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Estado de Minas

Demissões em Minas acendem alerta só visto em 2009

Queda de produção e das vendas da indústria e do comércio elevaram as demissões no estado entre janeiro e março. Sindicatos de trabalhadores temem nova onda de dispensas


postado em 18/05/2015 06:00 / atualizado em 18/05/2015 07:23

Em busca de emprego desde janeiro, Geise Amaral não chegou nem mesmo à fase de entrevista(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Em busca de emprego desde janeiro, Geise Amaral não chegou nem mesmo à fase de entrevista (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
A crise de demanda e preços enfrentada pela indústria minerometálurgica e a retração das vendas de automóveis e de máquinas e equipamentos agravaram o desemprego em Minas Gerais neste ano. Com o fraco desempenho desses setores tradicionais da produção fabril do estado, o saldo de 13.833 trabalhadores com carteira assinada demitidos em Minas a mais que os contratados de janeiro a março foi o pior resultado para um primeiro trimestre desde 2009, quando a economia brasileira sentiu o baque da crise financeira mundial. No começo daquele ano marcado pelos efeitos da turbulência internacional, as dispensas superaram as admissões em 18.270 vagas.

O novo baque no mercado de trabalho do estado só não foi maior porque o setor de serviços criou 5.684 empregos de janeiro a março. Influenciou também o resultado o saldo de 20.024 demitidos no comércio. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, que só admite a comparação dos números ano a ano a partir de 2011, em razão de ajustes feitos no levantamento de dados. A estatística, a despeito disso, preocupa os sindicatos de trabalhadores na indústria e a própria Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).

Nas fábricas, o desemprego cresceu em sete regiões de Minas entre as12 áreas mais industrializadas, de acordo com levantamento feito pela Fiemg. A porção Central de Minas, que abriga boa parte da produção mineral do estado, e o Vale do Aço sofreram mais com as demissões neste ano, seguidos da Zona da Mata mineira, Rio Doce, Norte, Vale do Jequitinhonha e Alto Paranaíba (veja o quadro) Descontadas as contratações na indústria mineral, que tem como carro-chefe o minério de ferro, 1.644 vagas foram eliminadas de janeiro a março. Até 2014 as empresas vinham contratando mais que demitindo. A diferença a favor da geração total de empregos em Minas foi de 38.235 entre janeiro e março do ano passado, embora inferior às 41.326 vagas abertas no estado nos mesmos meses de 2013.

Não há perspectiva de reação, neste ano, da produção da indústria mineira e das contratações do setor, segundo Lincoln Gonçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Fiemg. Só uma guinada nos rumos da economia poderia mudar o cenário carregado que a instituição desenha para 2015, de queda de 5,19% no faturamento das empresas. Nunca houve previsão tão pessimista na história dos indicadores da federação, agora pressionados pelo aumento da taxa básica de juros, aquela que remunera os títulos públicos no mercado financeiro e serve de referência para os bancos e o comércio.

À procura de trabalho, o auxiliar de almoxarifado Patrick Silva teve de baixar a pretensão salarial(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
À procura de trabalho, o auxiliar de almoxarifado Patrick Silva teve de baixar a pretensão salarial (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
“É estranho o governo adotar uma política que só aumenta juros e impostos, o que prejudica o próprio ajuste fiscal e sacrifica toda a sociedade. O Banco Central tem outras ferramentas que poderiam ser usadas, como mexer no compulsório dos bancos e elevar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras)”, afirma Lincoln Gonçalves. A geografia das demissões reflete os setores que mais têm perdido dinamismo na produção e nas vendas: a cadeia automotiva, mineração e metalurgia básica e os fabricantes de máquinas e equipamentos.

Uma saída pelas exportações no curto prazo também é descartada. Na avaliação do vice-presidente da Fiemg, a manutenção por longo tempo do real sobrevalorizado frente ao dólar expulsou pequenas empresas do mercado internacional e funcionou como desincentivo à pauta de vendas externas mineiras, muito concentrada nas chamadas commodities, produtos agrícolas e minerais cotados no exterior. “Graças aos erros da política cambial, perdemos todo o esforço de diversificação que foi feito nos últimos anos. Por mais que se diga agora que o câmbio tornou-se atraente, vai demorar uma recuperação das exportações”, diz Gonçalves.

Luta diária Depois de passar mais de sete anos na mesma empresa, o metalúrgico Simon Sullivan foi surpreendido com a carta de demissão no fim do ano passado. Ele foi atingido, como outros colegas, por um programa de readequação da fábrica visando à redução de custos. Desde então distribui currículos e procura uma recolocação. “Estou há cinco meses procurando, mas nem mesmo para entrevista sou chamado. Ninguém contrata, só demite”, lamenta. Sullivan recebia cerca de R$ 2 mil por mês, mas já não tem a mesma pretensão salarial, diante das dificuldades que vem observando nas agências de contratação de mão de obra.

A intensidade das demissões preocupa o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Ouro Branco, na Região Central de Minas, Raimundo Nonato Roque de Carvalho. “Preocupa tremendamente e mais agora, com o projeto da terceirização (Projeto de Lei 4.330, aprovado no fim de abril pela Câmara dos Deputados), que precariza o emprego, retirando direitos e criando o metalúrgico de aluguel”, afirma. No município, que abriga a siderúrgica Gerdau Açominas, e nas vizinhas Jeceaba, onde está instalada a fábrica de tubos da VSB, Conselheiro Lafaiete e Carandaí, as cerca de 1,2 mil dispensas registradas desde o ano passado representam quase o dobro dos registros de 2013.

Em Congonhas, Ouro Preto e Belo Vale, polo da indústria mineral no estado, os trabalhadores representados no sindicato local, o Metabase Inconfidentes, temem nova onda de demissões, diante da baixa dos preços do minério de ferro, principal produto extraído no estado e estrela das exportações mineiras. Segundo o diretor da instituição Ivan Targino, a estimativa é de que as dispensas podem alcançar 25 mil trabalhadores no estado, quando incluídos os cortes no quadro de pessoal dos setores metalmecânico e de ferroligas.

Consumo fraco leva à redução de custos


As demissões no comércio seguem sem expectativa de reversão no curto prazo, segundo o presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Sec), José Cloves Rodrigues. “O número de demissões está subindo mês a mês. As contratações temporárias para datas que seriam significativas em vendas para o setor, como o Dia das Mães, já nem existem na prática”, afirma. O que mais preocupa, na avliação do sindicalista, é a falta de perspectivas de melhora no cenário da economia. “O governo não apresenta nenhuma proposta que volte a incentivar o consumo. Os juros estão em alta, o crédito mais caro e a indústria apresenta queda constante, que se reflete diretamente no comércio”, diz.

Levantamento feito pelo sindicato em março indicou 2.569 homologações de rescisões de contratos de trabalho no local. Em abril, o número já saltou para 2.703. Os dados se referem aos contratos somente dos trabalhadores com registro que estavam há mais de um ano em serviço. “O número de demissões pode ser muito maior, tendo em vista que os empresários costumam demitir primeiro aqueles funcionários que têm menos tempo de casa”, observa Rodrigues. Na indústria de transformação, o saldo do emprego ficou positivo no primeiro trimestre graças às contratações nas fábricas de calçados, alimentos e bebidas em 1.327 vagas. Naqueles segmentos de maior peso houve mais demissões do que admissões. O pior resultado foi o da cadeia automotiva, com 2.390 dispensas, além das contratações.

Os trabalhadores sentem a pressão nas agências de emprego. Há dois anos trabalhando na mesma loja como auxiliar de almoxarifado, Patrick Gustavo da Silva Oliveira, de 20 anos, perdeu o emprego 15 dias atrás. Ele conta que a justificativa do patrão foi a queda nas vendas do comércio varejista e a readequação da loja para conter custos. “Fui o primeiro da lista e ainda haverá mais colegas na mesma situação. Vou dar entrada para receber o seguro-desemprego, mas já estou distribuindo currículos para conseguir outra colocação, porque sei que vai ser difícil”, ressaltou. O salário dele era de R$ 1,5 mil.

A auxiliar administrativo Geise Kelle Mendes Amaral procura, desde janeiro, uma colocação. Nesse período nem foi chamada para uma entrevista e a pretensão salarial, que era de R$ 1 mil, já baixou para R$ 800. “Estou tentando vaga no comércio e como auxiliar de escritório, mas as empresas estão reduzindo o quadro de funcionários em vez de contratar. Hoje estou me candidatando para um vaga com salário de R$ 800 na esperança de que dê certo”, conta. (FM e MV)


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