(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Cidades temem retrocesso com demissões em fábricas do Norte de Minas

Com usinas desligadas, Norte de Minas já sente o impacto social e econômico de demissões nas empresas de ferroligas e reflorestamento. Lideranças buscam solução para o problema


postado em 02/07/2015 06:00 / atualizado em 02/07/2015 07:27

Protesto contra o desemprego em Pirapora interrompeu o tráfego na ponte sobre o Rio São Francisco (foto: Aparicio Mansur/Divulgação -protesto em Pirapora)
Protesto contra o desemprego em Pirapora interrompeu o tráfego na ponte sobre o Rio São Francisco (foto: Aparicio Mansur/Divulgação -protesto em Pirapora)

A onda de desemprego em indústrias intensivas no consumo de energia no Norte de Minas Gerais, turbinada pela alta do insumo neste ano, ameaça dezenas de municípios da região que têm suas economias centradas na geração de trabalho e renda a partir dessas indústrias, além da arrecadação de tributos. Em protesto contra o corte de mais de 3 mil vagas só nas usinas paralisadas, sindicatos de trabalhadores e lideranças políticas do Norte do estado fecharam ontem em Pirapora, por três horas e meia, o trânsito na BR 365, – rodovia que liga a área ao Triângulo Mineiro, e na ponte sobre o Rio São Francisco.

A energia é como o coração das plantas industriais, responsável por até 45% do custo de produção de boa parte das companhias. Com a elevação da conta, as empresas do setor começaram a desativar as usinas em abril, quatro meses depois do encerramento dos contratos de fornecimento de energia da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) firmados por 10 anos, com vencimento em dezembro de 2014. Sem acordo para a renovação a preços que consideram viáveis para a continuidade das operações, as indústrias de ferroligas paralisaram cerca de 80% da produção em Minas e estimam ter dispensado 3 mil trabalhadores especializados na atividade, de acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Ferroligas e Silício Metálico (Abrafe).

O impacto da paralisação do setor já é dramático nos municípios que abrigam a maioria dos fornos, especialmente o Norte de Minas. Em Bocaiúva, estimativas do sindicato local dos metalúrgicos são de que o corte de empregos no setor, incluindo o trabalho no reflorestamento, se aproxima de 7 mil vagas em 11 cidades da região, onde se concentram a produção de ferroligas e a de madeira para o segmento e os fornecedores de ferro-gusa, matéria-prima do aço. “Tentamos nos sentar com representantes da Cemig e o governo Fernando Pimentel, além de pedir o apoio da Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais), mas não conseguimos fazer com que a companhia negocie num preço razoável para não haver demissões”, afirma o presidente da entidade, Delson Oliveira.

Em Capitão Enéas, o presidente do sindicato local dos metalúrgicos, Antônio Tavares de Castro, descreve cenário de apreensão. O comércio da pequena cidade de 15 mil habitantes sofre os impactos da crise. Segundo ele, as empresas se instalaram na região, área da Sudene, com incentivos do governo já que gerariam emprego e renda. “Agora estão demitindo e parando a atividade”. Gersy de Souza Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Várzea da Palma, contabiliza mais de 1 mil demissões na cidade de 40 mil habitantes. O prefeito do município, Eduardo Monteiro de Moraes, define a situação de sua região como um barril de pólvora. “Crescem o desemprego, a violência, os homicídios”. No município, 80% dos empregos diretos são gerados pelo setor.

Em Bocaiúva, os lojistas amargam queda dos negócios entre 30% e 40% desde janeiro, estima Antônio Marcos Vieira, presidente da Câmara de DirigentesLojistas (CDL) local. “É uma situação que nos preocupa numa cidade de 50 mil habitantes. Esperamos uma solução”, afirma. O presidente da Abrafe, Eduardo Caram Patrus, afirma que a paralisação das operações é também drástica para as empresas. “Não estamos entregando produtos. Ainda existe uma lembrança das nossas marcas, mas não podemos desaparecer do mercado porque senão teremos que recomeçar do zero”, afirma. As empresas pagavam R$ 110, em média, por megawatt/hora de energia, incluindo todas as etapas do fornecimento, da geração à distribuição. Ao preço proposto no começo de junho para a renovação de contratos, teriam de pagar R$ 388 pelo MWh.

Demitidos sem perspectiva

O protesto de ontem em Pirapora contou com a participação de quem sofre na pele os efeitos da paralisação das atividades da indústria, por conta do custo elevado da energia elétrica. É o caso do engenheiro metalúrgico Wesley Carlos, que ficou desempregado em maio último, depois de sete e anos de trabalho no setor. “Se a energia continuar em alta não teremos qualquer possibilidade de voltar ao trabalho”, afirmou Wesley. Amarildo José Viana perdeu o emprego em maio. “Ex-funcionários estão passando por necessidades”, diz.

Os organizadores da manifestação de ontem reivindicam a extensão ao Norte de Minas dos mesmos benefícios da Medida Provisória 677, assinada pela presidente Dilma Rousseff no último dia 22, que autoriza indústrias eletrointensivas do Nordeste a obter energia barata na prorrogação até 8 de fevereiro de 2037 de seus contratos de fornecimento firmados com a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf/Eletrobras). O governo estadual promete buscar uma solução junto das prefeituras municipais e das empresas eletrointensivas de energia. O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Altamir de Araújo Rôso Filho, afirmou ao Estado de Minas que a MP 677 será avaliada do ponto de vista de uma possibilidade de isonomia.

“Vamos chamar os prefeitos e a Cemig para tentar resolver o problema. Não há nenhuma economia que evolua sem uma indústria forte e que tem peso importante na produção de bens do estado”, diz Altamir Rôso. Por meio da Medida Provisória 677, que tramita no Congresso Nacional, a União prorrogou contratos com direito à energia barata de indústrias eletrointensivas do Nordeste, como Braskem, Vale e Gerdau. Os novos preços ficarão em torno de R$ 130 o megawatt/ hora em contratos de 20 anos.

Em nota, a Cemig informou que o preço de mercado da energia para este ano “sofreu uma forte alta em função das condições hidrológicas desfavoráveis”. Sem dar detalhes, a concessionária afirma que vem conseguindo renovar contratos com empresas de ferroligas e outras indústrias que já são clientes, “ a um preço razoavelmente módico no caso de contratos de longo prazo”. (LR e MV)

Petrobras investiu R$ 1,25 bilhão, representando 30% das obras (foto: Prefeitura de Uberaba/Divulgação )
Petrobras investiu R$ 1,25 bilhão, representando 30% das obras (foto: Prefeitura de Uberaba/Divulgação )
Paralisada fábrica de amônia

A fábrica de amônia da Petrobras em construção no município de Uberaba, no Triângulo mineiro, entrou na lista de projetos paralisados pela estatal do petróleo, como parte da revisão de seus investimentos, e não deverá funcionar no início de 2017, como previsto no cronograma que já havia sido revisto do empreendimento. A Unidade de Fertilizantes Nitrogenados V consumiu R$ 1,25 bilhão e o atraso vai postergar outros aportes da ordem de R$ 750 milhões, além de congelar a abertura de mais de 3 mil postos de trabalho. A Prefeitura de Uberaba considera que as obras podem ser adiadas em até dois anos.

O fornecimento do gás, vital para o funcionamento da fábrica, foi apontado pela Petrobras, como decisivo para a paralisação da unidade. A estatal informou que 30% das obras físicas estão concluídas, sem contrapartida do gasoduto. “Entre os fatores que levaram a esse estágio de hibernação está o adiamento sucessivo dos compromissos assumidos pela Gasmig (Companhia de Gás de Minas Gerais) para construção do gasoduto que forneceria o gás natural à planta. A estatal mineira não apresentou evidências de que vai construir o gasoduto no prazo e nas condições acordadas no contrato celebrado com a Petrobras”, ressaltou a Petrobras em nota.

Apesar de já terem sido investidos pela estatal mais de 60% dos R$ 1,95 bilhão orçados para a fábrica de amônia, o duto que vai levar o gás até a planta de Uberaba ainda nem sequer saiu da fase de projetos e não tem cronograma definido. “Se a Petrobras termina a construção de uma planta em um local onde não existe energia, o investimento se torna uma chacota internacional”, enfatiza o prefeito de Uberaba, Paulo Piau.

Piau que chega hoje a Belo Horizonte para participar de reunião sobre o investimento, “O gasoduto é vital, sem ele a fábrica da Petrobras é uma peça de ficção”, diz o consultor Eduardo Nery, diretor da Energy Choice, especializada em desenvolvimento sustentável.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Altamir Rôso, comentou que o projeto de Uberaba foi colocado em hibernação para que a companhia estude a melhor forma de viabilizá-lo. Quanto ao gasoduto, Rôso considera que a parceria com a iniciativa privada pode ser um formato viável para alavancar o investimento. Em nota, a Cemig e a Gasmig informam que a construção do gasoduto vai depender do novo cronograma de investimentos que a Petrobras está elaborando para a unidade de fertilizantes em Uberaba. Segundo a companhia o projeto básico já está concluído e o projeto executivo está sendo finalizado. As obras do gasoduto vão abastecer a planta da Petrobras e as regiões do Triângulo, Alto Paranaíba e Oeste de Minas. (MC)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)