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Estado de Minas ROMBO RECORDE

Saldo negativo nas contas externas do país é o pior desde 1990

Valor foi de US$ 7,9 bilhões; déficit no ano chega a US$ 83,6 bilhões, o maior da história. Economia está vulnerável a crises


postado em 25/10/2014 00:12 / atualizado em 25/10/2014 08:45

Com viagem marcada para janeiro, Augusto Soares espera para comprar os dólares(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Com viagem marcada para janeiro, Augusto Soares espera para comprar os dólares (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Brasília – O Brasil está cada vez mais vulnerável a choques externos, o que poderá colocar em xeque a capacidade do país em atrair investimentos e suportar a instabilidade que o mundo enfrentará a partir de 2015, quando os Estados Unidos passarem a subir os juros. Nem mesmo com a economia em estagnação, o que levaria, em tese, a uma queda nas importações, o país conseguiu reduzir o rombo nas contas externas.


Dados do Banco Central (BC) divulgados ontem sinalizam o tamanho do problema. Em 12 meses até setembro, o déficit nas transações correntes (que incluem as viagens de brasileiros ao exterior, a balança comercial e transferências unilaterais de rendas) chegou a US$ 83,6 bilhões, o pior resultado da história. Ainda mais preocupante do que o número em si é a tendência desfavorável das contas externas.

Em setembro, as trocas do país com o resto do mundo ficaram no vermelho em US$ 7,9 bilhões, o pior resultado para o mês desde de 1990. Um ano antes, por exemplo, essa conta era negativa em apenas US$ 2,7 bilhões – uma diferença de quase 200%. Nem mesmo o mais pessimista dos analistas de mercado previa um rombo tão grande no mês. O consenso de economistas de bancos e corretoras apontava para perdas da ordem de US$ 7 bilhões. Já o BC estimava déficit menor, de US$ 6,7 bilhões.

Os resultados reforçam o quadro de fragilidade das contas externas. No fim de setembro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou relatório em que apontava o Brasil como o país emergente com maior rombo nas transações correntes. No início do ano, outro documento, desta vez publicado pelo Federal Reserve, o BC norte-americano, já chamava a atenção para os problemas de financiamento externo do país. O Fed classificou o Brasil como a segunda economia mais frágil, atrás apenas da Turquia.

À época, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagiu com ironia à constatação da autoridade monetária dos EUA. “O estudo do Fed tem falhas básicas”, disparou Mantega, que já foi avisado pela presidente Dilma Rousseff de que não continuará no governo, na hipótese de a petista conseguir a reeleição amanhã.

Caso os brasileiros se cotizassem para cobrir essa conta, seriam necessários 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB) apenas para zerar o déficit. Até recentemente os fluxos de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) eram mais do que suficientes para equilibrar o déficit nas transações correntes. Mas, com a economia andando de lado e a inflação persistentemente alta, esses recursos, hoje, cobrem apenas 79,5% do rombo externo.

Os economistas da consultoria Rosenberg chamaram a atenção para outro dado preocupante. Faz 10 meses consecutivos que o ingresso de IED em 12 meses não é suficiente para cobrir o déficit em transações correntes, “tendência que deve permanecer”, frisaram os analistas, em relatório assinado pela economista-chefe, Thaís Marzola Zara.

Até 2012, o IED excedia em 20% a necessidade de financiamento externo. Em 2011, essa diferença era ainda maior, de 27%. Em tese, a desvalorização do real frente ao dólar ajudaria a atrair mais capitais, por um motivo simples: quando o investidor trouxesse dinheiro para o país, ao fazer a conversão, os dólares se converteriam em mais reais. Nos quatro anos de governo Dilma Rousseff a moeda norte-americana ficou, em média, 30% mais cara.

Mas nem por isso o Brasil os produtos brasileiros ficaram mais competitivos no mercado externo. “A depreciação da moeda brasileira em nada ajudou a melhorar a competitividade externa do Brasil”, disse o diretor do Grupo de Pesquisas Econômicas para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos.

Balança Até mesmo a balança comercial, que até recentemente ajudava a contrabalançar o déficit externo, passou a jogar contra. O déficit foi de US$ 940 milhões em setembro. A projeção do BC é que o saldo comercial encerre o ano com superávit de US$ 3 bilhões. Mas, em nove meses, a conta está negativa em US$ 700 milhões.

O cumprimento dessa meta é tão improvável que nem mesmo o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, mostrou firmeza no compromisso pelo governo. Quando questionado sobre o que seria necessário ocorrer para que a balança comercial revertesse o rombo no ano, ele preferiu desconversar. “Nossa estimativa é essa (de superávit), mas uma nova avaliação dessa projeção será feita em novembro”, limitou-se a dizer.

Ele disse que o encolhimento do saldo comercial é em função da queda de preços dos produtos exportados pelo país, em especial matérias-primas como soja, minério de ferro e outras commodities. “A gente pode atribuir isso a preços, basicamente. No ano, até setembro, as exportações subiram 1,8% em volume e caíram 3,9%, em preços”, explicou.

 

Dólar não segura gastos

 

Celulares, computadores, câmeras, whisky, perfume… Tudo isso e muito mais veio na bagagem do brasileiro que viajou para fora do Brasil, deixando em outros países nada menos do que US$ 2,38 bilhões (R$ 5,8 bilhões, pela cotação de ontem) , somente no mês passado. A quantia, divulgada ontem, é o novo recorde para os meses de setembro já registrado pelo Banco Central desde 1969, quando começou a série histórica. Em relação a outros meses, é o segundo maior de toda a série, perdendo apenas para julho deste ano, quando foram gastos US$ 2,41 bilhões (R$ 5,9 bilhões). Em contrapartida à farra dos nossos turistas no exterior, os dados mostram que os estrangeiros deixaram no Brasil, em setembro, US$ 493 milhões (R$ 1,2 bilhão). Com isso, o resultado da conta de viagens internacionais ficou negativa em US$ 1,894 bilhão (R$ 4,6 bilhões) no mês passado.

 O que chama atenção nos números, segundo especialistas, é que o recorde de gastos de brasileiros no exterior para meses de setembro ocorreu em um mês de forte alta do dólar, o que encarece as passagens e os hotéis cotados em moeda estrangeira, além dos produtos comprados lá fora. No mês passado, a moeda norte-americana avançou 9,33%, fechando em R$ 2,44. O vice-presidente do Conselho Regional de Economia, Pedro Paulo Tettersen, destaca que os dados apontam que o dólar não está no seu equilíbrio. “A taxa de câmbio valorizada faz com que os produtos e serviços estrangeiros fiquem mais baratos que aqueles vendidos no Brasil. O país tem tido déficits fiscais consecutivos. Assim, a taxa de juros sobe, o que valoriza a moeda nacional e os produtos e serviços no exterior ficam mais baratos”, avalia.

Apesar da alta despesas lá for a, o número de viagens internacionais feitas por brasileiros não cresceu tanto como no ano passado, quando o aumento em relação a 2012 foi de 18%. Augusto Soares dos Anjos, de 23 anos, é um dos turistas que está de malas prontas. Em janeiro, ele vai para os Estados Unidos e diz que, se o dólar continuar alto, vai impactar na sua viagem. “Vou levar uma quantia certa e de acordo com as minhas condições. Não posso adiar o passeio, porque estou indo visitar minha namorada que está morando lá. Pelas minhas contas, ia gasta R$ 2,5 mil com a passagem, mas, hoje, com a variação cambial, gastaria o dobro. Por isso, vou esperar mais um pouco para fechar a viagem”, revela.


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