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Estado de Minas

Brasil preso à armadilha das commodities

Saldo dependente da exportação de grãos e minério, com preços em queda, impede avanço do país no comércio global


postado em 16/11/2014 06:00 / atualizado em 16/11/2014 07:57

Rosana Hessel

Brasília – A queda no valor das matérias-primas agrícolas e minerais expôs a fragilidade brasileira no comércio exterior. Não por acaso, o país completará em 2014 três anos seguidos de exportações estagnadas, enquanto o mundo continua ampliando as suas trocas comerciais. O Brasil também está à margem das muitas negociações em torno de acordos para a abertura de mercados. Uma das tarefas da presidente Dilma Rousseff no atual encontro do G-20, em Brisbane, Austrália, é justamente melhorar as relações com os Estados Unidos, de volta ao posto de maior importador de produtos made in Brazil.

Especialistas alertam para o risco de uma piora no saldo comercial do país com o resto do mundo não somente neste ano como também em 2015, graças à desvalorização das commodities, o carro-chefe das exportações brasileiras. Estudo recente do Banco Mundial (Bird), por exemplo, aponta que o recuo generalizado nas cotações parece que veio para ficar, sem chances de melhora neste ano. Os grãos lideram os tombos (-19,7%) e, em 2015, a cotação da maioria dos produtos continuará em retração ou estável (veja quadro).

De janeiro a outubro, o saldo comercial do país fechou no vermelho em R$ 1,87 bilhão, um dos piores da sua história, praticamente empatando com o déficit de R$ 1,99 bilhão em igual período de 2013. Antes, o pior resultado havia sido em 1998, com perda de R$ 5 bilhões. Boa parte desse quadro se deve à retração do preço do minério de ferro. No acumulado de 10 meses do ano, sua desvalorização foi de 19,6%. No caso da soja, foi de 4,4% e do milho, de 22,8%. O açúcar, por sua vez, recuou 9,2%.

Não por acaso, esses prognósticos enterram qualquer esperança de melhora no comércio com o resto do mundo e deixam escancarada a perda de competitividade internacional do país. “Hoje, as commodities correspondem a 59% da pauta de exportação brasileira e seus preços estão caindo. Com isso, o saldo comercial fica cada vez mais longe do recorde de R$ 40 bilhões, de 2007”, destaca a economista Lia Valls Pereira, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Os superávits alcançados pelo Brasil desde o auge da crise global, em 2009, não decorreram da melhora na sua competitividade. “Os resultados foram puxados pelos preços das commodities, que subiram diante da surpreendente demanda chinesa. Mas os próximos anos serão menos favoráveis”, explica Lia. Ela lembra que, quando as exportações brasileiras atingiram seus melhores resultados, na década passada, algumas commodities dobraram de valor, caso do minério de ferro.

Nem mesmo executivos da Vale, a maior mineradora do país, acreditam que a tonelada do produto, que está abaixo de US$ 80, voltará ao patamar de US$ 100 tão cedo. A assessora técnica de assuntos econômicos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Adriana Del Isola, vê a queda dos preços de commodities também como reflexo do aumento do volume mundial de grãos. Produtores plantaram mais devido à forte alta dos preços em 2013, graças à seca nos EUA.

“A demanda não está acompanhando a oferta. A China teve um grande salto na formação de estoque no ano passado e, neste ano, diminuiu. Por isso, a queda não é só de preço, mas também de volume”, completa Adriana, lembrando que, de janeiro a outubro, o Brasil exportou US$ 83 bilhões em grãos. “Comparando com o ano passado, é um recuo de 3%. Isso é preocupante porque diminui a rentabilidade do produtor, além de ser um cenário carente de uma melhora forte no clima”, detalha.

DEPENDÊNCIA “É difícil pensar em piso no valor das commodities — depende da China, do mundo, do quadro geopolítico”, diz Monica Baumgarten de Bolle, sócia diretora da consultoria Galanto MBB. A estabilização de preços apontada pelo Bird desafia o Brasil, na avaliação de Marcos Troyjo, diretor do Bric Lab da Columbia University, de Nova York. “A curto prazo, a percepção sobre a performance de países como Brasil e Rússia, que enfatizam as matérias-primas em seu perfil exportador, continuará desanimadora. A indefinição em torno da política econômica brasileira nos próximos quatro anos tem, por sua vez, efeito ainda pior do que a deflação global das commodities”, lamenta.

Lia, da FGV, também considera ruim o quadro do Brasil. Para ela, é inevitável a balança comercial registrar déficit este ano, sem o artifício de contabilizar como exportação plataformas de petróleo fabricadas no próprio território. Até outubro de 2013, o saldo comercial estava negativo, mas graças à manobra, fechou com R$ 2,5 bilhões positivos.


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