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Estado de Minas

Cenário desfavorável da economia leva lojas a dispensar temporários e prever ano ruim

Juros e inflação em alta e perspectivas desfavoráveis são os motivos do pessimismo no setor


postado em 27/01/2015 06:00 / atualizado em 27/01/2015 06:53

Brasília – Desta vez, o recorrente chororô dos comerciantes faz todo sentido. O cenário desfavorável da economia brasileira tem levado o varejo a se preparar para um período mais complicado do que 2014, quando as vendas podem ter amargado o pior desempenho em 11 anos. A combinação de juros altos acompanhados de inflação e reajustes em impostos e tarifas públicas tende a inibir o consumo das famílias e a obrigar os empresários a se virarem para manter as portas abertas.

As estimativas para 2015 fazem coro às queixas nada animadoras dos lojistas. O encarecimento do custo de vida, incluindo do crédito, afastará os brasileiros das compras, salvo um movimento completamente contrário ao que o próprio varejo espera. “Estamos colhendo frutos de uma política econômica marcada por improvisos, mudanças de meta e tolerância com a inflação”, elenca o economista Christian Travassos, da Fecomércio do Rio de Janeiro.

Com as vendas em queda e as despesas em alta, os comerciantes – principalmente os pequenos – sofrem para fechar o caixa e não pensar em abandonar o negócio. O primeiro reflexo do ambiente adverso em 2015 pôde ser percebido logo nos primeiros dias de janeiro: a maior parte dos lojistas dispensou os trabalhadores temporários, algo inédito nos últimos anos. Geralmente, o varejo retém, em média, 20% dos empregados convocados para reforçar as equipes durante o Natal.

O nível de emprego no comércio despencou em 2014, com a abertura de 140,8 mil postos de trabalho, quase metade do total registrado no ano anterior. O apetite por novas vagas no setor foi o mais fraco desde o início da série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, em 2002. “Acabou o período da bonança. O carro, agora, está descendo a ladeira”, compara o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fábio Bentes.

Mudança

Este ano, confirmado o menor volume de vendas, os lojistas planejam contratar menos. Bentes acredita, inclusive, que quem precisar de novos funcionários oferecerá salários menores, tornando a remuneração mais atrelada ao pagamento de comissões. Desde 2009, o faturamento cresce em ritmo menor do que o custo trabalhista dos lojistas. “Para amenizar essa diferença, espera-se uma maior flexibilização do salário com futuros empregados”, reforça o economista.

Dona de uma pequena ótica e lojas de presentes, Zélia Lima, de 50 anos, trabalha com duas funcionárias. Se a situação piorar, ela não descarta demitir. “Minha estrutura é enxuta, mas se apertar, não terá jeito”, comenta ela, que repassou para os clientes a alta média de 12% dos produtos no último ano. “Do jeito que as coisas andam, já está ótimo se o comerciante conseguir se manter", afirma. Na mesma quadra de Zélia, pelo menos três empresas encerraram as atividades recentemente.

Com aversão redobrada aos estoques, comerciantes voltaram a negociar com a indústria o esquema de vendas em consignação – quando o fornecedor só recebe o pagamento após a compra do produto pelo consumidor. O retorno a uma prática antiga ilustra a situação delicada do comércio, avalia o superintendente do shopping Pátio Brasil, Carlos Passos. “Certamente, os lojistas exigirão mais margem de negociação com a indústria, que também está de joelhos”, sustenta.

 

Apelos ao governo

Empresários do varejo de todo o Brasil estarão quinta-feira em Brasília para reivindicar ao ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, medidas que estimulem o consumo no país. Também vão questionar decisões do governo federal que impactam o caixa das empresas, como a determinação de que o empregador, a partir de março, arque com 30 dias do pagamento do auxílio doença – o período atual é de 15 dias. O peso da carga tributária, a disparada do juro e o avanço da inflação também serão abordados com o ministro.

Os lojistas ressaltam que o orçamento das famílias já está comprometido e que a tendência é a de que 2015 seja um ano difícil para o comércio. Até mais do que o apurado no ano passado. “O governo está tomando as medidas certas, mas transferindo a conta para os empresários, consumidores e cidadãos. Como manteve o cofre escancarado durante muito tempo, a nova equipe econômica quer botar as finanças em ordem à custa dos brasileiros. O governo precisa dar o exemplo e fazer cortes públicos”, disse o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci, que estará presente no encontro.

Na última semana, presidentes de várias CDL’s se reuniram em Brasília, na sede da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), e discutiram as últimas medidas anunciadas pelo Palácio do Planalto para ajustar a economia brasileira em 2015. Uma das insatisfações do empresariado é com o veto da presidente Dilma Rousseff, na última semana, ao reajuste de 6,5% da tabela do Imposto de Renda (IR).

A correção do IR foi aprovada no Congresso Nacional em dezembro, mas o governo desejava um índice menor, da ordem de 4,5%. Na prática, quem recebe até R$ 1.903,98 ficaria isento do tributo. Atualmente, essa cifra é de R$ 1.787,77 – diferença de R$ 116,21. O percentual incidiria sobre todas as faixas. Ou seja, o veto aumenta a arrecadação do Fisco, pois mais pessoas passam a pagar o IR.

Na última semana, o governo anunciou o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre as operações de crédito ao consumidor de até 365 dias. A alíquota sobe de 1,5% para 3% ao ano. Além disso, continua em vigor a cobrança de 0,38% para cada operação, o que já está em vigor desde o fim da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF). “Temos um imposto de primeiro mundo, mas um retorno de terceiro mundo”, reclamou Falci.

Carga pesada

Até 16 de janeiro, segundo estimativa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), responsável pela manutenção do impostômetro, o aparelho que calcula quanto o brasileiro pagou em imposto, as três esferas do poder público – União, estados e municípios – haviam arrecadado R$ 100 bilhões em tributos. “Queremos ouvir do governo federal a contrapartida dos impostos. Vamos mostrar que o aumento da carga tributária vai desaquecer a economia nacional”, desabafou Falci.

 


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