da barraca e a qualidade dos produtos. “A propaganda é boca a boca”, garante.

Outro expositor de móveis, Ricardo Peregrino também comemora o crescimento de 20% nas vendas deste ano. Segundo ele, a modernização e adequação ao mercado são fatores relevantes que contribuem com o saldo positivo. “Você tem que ir mudando e criando novos produtos, com a cara do novo consumidor. Se isso não ocorre, você não consegue vender. Tem dias que são mais difíceis, a economia não está lá essas coisas, mas ainda estou conseguindo um bom resultado. Se as vendas começarem a cair, é sinal de que preciso mudar”, avalia.


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