O consumo das famílias, que foi a mola propulsora do governo nos últimos 12 anos, desabou. No primeiro trimestre deste ano, o indicador, que, pela ótica da demanda, responde por 62,5% do Produto Interno Bruto (PIB), caiu 1,5% em relação ao quarto trimestre do ano passado. Em comparação ao mesmo período de 2014, foi registrado recuo de 0,9%, o que não ocorria desde o terceiro trimestre de 2003. Em comum, os dois períodos registram os piores índices de confiança na economia. Naquela época, desconfiança se justificava pela mudança de governo. Agora, o temor é resultado da deterioração dos indicadores provocada pela má condução da política econômica do governo Dilma Rousseff. Segundo a coordenadora das contas nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca de La Roque Paris, uma conjuntura de fatores foi determinante para a retração no consumo.
“Houve uma desaceleração da massa salarial real, ou seja, da renda do trabalhador e do emprego. As operações de crédito para as pessoas físicas tiveram queda em termos reais. E tivemos aumento da taxa básica de juros, junto com uma alta da inflação” enumerou. Atolados em dívidas e com o bolso corroído pela carestia, os brasileiros estão cortando supérfluos e gastando menos no mercado de bens e serviços. O crédito mais caro e escasso tem feito os consumidores adiarem compras a longo prazo e gastos com duráveis, como móveis, eletrodomésticos e automóveis.
Esse cenário, que já estava se arrastando em 2014, foi agravado com o desaquecimento da economia e a deterioração do mercado de trabalho ao longo do primeiro trimestre. Para o diretor de pesquisa da consultoria GO Associados, Fábio Silveira, a contração da conjuntura é uma continuidade do ajuste que já foi iniciado no ano passado, quando a indústria dava mostras de queda acentuada de importação e exportação, e redução de emprego. “Agora, esse processo está se alastrando e chegando de maneira mais aguda no comércio e nos serviços”, afirmou.
“O cenário aprofunda a corrosão do consumo das famílias para o ano, que deve cair 1,9% e puxar o PIB para uma recessão de 2%”, analisou o economista da GO Associados. No resultado traçado pela consultoria, o indicador atingiria o pior patamar da série histórica do IBGE — datado a partir de 1996. O índice deixaria para trás até mesmo os resultados obtidos em 2003 e 1998, de queda de 0,7%.
A Confederação Nacional do Comércio (CNC), no entanto, prevê recuo de 0,6% do consumo das famílias este ano. “Tudo vai depender do comportamento dos preços”, admitiu Fábio Bentes, economista da entidade. Para ele, a inflação dos produtos comercializáveis vai ser menor e abrir espaço para uma recuperação do consumo.