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Estado de Minas

Dólar valorizado e desemprego fazem deportados sonhar com volta aos EUA

Mineiros do Vale do Rio Doce que viviam clandestinamente nos Estados Unidos e foram obrigados a retornar ao Brasil planejam voltar legalmente


postado em 25/05/2015 06:00 / atualizado em 25/05/2015 07:34

A cabeleireira Cláudia Machado tentou entrar na terra do Tio Sam em dezembro e foi detida: saudades dos ganhos na América(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
A cabeleireira Cláudia Machado tentou entrar na terra do Tio Sam em dezembro e foi detida: saudades dos ganhos na América (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Governador Valadares e Fernandes Tourinho – Edmar Teodoro da Silva, de 40 anos, morou nos Estados Unidos de 1999 a 2004 e de 2005 a 2012. As duas entradas na América, como ele se refere ao país governado por Barack Obama, ocorreram de forma ilegal: “Ambas pelo México. Na primeira, levei 26 dias para chegar lá. Na outra, apenas seis”. Foi durante a última passagem pela terra do Tio Sam que sua condição de imigrante irregular foi descoberta pela polícia local. Resultado: Edmar ficou detido por dois meses e deportado para o Brasil.

“Esses dois meses pareceram um ano. Fui deportado, apenas com a roupa do corpo, depois que assinei um documento me comprometendo a não retornar aos Estados Unidos pelo prazo de 10 anos sob possibilidade de ser condenado a 25 anos de cadeia”, conta o homem, morador da pacata Fernandes Tourinho, cidade do Vale do Rio Doce com cerca de 3 mil habitantes. Desde que retornou à terra natal, em 2012, ele não conseguiu emprego com boa remuneração: “Ganho R$ 40 diários com os bicos que faço na roça”.

Edmar, porém, sonha em retornar aos Estados Unidos, onde conseguiu ser dono da própria empresa. “Comecei como empregado na área de jardinagem. Depois, consegui montar a minha. Desde que voltei não consegui bom emprego. O que a gente faz com R$ 40 (da diária que ele ganha com bico)? Está tudo caro no supermercado e falta emprego no Brasil.”

Para se ter ideia, dados divulgados na quinta-feira pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que o país perdeu 97,8 mil vagas formais em abril, o pior resultado para o mês desde 1992 (63,1 mil postos fechados). Em Minas Gerais, foram encerradas 6,9 mil vagas, no pior resultado para o mês desde 2003 (10 mil postos fechados).

Edmar planeja aguardar o prazo de 10 anos a que se comprometeu com o governo americano para tentar retornar à América, mas dessa vez de forma legalizada. É o mesmo que fará a cabeleireira Cláudia Helena Machado, de 43, também moradora de Fernandes Tourinho. Ela morou em Framingh, de 1993 a 2005, e tentou retornar, via México, em dezembro passado.

Ela foi detida pela polícia poucas horas depois de cruzar a fronteira. “Fiquei dois meses detida. Havia outras 80 mulheres na mesma situação. Uma delas tem uma história triste. Foi violentada (pelo coiote) e engravidou”, recorda Cláudia, que hoje é dona de um salão de beleza na terra natal.

A clientela elogia seus serviços, mas seu rendimento nos Estados Unidos era bem superior ao que Cláudia consegue em Fernandes Tourinho. “Quando cheguei na América, trabalhei arrumando casas. Depois de quatro anos, montei uma empresa (que prestava o mesmo serviço). Tirava, em média, US$ 600 (R$ 1,8 mil) por semana. No Brasil, tem vez que não consigo isso nem por mês”, compara. Ela não descarta retornar à terra do Tio Sam, desde que legalizada. Para isso, terá que esperar a carência exigida pelo governo americano para quem foi deportado.

QUALIDADE DE VIDA Em Governador Valadares, a 60 quilômetros de Fernandes Tourinho, mora Geisiany Euriques, de 29. Ela morou sete anos nos Estados Unidos e retornou, em 2011, na companhia do marido. Desde então, não conseguiu emprego com carteira assinada. Nos próximos meses, planeja a jovem, tentará o visto para voltar à América.

“Quero retornar por causa do dólar, mas, principalmente, em razão da boa educação pública, do sistema de saúde que funciona, da qualidade de vida”, justifica a valadarense, cujo irmão mora nos Estados Unidos há 13 anos.

MIGRAÇÃO E ELEIÇÃO As idas e vindas de moradores do Vale do Rio Doce aos Estados Unidos são tema que não interessa apenas à economia da região. De 2008 a 2011, quando muitos valadarenses retornaram da América por causa da crise mundial, os políticos da cidade ficaram atentos. Havia a expectativa de que 300 mil valadarenses moravam na terra do Tio Sam e o retorno em massa poderia mudar a estratégia para as eleições municipais de 2012. Isso porque a legislação eleitoral determina o segundo turno no pleito para prefeitos nos municípios com mais de 200 mil eleitores em que o candidato mais votado não alcance 50% da preferência do eleitorado. Em Valadares, o eleitorado ficou em torno de 197 mil pessoas.

Rede de  ilegalidade

Embora muitos moradores do Vale do Rio Doce que ganharam a vida nos Estados Unidos e retornaram à terra natal em razão da crise econômica de 2008 desejem voltar à América de forma legalizada, ainda há quem fomente a rede comandada pelos coiotes. Quem assume o risco de cruzar a fronteira na companhia deles, desembolsa pelo menos R$ 15 mil. Boa parte do valor é pago antecipado. “Paguei na época US$ 10,5 mil. Cruzar a fronteira pelo México é o mesmo que ir ao inferno. O perigo é grande. Estava num grupo de 40 pessoas. Levamos duas semanas para conseguir entrar nos Estados Unidos”, conta um rapaz que mora em Fernandes Tourinho e prefere o anonimato. A reportagem solicitou à Polícia Federal de Governador Valadares uma entrevista a respeito da emissão de passaporte e do combate à rede de coites, mas a instituição não confirmou a entrevista até o fechamento dessa edição.


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