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Estado de Minas

Governo cede, mas não garante o fim da greve dos caminhoneiros

Ministro Miguel Rossetto apresenta lista de medidas a manifestantes para acabar com os bloqueios, que foi aceita. Excluído da primeira reunião, líder Ivar Schmidt rechaça acordo


postado em 26/02/2015 06:00 / atualizado em 26/02/2015 07:45

 Apesar do acerto firmado na reunião entre os envolvidos nos transtornos gerados pelos protestos, ficou claro racha entre as lideranças dos motoristas (foto: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)
Apesar do acerto firmado na reunião entre os envolvidos nos transtornos gerados pelos protestos, ficou claro racha entre as lideranças dos motoristas (foto: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)

Brasília – Após um dia de tensão e de reuniões com representantes dos caminhoneiros, empresas transportadoras e líderes dos setores afetados pelos bloqueios das rodovias, o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, anunciou a conclusão de um acordo, com propostas sendo aceitas pela maioria dos líderes das manifestações. A desmobilização nas estradas começou ainda ontem. Mas Ivar Luiz Schmidt, do Comando Nacional dos Transportes, retirado da primeira mesa de negociações por ter sido considerado “liderança excedente”, avisou, depois de reunião em separado com Rossetto, que o movimento está dividido e os protestos continuam.

A lista de concessões do governo inclui a carência de 12 meses para o pagamento de financiamentos de caminhões, a sanção sem vetos da Lei dos Caminhoneiros aprovada pelo Congresso, incluindo a isenção de pagamento de pedágio por eixo suspenso (em caso de caminhão vazio), a manutenção do atual valor do diesel por seis meses e negociações para que empresários e caminhoneiros fixem tabela referencial para o preço dos fretes.

Segundo o ministro, as medidas “cobrem grande parte das expectativas” dos manifestantes, mas afirmou que as propostas só seriam mantidas à medida que as estradas fossem liberadas. “Interessa aos caminhoneiros, à sociedade e ao país que haja suspensão do movimento”, ressaltou. O ministro assinalou, ainda, que a manutenção do valor dos combustíveis não é congelamento, mas uma informação da Petrobras.

SEM FLEXIBILIZAR


Mais cedo, a presidente Dilma Rousseff disse que o governo não tem como baixar o preço do diesel e que não há aumento previsto. “Não mexemos (no valor do litro), o que fizemos foi recompor a Cide”, afirmou, referindo-se à retomada da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico sobre combustíveis. “As reivindicações dos caminhoneiros são justas e o governo está convicto da importância de manter a Cide e de não flexibilizar a questão fiscal”, afirmou a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, ao sair da reunião no Ministério dos Transportes.

(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Enquanto o governo se esforçava para qualificar o movimento como uma onda de protestos pulverizada, Schmidt chegou à reunião em Brasília se intitulando representante da manifestação que paralisou rodovias do país. Mas ele, que tem uma microempresa de transportes em Mossoró (RN), foi excluído do encontro, embora o chefe de gabinete de Rossetto, Robinson Almeida, tenha garantido que seria recebido. “Não conheço o assunto”, desconversou o ministro, durante entrevista coletiva concedida depois da reunião.

Schmidt disse que, dos 128 bloqueios contabilizados na noite de terça-feira, ele tinha contato com 100. “Duvido que algum líder presente nas reuniões tenha contato com um caminhoneiro em qualquer ponto de bloqueio”, desafiou. Ele sublinhou que o movimento tomou corpo via redes sociais com adesão de autônomos e pequenas empresas. “Queremos frete mínimo de R$ 0,70 por eixo por quilômetro rodado, criação de um grupo de estudo para analisar a situação do setor e a redução de R$ 0,50 no preço do diesel enquanto o piso não for definido”, enumerou. (Colaborou Julia Chaib)

Motores ainda fervem


O que o governo prometeu
» Carência de 12 meses para o pagamento de financiamentos de caminhões
» Sanção sem vetos da Lei dos Caminhoneiros aprovada pelo Congresso, incluindo a isenção de pagamento de pedágio por eixo suspenso (em caso de caminhão vazio)
» A manutenção do atual valor do diesel por seis meses
» Negociações para que empresários e caminhoneiros fixem tabela referencial para o preço dos fretes

O que mais eles querem
» Frete mínimo de R$ 0,70 por eixo por quilômetro rodado
» Criação de um grupo de estudo para analisar a situação do setor
» Redução de R$ 0,50 no preço do diesel enquanto o piso não for definido

Força Nacional é acionada

Brasília – O governo enviou equipe das Força Nacional de Segurança para Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio Grande do Sul a fim de ajudar no desbloqueio das estradas fechadas pelos caminhoneiros. Apesar dos apelos de Brasília, a adesão aos protestos cresceu significativamente ao longo do dia de ontem em todo o país. Até o início da noite, 177 trechos de 91 estradas, sendo 54 estaduais e 37 federais, estavam bloqueados, mesmo com a Advocacia-Geral da União (AGU) tendo conseguido a liberação parcial de rodovias em nove estados.

A paralisia nas estradas já provoca desabastecimento. “Nosso almoço de domingo está em cima de um caminhão. Se os protestos continuarem, vai faltar comida”, afirmou o senador Blairo Maggi (PR-MT), que participou da reunião entre representantes do governo e de caminhoneiros realizada no Ministério dos Transportes. “Seis milhões de litros de leite estão sendo despejados por dia”, emendou o presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Côrte. “A situação está no limite.”

Segundo o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, 15 milhões de litros de leite deixaram de ser coletados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. “Estamos com as colheitas paradas em plena safra. Está faltando diesel nas fazendas porque não tem fluxo de caminhões-tanque. A soja não está chegando aos armazéns”, ressaltou. Freitas exemplificou a gravidade do problema citando uma cooperativa que abate diariamente 900 mil frangos e 18 mil suínos. “Se não abatem, não têm onde colocar os pintos. Todos os dias nascem 1,1 milhão deles. O que fazer?”, indagou.

O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Heitor José Müller, explicou que o impacto negativo vai ser prolongado mesmo se os protestos pararem hoje. “A cadeia da avicultura vai demorar ao menos 90 dias até se ajustar novamente. Me preocupa a falta do produto no mercado e, com isso, o inevitável aumento de preço”, alertou.

A JBS, maior processadora de carnes do mundo, suspendeu o abate de frangos e suínos em oito plantas industriais devido a problemas de logística. As unidades em que as operações foram interrompidas ficam em Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. As indústrias ainda em atividade nestes estados operam com ociosidade de 30% a 40%. Diante da continuidade dos protestos, a JBS teme a chance de problemas sanitários nas unidades afetadas, em virtude da falta de ração, e de desabastecimento no atacado. (SK)

WhatsApp e os bastidores

O produtor de café e presidente da Associação das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes, disse que não houve um representante que tenha iniciado a greve dos caminhoneiros, com quem o governo pudesse se dirigir e negociar diretamente. “Esse negócio nasceu quase que espontâneo. Não foi comandado por um líder. O nome da greve foi WhatsApp”, disse. “O caminhoneiro de Roraima fala com o do Rio Grande do Sul, que fala com o do Rio Grande do Norte. É um processo que você não está acostumado a dominar.” No entanto, a paralisação de caminhoneiros que bloqueou as estradas em todo o país partiu de produtores agrícolas, segundo o presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), Nélio Botelho. “Essas manifestações foram organizadas por produtores rurais do país. Eles pediram o apoio de caminhoneiros de diversos sindicatos filiados ao Movimento União Brasil Caminhoneiro. Pela primeira vez, porém, não fomos nós que demos a orientação para parar as estradas”, afirmou. Botelho afirmou que a orientação do MUBC – que representa uma centena de sindicatos com 1,2 milhão de caminhoneiros – foi de apoiar qualquer mobilização para melhorar as condições de trabalho.


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