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Estado de Minas

Fim de obras do Move não trouxe alívio para lojistas das avenidas Santos Dumont e Paraná

Comerciantes cogitam demitir funcionários e fechar portas, já que movimento despencou depois que o ponto de ônibus foi transferido para o canteiro central


postado em 26/11/2014 06:00 / atualizado em 26/11/2014 09:30

Calçadas vazias: estações do novo transporte de ônibus de Belo Horizonte tiraram clientes da porta das lojas(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Calçadas vazias: estações do novo transporte de ônibus de Belo Horizonte tiraram clientes da porta das lojas (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)

A expectativa era que, superadas as obras de remodelação das avenidas Santos Dumont e Paraná para funcionamento do sistema de ônibus rápidos, os clientes retornassem ao comércio depois de um longo período de paradeiro. O sonhado fim do pesadelo parece não ter fim. A entrada em operação do novo formato de transporte coletivo, em Belo Horizonte chamado de Move, em vez de trazer de volta os compradores habituais, resultou em agravamento da crise varejista do Hipercentro. Às vésperas do Natal, comerciantes falam em nova onda de fechamento de lojas e demissão de trabalhadores.

Apesar da retomada do fluxo de pessoas nas duas avenidas, um detalhe compromete o rendimento do comércio: a substituição dos antigos pontos de ônibus no meio dos quarteirões pela plataforma do Move bem no canteiro central. Isso porque com o novo modelo de transporte dos passageiros dos ônibus segue direto para a plataforma em vez de deixar os usuários parados por longo tempo em frente às vitrines aguardando os ônibus.

A explicação é quase unânime entre os comerciantes da região, assim como a queda no faturamento em relação a 2013. “Ano passado foi melhor mesmo com as obras. Mas tiraram o ponto da porta e o fluxo caiu muito”, dizem as comerciantes Tatiana Rocha Silva e Alexandra Santos, proprietárias de unidades em uma feira de roupa na Avenida Paraná. A afirmação é repetida pela gerente da loja Moda do Bebê, Kaliana Silva, do outro lado do quarteirão. “O balanço está pior que em 2013. O ponto era na porta, isso dava mais visibilidade.”

Em meio à poeira e à restrição do transitar de veículos e pessoas durante as obras, o fluxo nas lojas quase zerou, resultando em uma série de fechamento de lojas e demissão de trabalhadores. A entrada em operação do novo sistema de transporte era a promessa para reaquecer o varejo. Mas, sem tal retorno ao longo do ano, o cenário projetado para o Natal não é nada otimista, principalmente se associado ao momento de indefinição da economia. “A propaganda feita era que ia aumentar o fluxo em 80%; a avenida seria transformada em um shopping a céu aberto. Mas isso foi só discurso para que os lojistas parassem de reclamar das obras", afirma o presidente da Associação dos Comerciantes do Hipercentro, Flávio Assunção.

(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)

A avaliação do representante comercial é que 2014 foi um ano-teste. O Natal deve repetir os resultados do restante do ano “sem pisar no acelerador”. Segundo ele, ações precisam ser tomadas para recuperar as vendas da região. Mas ressalta que é preciso compreender a situação do varejo em todo o país. “Foi um ano difícil para todo o comércio”, afirma.

FECHAMENTO Sem a retomada esperada, nova onda de fechamento pode ser observada com a virada do ano. A gerente da loja Lilika Modas, Erleide Rocha, diz que, com a queda nas vendas em relação ao ano passado, o patrão já fala em fechar a unidade. O quadro de funcionárias foi reduzido. “As vendas caíram pela metade”, afirma, ao analisar o balanço financeiro. Segundo ela, além do entra e sai de clientes ter reduzido bastante, a situação da economia agrava o quadro. “São muitos os que entram, gostam da mercadoria, mas não compram”, relata Erleide.

São raros os lojistas que dizem ter melhorado as vendas em 2014. Corroborando com a afirmação da transferência da parada de ônibus, os poucos que afirmam ter faturamento mais alto estão localizados em esquinas. Isso porque nos cruzamentos o fluxo de pedestres é maior. “Melhorou pouco. E olha que nosso ponto é dos melhores”, afirma o gerente da Enxovais Dular, Lismar Lima. Assim como outros lojistas, ele diz sentir saudade do pontos de ônibus. “As pessoas ficavam ali olhando”, recorda Lima, que, para o Natal, não tem boas expectativas. “Todo ano dobrava. Mas este ano não está tão assim não”, afirma. Na loja, ainda são poucos os produtos que remetem às festas de fim de ano.

Na esquina de Santos Dumont com Rio de Janeiro, outro local privilegiado depois da conclusão da reforma, o resultado é zero a zero. “Nem melhorou, nem piorou”, afirma o gerente Paulo Pacheco sobre o período pós-reforma. Segundo ele, a expectativa era crescer o movimento na loja depois da inauguração do BRT. “Mas só tem movimento na estação; no comércio, nada”, diz ele. A loja já está bem preparada para o Natal, com enfeites, árvores, presentes e outros utensílios, mas o movimento esperado é menor que anos atrás. “Hoje era para estar lotada. A expectativa é sempre pelo melhor, mas o movimento não está nada bom”, afirma Pacheco, que, há 20 anos na unidade, diz nunca ter vivenciado momento tão negativo. As vendas caíram mais de 50% em relação ao período anterior à obra.

 

Mesmo na incerteza, 9,4 mil temporários

 

A expectativa negativa dos lojistas do Hipercentro de Belo Horizonte em relação ao Natal vai além da influência do Move. A perspectiva é que as vendas do comércio da capital mineira sejam as piores desde 2001, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH). Pelas projeções da entidade, o faturamento deve ter alta entre 1,5% e 3% em relação ao ano passado. De 2005 para cá, apenas em um ano a variação teve alta inferior a 3% no comparativo com o mesmo período do ano anterior.

Pela projeção, o período deve movimentar entre R$ 3,15 e R$ 3,19 bilhões no varejo da capital mineira. Apesar da conjuntura de incerteza, a entidade sustenta que o momento positivo do mercado de trabalho, com apenas 3,5% de desempregados na Grande BH e aumento da renda dos trabalhadores, deve garantir vendas um pouco melhores que no ano passado. As contratações temporárias devem ter alta entre 1% e 1,5% sobre o ano passado, com o preenchimento de aproximadamente 9,4 mil vagas.

Apesar de o Natal ser a data com maior apelo emocional para o varejo, a auxiliar administrativo Taís Camilo não fará graças. Neste ano, o único presenteado será o filho. Nem o marido, nem a mãe ganharão lembranças. “É o que a minha condição permite. Está tudo muito caro”, afirma ela. Uma parcela do décimo terceiro salário será destinada à compra do brinquedo pedido pelo filho, mas, antes disso, ela irá pesquisar muito para achar o melhor preço.


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