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Estado de Minas

Expectativas de retração da economia devem manter taxas de desocupação

Dos trabalhadores em busca de vagas, 54% estão esperando chance por até seis meses


postado em 19/04/2015 06:00 / atualizado em 19/04/2015 07:52

Baixo salário ma educação pública impõe um segundo emprego, que está complicado, para o educador João Batista (foto: Leandro Couri/EM/D A Press)
Baixo salário ma educação pública impõe um segundo emprego, que está complicado, para o educador João Batista (foto: Leandro Couri/EM/D A Press)
Nas estatísticas dos institutos de pesquisa, João Batista Siqueira, de 50 anos, não é propriamente um desempregado. Além do trabalho como professor da rede estadual de ensino, ele busca uma segunda ocupação como cozinheiro para complementar a renda apertada. “Sou um meio desempregado”, afirma, em referência às condições precárias e aos baixos salários que obrigam os trabalhadores a cumprir longas jornadas. Desde que se mudou de Bocaiúva, no Norte de Minas Gerais, para Belo Horizonte, João mantém dois empregos para conseguir pagar as contas. No estado, como professor, o salário líquido não supera R$ 1 mil, enquanto os ganhos nos restaurantes são 30% superiores.

Em campo oposto, o jogador de futebol João Paulo Dias Silva, que acaba de defender o Villa Nova no Campeonato Mineiro, vive a ansiedade da mesma espera por um novo emprego, mas com o orçamento já preparado para enfrentar o tempo de procura por trabalho. O clube rescindiu o contrato de todos os jogadores devido ao hiato que marca o cronograma do futebol no Brasil – a disputa da Série D do Campeonato Brasileiro se inicia só no segundo semestre. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54% dos desempregados estão em busca de recolocação entre 31 dias e seis meses.

O volante João Paulo entrou na lista dos demitidos. Como os demais atletas, abril e maio são períodos marcados pela procura de uma vaga em outros clubes do país. Diferentemente de outros profissionais, no caso dos jogadores de futebol, entra em cena a figura do agente, responsável por fazer contato com outros clubes para tentar encaixá-los. Enquanto isso, João fica em casa e faz treinamento na academia para manter a forma. “É uma rotina diferente [das outras profissões]. Temos que guardar uma parte do dinheiro para segurar o tempo sem emprego, senão passamos aperto”, explica. Ele espera voltar aos campos em junho.

Nem mesmo os economistas mais afiados com os indicadores da economia brasileira têm segurança sobre os palpites de como o mercado de trabalho vai se comportar nos próximos meses. O economista Márcio Salvato, professor da escola de administração e negócios Ibmec, considerou muito forte o desaquecimento da economia no primeiro trimestre, com reflexos sobre as taxas de desemprego. Ele acredita que, neste ano, o país enfrentará queda entre 1% e 1,5% da produção de bens e serviços medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), influenciada pela retração do consumo das famílias e o impacto negativo das denúncias de corrupção envolvendo políticos de vários partidos.

O desempenho da economia vai depender, ainda, do sucesso do governo no cumprimento das medidas de arrocho fiscal anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “Se o ajuste for realizado num prazo curto, dever implicar menor crescimento do país, mas abrirá espaço para uma recuperação mais à frente”, afirma. A disputa por emprego é dura para os candidatos, depois de um longo período em que o país enfrentou a escassez de mão de obra.

Nas seis maiores regiões metropolitanas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador –, as taxas de desemprego aumentaram de 5,1% em fevereiro de 2014 para 5,9% no mesmo mês deste ano. Ficaram sem trabalho 1,419 milhão de pessoas, sendo 176 mil a mais no período comparado dos últimos 12 meses até fevereiro. Na Grande BH, o universo de trabalhadores sem ocupação evoluiu de 103 mil em fevereiro do ano passado para 128 mil no mesmo mês deste ano.

O professor e cozinheiro João Batista Siqueira não suportou a extensa carga de trabalho e pediu demissão da segunda atividade na semana passada. De segunda a segunda, ele trabalhava das 7h às 15h20 e depois seguia para a escola à noite, onde leciona até 22h30. Agora, ele quer diminuir o sufoco. Com o aumento do consumo de comida fora de casa, está convencido de que não será difícil encontrar a vaga. Mas vê complicações em razão da crise econômica. “Está complicado. A recessão estava acobertada”, afirma.

- Guilherme Nogueira, administrador, 27 anos

Desempregado desde março, o administrador de empresas Guilherme Lopes Nogueira resolveu apostar suas fichas em um negócio próprio, ainda em fase de conclusão. Pós-graduado pelo Ibmec, ele tem experiência de já ter trabalhado em quatro empresas de diferentes ramos de atividade econômica. No último emprego, entanto, atuou como comprador em uma empresa terceirizada por apenas dois meses. Desde então, Guilherme cadastrou seu currículo em sites de empregos, mas, segundo ele, as vagas estão escassas e disputadas. “Há oportunidades com salários baixos e poucas opções com melhor rendimento, no entanto essas são as vagas mais disputadas por profissionais de alto nível.” (Fernanda Borges)

- Rodrigo Oliveira, administrador, 32 anos

Especialista em planejamento e controle de produção, o administrador de empresas Rodrigo Dias busca emprego na área desde o início de janeiro. Ele foi dispensado em dezembro do ano passado, quando a empresa do ramo de aviação onde trabalhava cortou, em BH, metade de seu quadro de funcionários para ajustar os custos à queda da demanda dos seus serviços. No momento, Rodrigo está participando de dois processos seletivos nas áreas de mineração e siderurgia. Recentemente, soube que em um deles a empresa fechou a vaga por tempo indeterminado. “A oferta de vagas diminuiu, a concorrência aumentou e os salários estão mais baixos”, observa. Ele, que também é técnico em manutenção de aeronaves, acredita que a recuperação da economia será gradual e lenta. (Marinella Castro)


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