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Estado de Minas TEMPO DE PLANEJAR O FUTURO

Brasileiros entre 22 e 50 anos somam 45% da população na fase produtiva do trabalho


postado em 22/12/2014 06:00 / atualizado em 22/12/2014 07:29

Consciente da importância de reservar parte do salário, Mariella Figueiredo programa ambições maiores(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press )
Consciente da importância de reservar parte do salário, Mariella Figueiredo programa ambições maiores (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press )
O Brasil está vivendo a fase mais promissora de uma nação. A maior parte da população está na idade produtiva, ou seja, tem plena capacidade para gerar riqueza. Toda a bonança, porém, caminha com prazo de validade. Acabará em 2040, quando o país será uma nação de velhos. A maioria dos brasileiros, no entanto, em lugar de poupar para o futuro, mantém foco no presente, acumulando dívidas. Mas é possível mudar essa direção, segundo especialistas em finanças pessoais. Aqueles que estão na faixa etária de 22 a 50 anos – um público de 89,8 milhões de pessoas, representando 44,6% da população — não podem perder tempo. Cada ano sem poupar significará um ano de problemas na velhice.


"Não há mágica. As pessoas que se preocupam em destinar parte dos salários para uma aplicação financeira certamente terão menos dificuldades para o sustento quando se aposentarem", alerta Jurandir Sell Macedo, consultor de finanças pessoais do Itaú Unibanco. Para ele, os trabalhadores que se empanturram com o crédito fácil devem, agora, trilhar o delicado percurso das finanças sustentáveis.

Não se trata de aprender apenas uma ciência exata ou de calcular quanto do salário será reservado a cada mês. O fundamental é se adequar à realidade, moldar projetos de vida de longo prazo. É preciso entender que dinheiro resulta de estudo e de trabalho. "Organizar as finanças não é um fato trivial, mas os resultados são gratificantes", garante Macedo.

A arte de poupar deve ser levada a sério, principalmente pelos brasileiros que estão na fase mais produtiva, porque é também nesse período que, em tese, as pessoas estão em ascensão de carreira e têm gastos maiores, alerta Lucas Radd, sócio da empresa WG Finanças Pessoais. “Há dois perigos nessa etapa: as pessoas podem acreditar que sempre estarão mais ricas nos próximos anos, ignorando a necessidade da reserva financeira; e um padrão de vida mais elevado, uma vez que se trabalha muito e exige-se um carro mais confortável e uma casa melhor”, afirma. É também, de acordo com o profissional, a fase dos gastos. “A pessoa está comprando seu segundo carro, poupa para dar entrada em um imóvel e acaba tendo parcelas altas de financiamento para pagar”, diz.

Economizar foi um grande aprendizado para as conquistas de Eliane Gomes na maturidade profissional(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press )
Economizar foi um grande aprendizado para as conquistas de Eliane Gomes na maturidade profissional (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press )
Outro detalhe são os filhos. Com eles, ninguém quer poupar”, completa Radd. A analista de redes sociais Mariella Araújo Figueiredo, de 28 anos, tem consciência da importância de guardar dinheiro, mas reconhece que as ambições cresceram. “Antes, tinha sonhos imediatistas. Juntava dinheiro para poder fazer viagens”, recorda. Atualmente, todo mês, ela deposita na poupança 30% do seu salário e não mexe mais no montante.

“Percebi que consigo me manter mesmo poupando, mensalmente, essa quantia. Sou uma pessoa controlada, ainda moro com a minha mãe, mas tenho despesas com carro, telefone e meus cachorros. Tenho o gasto mensal do financiamento do veículo”, revela. Atualmente, Mariella tem planos de comprar com o namorado um apartamento, casar-se e poupar é essencial para ela, neste momento.

Qualidade de vida
Aos 43 anos a médica Eliane Gomes Amorim também foge à regra da sua faixa etária: ela consegue poupar. Aprendeu a valorizar e a guardar dinheiro ainda pequena, diante das dificuldades da família. Mãe de dois filhos, Eliane conta que, quando entrou na universidade, ainda ajudava nas despesas de casa e com parte do salário do estágio comprar o material didático.
“Dificilmente compro por impulsos. Pesquiso sempre antes de comprar”, ressalta. Ela tem uma poupança, um plano de previdência vinculado à empresa em que trabalha. “Cerca de 10% do que ganho vai para a poupança e outros 10% para a previdência”, diz Eliane. Com o hábito de poupar, diz ter qualidade de vida.

Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) reforçam o descompromisso dos brasileiros com o futuro: 42% dos adultos não guardam qualquer quantidade de dinheiro para uma situação de emergência. Nos cálculos do instituto Data Popular, a realidade é mais dramática: 72% das pessoas não têm reserva financeira. Entre os que poupam, só 6% pensam na própria aposentadoria e as economias guardadas não costumam ser superiores a cinco salários mínimos (R$ 3.620). "O corte de gastos é doloroso no início. Entretanto, o sacrifício será pequeno se comparado à alegria de alcançar sonhos e objetivos. Essa é a base do pensamento da educação financeira", ensina Macedo.

Descontrole na memória do país

Boa parte dos brasileiros que estão hoje na idade produtiva carrega na memória os períodos de inflação alta, o que, na avaliação dos especialistas, alimenta a visão de que é preciso viver mais intensamente o presente, sem a obrigação de poupar para o futuro. "É um problema sério", admite Jurandir Sell Macedo, consultor de finanças pessoais do Itaú Unibanco. "O descontrole de preços do passado viciou não apenas a geração que conviveu com ele. A ideia de imediatismo contaminou os filhos e netos das pessoas", emenda.

Há ainda, no entender dele, o mau exemplo do governo, que não poupa o suficiente para honrar seus compromissos. Por isso, mesmo pagando impostos pesadíssimos, os brasileiros não têm serviços públicos de qualidade.

Poupar é um assunto complexo. Deixar de gastar hoje para prevenir o futuro pode ser um sacrifício a curto e a médio prazos, mas será um prêmio mais à frente, enfatiza o economista Istvan Kasznar, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Ebape-FGV). Nas regras do capital, quem acumular mais terá melhores resultados, mas qualidade de vida não é exclusividade dos ricos. “É possível ter uma velhice saudável e sustentável desde que definam objetivos claros, com prazos e valores previamente estabelecidos para uma poupança”, afirma o especialista.

Jurandir Macelo lembra que o pensamento generalizado é de que não compensa abrir mão de pequenos prazeres que fazem a vida valer mais a pena. Assim, quando as adversidades chegam, eles estão despreparados.

Para indicar como e quanto se deve guardar ao longo dos anos para o conforto na aposentadoria, o consultor criou, em parceria com o colega de trabalho Martin Iglesias, uma metodologia chamada de 1-3-6-9. A meta é, depois de várias simulações, encontrar um ponto de equilíbrio e um parâmetro ideal.

Eles sugerem que a idade para começar a poupar é 25 anos, com marcos definidos aos 35, 45, 55 e aos 65 anos — quem inicia depois tem que fazer um esforço maior. Aos 35 anos, é importante que se esteja com uma poupança equivalente a um ano de trabalho. Na avaliação de Macedo, como a expectativa de vida dos brasileiros aumentou (74,6 anos), mesmo após os 65 anos todos devem continuar poupando 10% da renda mensal para emergências. (VB)


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