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Estado de Minas

Com ligeira expansão de 0,1% do PIB do Brasil em 2014, economia para de crescer

A crise que afeta principalmente a indústria aliada ao pouco crescimento no PIB significa, a rigor, a paralisia do país. Foi o pior resultado em 5 anos


postado em 28/03/2015 06:00 / atualizado em 28/03/2015 08:01

Rio de Janeiro – A economia brasileira apresentou modesto crescimento de 0,1% em 2014, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB) – a soma da produção de bens e serviços do país –, anunciou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado indica, na prática, que o país está estagnado. Em valores correntes, o PIB atingiu R$ 5,521 trilhões no ano passado. Foi o pior desempenho desde 2009, quando a retração surpreendeu os brasileiros, com queda de 0,2% da atividade econômica, fruto dos duros efeitos da turbulência mundial de 2008. No panorama do mercado internacional, a performance brasileira ficou em terceiro lugar entre os países do G-20, grupo que reúne as principais economias do mundo, incluindo as desenvolvidas e as emergentes. Nessa comparação, o Brasil superou apenas a Itália e o Japão.


“Esse valor divulgado pelo IBGE é um preciosismo, não existe. O crescimento do país é zero. É um quadro que foi puxado pela queda brutal na taxa de investimento”, resumiu o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na qual deu aulas à presidente Dilma Rousseff no curso de doutorado que ela não concluiu. O desempenho do PIB, na média anual, durante o primeiro mandato da presidente foi de 2,1%, melhor apenas que a marca de -1,7% amargada por Fernando Collor de Mello, quando são observados os números das gestões dos chefes de Estado desde a redemocratização do país.

O investimento, destacado por Belluzzo, teve redução de 4,4% no ano passado, atingindo a proporção de 19,7%, a menor desde os 19,2% registrados em 2009. Pela chamada ótica da demanda, retrato do gastos no país, o consumo do governo avançou 1,3%, e o consumo das famílias teve alta também modesta, de 0,9%.

A análise do comportamento da economia por setor reforça as dificuldades da indústria, que amargou recuo de 1,2%. As empresas prestadoras de serviços foram as que mais contribuíram positivamente, com elevação de 0,7%. Já a agricultura avançou 0,4%, mas como o peso da atividade é muito pequeno no PIB, a participação dela para o crescimento de 2014 foi nula. O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, reconheceu o baque na economia brasileira, apontando que o resultado do PIB “confirmou a pausa no crescimento econômico no ano”.

Tombini tentou, no entanto, chamar atenção para a possibilidade de que o quadro seja revertido. “Os ajustes macroeconômicos em curso tendem a construir bases mais sólidas para a retomada da confiança e do crescimento”, apostou o presidente do Banco Central. A perspectiva de melhora em 2016 é desafiadora. “Não há garantias de que o ajuste fiscal resulte em volta do crescimento econômico”, criticou Belluzzo.

Na avaliação do professor da Unicamp, o baixo crescimento do país é consequência da desvantagem do Brasil no comércio com outros países e da perda de competitividade da indústria, ambos os fatores resultantes da sobrevalorização do real em relação ao dólar durante um período muito longo. O quadro inverso, de forte desvalorização do real, que tem ocorrido nos últimos meses, não resolve os problemas, segundo o economista. “Isso tem o lado bom de impedir a concorrência predatória promovida por alguns países, mas também resulta em maiores custos para a indústria, que agora tem muitos insumos importados. E também prejudica essas empresas pela elevação das dívidas em dólar”.

 

DIFÍCIL RECUPERAÇÃO Para este ano, analistas de bancos e corretoras ouvidos pelo Estado de Minas compartilham as apostas em queda significativa do PIB. O BC estima redução de 0,5% da atividade econômica, mas o mercado prevê recuo de pelo menos 1%. É o número estimado pelo economista Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. “Esperamos uma deterioração maior da economia neste ano devido ao aperto na política monetária e na política fiscal, à alta da inflação e à queda na confiança dos empresários e consumidores”, apontou.


Para Rostagno, os detalhes nos números PIB são mais reveladores do que o resultado consolidado. “Apesar de o crescimento ter vindo ligeiramente melhor do que o esperado, os dados continuam a mostrar um quadro negativo da economia brasileira, com queda nos investimentos e no consumo”, afirmou.

A situação complicada de 2015 torna-se mais clara nos números que o IBGE informou, ontem, relativos ao quarto trimestre do ano passado, na comparação com o mesmo período de 2013. Quase todos os setores ficaram abaixo do resultado geral do ano, demonstrando que a economia pisou fortemente no freio depois das eleições. O PIB caiu 0,2% de outubro a dezembro frente aos mesmos meses de 2013. O tombo da indústria foi de 1,2%. E o investimento despencou 5,8%. O consumo do governo também teve queda, de 0,2%. A alta nos serviços limitou-se a 0,4%. Apenas dois itens vieram com desempenho melhor: a agropecuária (1,2%) e o consumo das famílias (1,3%).

O economista João Saboia vai na mesma linha de Belluzzo, ao destacar que não há garantias de retomada do crescimento depois das medidas amargas que estão em curso por meio de corte de gastos e investimentos públicos e de alta nos juros. “É importante ter esperança de que as coisas melhorem. Mas não é mais do que isso, uma esperança”, disse Saboia, que é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para ele, o fato de o Brasil ter apresentado crescimento ainda que pequeno, em vez da esperada queda no PIB, ajuda um pouco nesse sentido. “Tem um efeito psicológico importante”, afirmou. (PSP)


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