(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Para evitar pane geral, luz é cortada em 10 estados

Apagão foi determinado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), afetando 22,6 milhões de consumidores. Em Minas, ficaram no escuro moradores de BH, Uberaba e Uberlândia


postado em 20/01/2015 06:00 / atualizado em 20/01/2015 07:22

Movimentação em estação de metrô em São Paulo, depois da paralisação provocada pelo corte no abastecimento de energia ontem(foto: GUGA GERCHMANN/FUTURA PRESS/ESTADÃO)
Movimentação em estação de metrô em São Paulo, depois da paralisação provocada pelo corte no abastecimento de energia ontem (foto: GUGA GERCHMANN/FUTURA PRESS/ESTADÃO)
O aumento do consumo de energia devido às altas temperaturas associado à interrupção na transferência de energia das regiões Norte e Nordeste para abastecer o sistema do Sudeste deixou ontem no escuro 10 estados e o Distrito Federal, por volta das 15h. A ordem para as companhias distribuidoras reduzirem o fornecimento foi dada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão federal responsável pela gestão de energia, que demorou para informar o motivo à imprensa e à população. O apagão durou 50 minutos, afetando mais de 22,6 milhões de consumidores. A medida deixou sem luz moradores de Belo Horizonte e de cidades do interior de Minas Gerais, a exemplo de Uberaba e Uberlândia, no Triângulo mineiro, e em São Paulo o metrô não escapou do desligamento. À noite, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, justificou que o apagão foi causado por um problema técnico em uma linha de transmissão de Furnas. Segundo ele, a falha de um banco de capacitores da linha teria ocasionado uma variação na frequência do sistema interligado, levando ao desligamento das usinas.

Os representantes do ONS vão se reunir, hoje, para analisar as causas do problema e tomar providências para evitar a repetição do cenário. O corte na carga de eletricidade se deu aos poucos, assim como o restabelecimento dela na maioria das localidades. As concessionárias do setor informaram ter sido também pegas de surpresa e o operador do sistema tentou preservar o fornecimento em lugares essenciais, como hospitais e escolas, mas não impediu o transtorno.

METRÔ A Linha Amarela do metrô paulistano, utilizada por 700 mil pessoas, parou, provocando correria e protesto. Passageiros precisaram de atendimento médico e duas estações foram fechadas. O estado teve o maior corte individual da carga: foram 850 mil unidades consumidoras, o que representa 10% da demanda total. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) foi a única empresa do país afetada pelo apagão orquestrado a se recusar a dar informações sobre o corte do fornecimento. A assessoria de imprensa da concessionária mineira se negou a informar a situação atual das usinas da estatal com a baixa dos reservatórios e quantas e quais cidades mineiras foram atingidas pelo interrupção de energia.

O apagão orquestrado ocorre em um momento de baixo nível dos reservatórios das principais usinas hidrelétricas. As chuvas escassas e o forte calor contribuíram para a estratégia, que serviu como uma defesa do sistema, evitando um blecaute generalizado. O ONS explicou que o aumento na demanda por energia desequilibrou as condições de operação. “Visando restabelecer a frequência elétrica às suas condições normais, o ONS adotou medidas operativas em conjunto com os agentes distribuidores”, disse a instituição em nota, divulgada quatro horas depois do episódio.

A explicação do ONS para o problema é que houve uma restrição na transferência de energia do Sistema Interligado Nacional, que, associado ao pico de demanda do consumo, resultou na redução da frequência elétrica de 60 hertz para 59Hz. O problema se estendeu de 14h55 às 15h45. Segundo o ONS, com isso, 11 usinas geradoras (Angra I, Volta Grande, Amador Aguiar II, Sá Carvalho, Guilman Amorim, Canoas II, Viana, Linhares, Cana Brava, São Salvador e Governador Ney Braga) foram desarmadas. Com a operação o sistema perdeu 2,2 megawatts (MW) da capacidade instalada.

Além de Minas e de São Paulo, sofreram corte de energia moradores do Distrito Federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O Sudeste — cujo nível dos reservatórios caiu para 18,5% na semana passada — vive uma situação delicada, dependendo da importação de energia do Nordeste e do Sul para atender à demanda. Menos de 5% da carga total do sistema elétrico brasileiro, segundo o órgão federal, foram impactados. O corte no fornecimento da Cemig foi de 500 MW, enquanto a Eletropaulo sofreu mais, com redução de 1,5 mil MW. No Rio de Janeiro, a Ampla teve que reduzir a oferta em 100 MW.

Sem garantia Apesar da pane, a nota do ONS ressalta haver “folga de geração no sistema interligado”. O presidente da Associação Brasileira das Grandes Empresas Geradoras de Energia Elétrica, Flávio Neiva, explica que a medida da ONS de orientar as distribuidoras a reduzir o fornecimento foi a maneira encontrada para evitar um apagão generalizado causado por efeito cascata. Assim, a solução foi selecionar as cargas a serem desligadas de forma a causar o menor impacto. Ele afirma que o ONS precisará recalcular o modelo distribuição, transferindo menos energia entre regiões durante os horários de pico para evitar que o sistema volte a ficar vulnerável. Mas adverte: “Ninguém garante que não possa ocorrer novamente ainda esse mês”.

O diretor-geral da empresa CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes, afirma ter havido uma mudança no perfil do consumidor com o aumento recente da renda do trabalho no Brasil. Com isso, o vilão do consumo energético deixou de ser o chuveiro elétrico e passou a ser o ar-condicionado, o que explica o pico energético no meio da tarde e não mais à noite como anos atrás. (Colaborou Bárbara Nascimento)

Temperatura e consumo nas alturas

O apagão está diretamente ligado à baixa dos reservatórios das maiores regiões consumidoras. No conjunto do Sudeste e Centro-Oeste, regiões consideradas caixas d’água do país, o volume das represas está em apenas 18,27% do total. No Nordeste, segunda maior em capacidade, o nível está em 17,57%. Isso obriga o ONS a distribuir a energia gerada em outras regiões para alimentar a rede ao longo do ano. Segundo o último relatório operacional do ONS, que abrange de 10 a 16 deste mês, o consumo verificado em três das quatro regiões foi superior ao previsto inicialmente.

Na capital mineira, os termômetros marcaram 32,5°C.Em São Paulo, foi registrada a tarde mais quente do ano, com 36,5°C. Em pleno período chuvoso, a última chuva foi em 22 de dezembro. A média pluviométrica da série histórica é de 296 milímetros em janeiro. Segundo o meteorologista Claudemir de Azevedo, até amanhã não há qualquer previsão de chuva.


No corte decretado ontem pelo ONS, São Paulo foi o estado mais afetado, com corte em 24 municípios, segundo a Eletropaulo. As estações República e Luz da Linha 4-Amarela do metrô foram fechadas porque houve um problema de alimentação de energia elétrica na região da Estação da Luz. No Rio, 13 cidades abastecidas pela Ampla ficaram às escuras. O blecaute afetou 580 mil consumidores.

No Distrito Federal, o apagão atingiu 16% das unidades consumidoras — 157 mil das 981 mil existentes. Milhares de pessoas ficaram sem energia no meio da tarde em oito localidades. O corte, justificou a Companhia Energética de Brasília (CEB) por meio de nota, obedeceu às ordens do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O partido Democratas anunciou que pedirá a convocação do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM), para prestar esclarecimentos em comissões da Câmara e do Senado sobre a falta de luz.

DEMANDA Na região Sudeste/Centro-Oeste, a demanda máxima esperada de consumo era de 46 mil MW, mas o verificado foi de 47.8 mil Mw (3,9% acima). Houve, também, consumo acima do esperado no Sul e no Nordeste, de 10,3% e 0,7%, respectivamente. Para piorar, o pico de demanda energética dessa semana nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste é esperado para quinta-feira, quando a demanda deve atingir 61,8 MW entre 20h e 21h.

O corte de energia não surpreende o físico e professor da Universidade de São Paulo (USP), José Goldemberg, uma vez que, segundo ele, o sistema está funcionando no limite. "Estamos assistindo a uma crônica da morte anunciada. Desde 2012, alertamos sobre a crise”, disse.

Em lugar de serem acionadas apenas em situações de emergência, as usinas térmicas se tornaram essenciais para a geração de energia no Brasil. "As decisões equivocadas do governo trarão impactos sociais graves", acrescentou Goldemberg. A opinião é partilhada pelo presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. "O governo preferiu abrir mão de diversificar oferta", afirmou. (PRF, CP e DA)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)