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Estado de Minas

Alta dos remédios vai pesar no orçamento já comprometido dos doentes

Governo autorizou nesta terça reajuste de 5% a 7,7% nos preços de 9.118 medicamentos


postado em 01/04/2015 06:00 / atualizado em 01/04/2015 07:37

Auxiliar de serviços gerais, Helenita dos Santos gasta até R$ 150 por mês nas farmácias e teve de deixar de fazer sacolão e comprar apenas o básico(foto: Ramom Lisboa/EM/D.A Press)
Auxiliar de serviços gerais, Helenita dos Santos gasta até R$ 150 por mês nas farmácias e teve de deixar de fazer sacolão e comprar apenas o básico (foto: Ramom Lisboa/EM/D.A Press)

Com problemas de hipertensão, a aposentada Regina Coeli Guedes Mafra gasta, por mês, cerca de R$ 200 com medicamentos. Nessa terça-feira, ela chegou à farmácia com uma receita contendo cinco tipos de remédios, mas levou apenas quatro deles para casa. O mais caro, Novanlo, para controle da pressão, ela deixou para trás. “Se eu não tenho dinheiro, não levo. A médica disse que eu não posso ficar sem ele, mas não tem jeito, estou sem dinheiro”, afirma Regina, que não sabe o que vai fazer para dar conta das despesas na hora em que o reajuste de 5% a 7,7% autorizado ontem pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamento (CMED) para os preços de 9,1 mil medicamentos, for repassado aos consumidores.

“Tudo está mais caro e o meu salário não acompanha essa alta. Eu demorei para conseguir acertar com uma médica, com os medicamentos certos e controlar a pressão. O jeito vai ser cortar outros gastos como sacolão e supermercado”, revela. A manobra que Regina vai fazer para conseguir comprar suas medicações controladas poderá ser a de muitos brasileiros daqui pra frente. O reajuste encarece a vida para pacientes com doenças raras ou males que precisam de remédios controlados, como é o caso da Regina.

Quem sofre de depressão, hipertensão, até mesmo doenças psicóticas poderá pagar até 7,7% a mais em suas medicações. Já quem pagava preços abusivos em remédios específicos também pode preparar o bolso, porque um reajuste de 5% em cima de medicamentos que custam mais de R$ 10 mil pesa no orçamento. Já os antibióticos mais populares podem ser reajustados em 6,35%, conforme a determinação do CMED.

A alta da energia elétrica, do dólar e do combustível, que pesam no bolso dos consumidores, são alguns dos fatores que aumentaram os custos das empresas farmacêuticas. Todos os anos, os remédios sofrem variações, porém, este ano, diante da inflação a correção foi mais alta. O ajuste de preços considera a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Ampo (IPCA) no acumulado em 12 meses até fevereiro. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União.

O reajuste, segundo o Ministério da Saúde, varia de acordo com níveis de concorrência. Segundo explica o vice-diretor da Federação Nacional dos Farmacêuticos e diretor do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado de Minas Gerais, Rilke Novato Públio, os aumentos seguem a lógica do peril de concorrência dos medicamentos. Aqueles com muitos fabricantes, como os genéricos, tiveram um reajuste maior. As medicações foram dividas em três níveis: 1,2 e 3.

Do total de 9.120 remédios com preços ajustados, os do nível 1 correspondem a 24,45% do total. Esse grupo pode ter o maior reajuste, chegando ao teto de 7,7%. É o caso, por exemplo, de antidepressivos, remédios para hipertensão, para controle de colesterol etc. “São remédios de uso contínuo pelo paciente, para casos de doenças crônicas. Caso um doente deixe de tomar, há risco de desenvolver um acidente vascular cerebral (AVC) ou até morrer”, comenta o presidente da Associação Médica de Minas Gerais, Osvaldo Fortini.

A situação será difícil para a auxiliar de serviços gerais Helenita Barbosa dos Santos, de 53 anos. Ela recebe um salário mínimo e gasta entre R$ 130 e R$150 por mês com medicamentos. Ela faz tratamento psiquiátrico e usa remédios que podem receber reajuste de até, 7,7%. Com a receita na mão, ontem ela deixou de levar para casa um dos medicamentos receitados pelo médico. Segundo ela, o menos importante. “Os outros eu não tenho como cortar. É controlado, já uso há 12 anos. Não sei como vou fazer quando esse aumento chegar no bolso. Tenho medo de não dar conta”, diz Helenita que afirma ainda já ter deixado de fazer o sacolão para pagar as despesas com os medicamentos. “Tudo está mais caro. Compro apenas os itens de necessidade básica”, completou.

A aposta de um teto mais alto para esse grupo do qual a medicação de Helenita faz parte, segundo informou o Ministério da Saúde, é de que, como há uma concorrência maior entre esses, inclusive com a presença de genéricos, os comerciantes tendem a manter os preços mais baixos para conquistar os clientes. Outra preocupação é com a categoria 3, que representa mais de 50% dos mais de 9 mil medicamentos que vão ser reajustados. Neste nível, estão os remédios mais caros e, apesar do menor percentual de aumento (5%), faz a diferença para quem precisa. Ontem, o Estado de Minas encontrou uma das medicações, usadas por quem sofre de psoríase de cerca de R$ 13 mil. Com o reajuste, vai custar R$ 650 a mais.

Impacto na inflação


Caso todas as farmárcias repassem o reajuste integral, o impacto na inflação será de 0,15 ponto percentual, conforme calcula o economista coordenador de pesquisa e projetos do Insituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (Ipead) Renato Mogiz. Segundo ele, esse peso só seria percebido pelo consumidor depois de 30 dias. “Se não existissem nenhum outro produto dentro da cesta dos produtos básicos para cálculo do IPCA, só os medicamentos reajustados aumentariam em 0,15 ponto percentual a inflação”, afirma.

Ele não acredita que todos as drogarias vão aumentar seus preços, porque ele aposta que, neste momento, vai prevalecer a lei de mercado, ou seja, com medo da concorrência, laboratórios e farmárcias podem não aumentar os preços dos remédios ao máximo, “As medicações têm preço máximo tabelado, então, o comerciante pode cobrar mais barato, nunca mais caro do que diz a tabela”, diz.

Mas o reajuste autorizado para os medicamentos não é o que os proprietários de farmácias e drogarias esperavam. Segundo os empresários, o percentual não engloba os reajustes das despesas básicas para manter o negócio como luz, água e folha de pagamento.

“Estamos absorvendo esses custos, investindo em promoções para tentar vender mais e não precisar cortar pessoal, mas se continuar assim, vai chegar um hora que não vai ter jeito”, afirma Glauber Juliano de Assis, sócio-proprietário da unidade Rede Farma Serra. Ainda de acordo com ele, outro agravante é que as vendas caem cerca de 10% nos dois meses após o reajuste. “Todo mundo está com medo de gastar. Dificilmente a gente vê alguém deixando de comprar um remédio, mas acontece de o cliente chegar com uma receita que tem quatro medicamentos e levar apenas os três que ela considerar mais importante”, diz. (FM e LE)


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