A indústria amargou mais um mês de indicadores negativos e o próprio setor já projeta uma retração para o ano. Em agosto, houve queda do uso da capacidade instalada, indicativo de estoques elevados, diminuição nas horas trabalhadas e fechamento de postos de trabalho. Somente o faturamento e o rendimento médio real aumentaram. Na avaliação de especialistas, esse quadro de deterioração terá impacto no Natal, com o menor crescimento das vendas.
Dados do levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) detalham que a utilização da capacidade instalada (UCI) da indústria brasileira caiu 0,5 ponto percentual entre julho e agosto e chegou a 80,5%. Na comparação com o mesmo período do ano passado, indicador teve retração de 1,8 ponto percentual. A maior redução anual foi observada no setor automotivo: 5,8%. As horas trabalhadas também encolheram, com recuou 0,8% frente a julho e de 5,7% ante o oitavo mês de 2013. “Muito dificilmente teremos números positivos para a indústria em 2014”, avaliou o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
O executivo também citou que o cenário negativo contaminou o mercado de trabalho. Pelo sexto mês consecutivo houve fechamento de postos, com recuo de 0,8% no indicador. E na comparação anual, o encolhimento é de 1,7% frente a agosto do ano passado. “Essa variável, que vinha com alguma solidez, com certo crescimento, agora mostra claramente uma reversão na sua trajetória.” A CNI calcula que, caso nada mude no último quadrimestre de 2014, o emprego industrial fechará 2014 com retração de 0,5%.
Por outro lado, o faturamento real do setor cresceu 1,1%. Essa alta, porém, não foi suficiente para recolocar o indicador no patamar em que se encontrava há um ano. Na comparação com agosto de 2013, houve recuo de 8,8%. Os indicadores de renda na indústria cresceram em relação a julho. A massa salarial real avançou 0,3%. O rendimento médio real teve alta 0,4% entre o sétimo e oitavo mês deste ano e cresceu 2,2% entre os meses de agosto de 2013 e 2014.
Cenário
O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, alertou que o setor está com estoques elevados, o que implicará em redução nos pedidos para a indústria. Gomes ainda ressaltou que a retração na concessão de crédito também prejudica os negócios. “O cenário não é pior porque o mercado de trabalho ainda vai bem e a renda ainda cresce”, afirmou.
Na avaliação do economista sênior do BESI Brasil Flavio Serrano, todos os indicadores apontam para um cenário de retração da indústria. Ele destacou que o baixo nível de exportações, a queda no consumo e a retração dos investimentos mostram que o setor não terá um resultado positivo em 2014. Na opinião dele, todos os incentivos dados se mostraram insuficientes e os problemas são estruturais. “No próximo ano esperamos que a economia mundial melhore e puxe um pouco o nível das vendas para o exterior. No curto prazo não vemos um cenário melhor”, disse.