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Estado de Minas

Emprego some com crise nas indústrias

Oportunidades de trabalho estão migrando para as atividades do setor de prestação de serviços, %u2013 dos negócios de alimentação ao transporte de mercadorias, passando também pelo comércio


postado em 29/12/2014 06:00 / atualizado em 29/12/2014 07:24

O motorista Vinícius Fernandes Rodrigues usa experiência adquirida na indústria na prestação de serviços na BR-040(foto: Arquivo Pessoal)
O motorista Vinícius Fernandes Rodrigues usa experiência adquirida na indústria na prestação de serviços na BR-040 (foto: Arquivo Pessoal)
O emprego some das fábricas, que mantinham o seu reinado no mercado de trabalho das regiões mais industrializadas de Minas Gerais. Com a crise enfrentada pelo setor, as oportunidades de trabalho estão migrando para as atividades do setor de prestação de serviços, – dos negócios de alimentação ao transporte de mercadorias, passando também pelo comércio –, que, agora, absorvem parte dos trabalhadores desempregados nos maiores municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Centro-Oeste e Sul de Minas, e na Zona da Mata. Até mesmo nas áreas onde as contratações superam as demissões, o saldo é decrescente em 10 das 12 regiões analisadas sob o ponto de vista do comportamento das vagas, segundo estudo mais recente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), referente ao período de janeiro a outubro.

Só nos vales do Aço e do Jequitinhonha aumentou a diferença entre admissões e dispensas, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (veja o quadro). No balanço geral do estado, o saldo do emprego industrial foi de 20.842 postos de trabalho, 69,2% menor na comparação com a diferença registrada em 2013, de 66.412 contratados a mais que os demitidos. Embora apresentando queda do saldo, o setor de serviços teve melhor performance nos meses analisados. Empregou 53.566 pessoas a mais do que demitiu, representando redução de 16% na comparação com os registros do acumulado de 10 meses de 2013.

A importância da indústria na geração de emprego tem caído de forma nítida, observa Antonio Braz de Oliveira e Silva, analista em Minas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O baque que as fábricas sofreram depois da crise financeira mundial de 2008 segue com reflexos na gangorra em que a produção se transformou desde 2013. Ela está 3,2% abaixo do nível em que se encontrava em 2008, pelos dados de setembro do instituto. “A indústria perde relevância no emprego de forma generalizada e nada indica que isso vai se reverter, a despeito de toda a política de incentivo ao setor e de desoneração da folha de pessoal conduzida pelo governo federal”, afirma.

A tendência é de redução do emprego e da massa salarial no ano que vem, quando a indústria espera momentos difíceis, devido à contenção de gastos do governo federal, combinada à redução do volume do crédito para investimentos, já anunciada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e à manutenção da inflação e dos juros em patamares altos, avalia Guilherme Veloso Leão, gerente do Departamento de Estudos Econômicos da Fiemg. “Será um ano de ajustes, mas acredito que o governo Dilma continuará buscando uma estratégia desenvolvimentista, mesmo que essa política não tenha dado certo nos últimos anos”, afirma.

Os números do emprego industrial em Minas estão, particularmente, influenciados pelo mau desempenho da indústria automotiva. Nos últimos 12 meses até outubro, a produção das montadoras e autopeças diminuiu 21,7% no estado, pior destaque negativo nas análises feitas pela Fiemg. Outro segmento muito afetado pela crise, a metalurgia básica, que envolve a siderurgia, teve retração de 1,2% no ritmo das fábricas. Na avaliação do economista da Fiemg, o saldo do emprego só melhorou no Vale do Aço, polo que abriga a Usiminas, maior produtora de aços planos do país, por conta das obras de engenharia associadas à recuperação da BR – 381, que liga Belo Horizonte a São Paulo.

SERVIÇOS AQUECIDOS Os serviços de apoio à indústria contribuíram para segurar o emprego em municípios industrializados do estado, como Sete Lagoas, na Região Central de Minas. O presidente do sindicato local dos metalúrgicos, Ernane Geraldo Dias, observou a geração de vagas ocupadas por ex-empregados da indústria em torno da obras da recuperação da BR-040 e na construção civil ativa na cidade. O consórcio Via 040 informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que vai concluir até o primeiro semestre de 2015 um programa de contratações de 50 pessoas para os serviços de restauração e 74 que serão aproveitadas na gestão da estrada, sob concessão privada.

O consórcio tem contratado em Sete Lagoas, Paraopeba e Capim Branco, entre outros municípios da região. Em meados do ano que vem, as praças de pedágio da BR-040 já deverão estar em funcionamento. As oportunidades abertas pelas obras foram decisivas para o motorista Vinícius Fernandes Rodrigues, de 28 anos, que perdeu o emprego no ano passado em meio às vagas cortadas nas empresas fornecedoras de carvão vegetal e de ferro-gusa, matéria-prima da produção de aço. Operador do reboque que presta assistência aos usuários da estrada, Vinícius fez valer a experiência de 10 anos de trabalho como motorista na indústria, mas, ainda assim ficou desempregado 45 dias até encontrar a nova chance. “Há muita gente à procura de trabalho, mas é difícil conseguir uma vaga, principalmente no fim do ano. Espero que 2015 seja um ano melhor”, afirma.

Situação pior do que em 2008


As indústrias extrativa mineral e de transformação e a produção e distribuição de eletricidade, gás e água da Grande BH responderam por 16,3% do número total de pessoas empregadas na região metropolitana da capital mineira em novembro. Foi um resultado pior na comparação com as participações que o setor tinha em novembro de 2008, de 18,3%, e no mesmo mês de 2009, de 17,2%, períodos diretamente afetados pela turbulência irradiada das bolsas de valores no mundo. Esses setores empregavam no mês passado 414 mil pessoas, de um total de 2,531 milhões de ocupados. O comércio e as empresas prestadoras de serviços, por sua vez, inclusive os serviços domésticos, elevaram a sua presença na manutenção do emprego nos últimos sete anos, de 73,9% para 75,5%.

“Desde a crise financeira mundial não se demitia tanto quanto agora”, lamenta o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sete Lagoas, Ernane Geraldo Dias. As empresas dos principais setores empregadores de mão de obra no município – indústria automotiva e produtores independentes de ferro-gusa – demitiram neste ano mais de 1.600 trabalhadores, com base nas estatísticas preliminares do sindicato e que se referem apenas às homologações dos contratos de trabalho dos metalúrgicos que estavam há mais de um ano em serviço. “Difícil dizer o que esperar de 2015 depois de um 2014 pior do que 2013. Quase todas as empresas concederam férias coletivas este ano para ajustar a produção mais baixa e algumas delas não pagaram o 13º salário na data estabelecida por lei”, afirma.

Em Ouro Preto, os metalúrgicos lutam para reverter o fechamento da fábrica de alumínio primário da multinacional Novelis, anunciado em 16 de outubro. A unidade operava há 80 anos e a interrupção das atividades representará o corte de 350 empregos diretos e de cerca de 450 postos de trabalho em empresas contratadas, de acordo com o sindicato local dos metalúrgicos. A diretoria da instituição pediu audiências para tentar negociar alternativa de manutenção da produção com a equipe de transição do governador eleito, Fernando Pimentel e do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Mauro Borges.

Incertezas A previsão da Fiemg de queda do emprego em 2015 reflete, ainda, as expectativas de baixo crescimento da economia e as incertezas sobre os rumos da política econômica. São fatores, segundo Guilherme Leão, essenciais para a melhoria do nível de confiança dos empresários de várias áreas e o retorno dos investimentos produtivos. No mapa do emprego industrial que a Fiemg desenhou com a estatística de janeiro a outubro divulgada pelo Ministério do Trabalho, os resultados mais preocupantes foram os apresentados pela área central do estado, onde o saldo do emprego ficou negativo em 6.199 vagas neste ano. Isso significa que houve mais demissões do que contratações. (MV)


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