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Estado de Minas

Pressão da inflação deve reduzir contratação de temporários no fim do ano

Comerciantes de Belo Horizonte apostam em queda de pelo menos 10% na contratação de trabalhadores para o último trimestre do ano. Inflação e juros altos levaram à retração


postado em 11/09/2014 06:00 / atualizado em 11/09/2014 07:50

Élcio contratava até cinco funcionários extras todo ano, mas para este serão no máximo dois (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Élcio contratava até cinco funcionários extras todo ano, mas para este serão no máximo dois (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)

A desaceleração da economia nacional, afetada pelo avanço da inflação e pela alta taxa de juros, já se reflete no ritmo de contratação de trabalhadores temporários no varejo de Belo Horizonte para o último trimestre do ano, período em que os lojistas costumam ampliar o time de mão de obra em razão do Dia das Crianças e do Natal. As entidades que representam o setor na capital ainda não fecharam os números oficiais de postos a serem abertos entre outubro e dezembro próximos, mas as apostas são unânimes em prever queda de pelo menos 10% em comparação à mesma época de 2013, quando 9.041 vagas foram ofertadas. Tanto é assim que nenhuma vaga temporária está em oferta nos quatro postos do Sine administrados pela prefeitura.

A redução sugere que indicadores econômicos da cidade serão afetados, quando comparados com o do ano passado, uma vez que a dupla comércio/serviços representa mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) da capital. “Desde abril, estamos com recordes históricos de menores taxas de crescimento (no mercado de trabalho), o que demonstra como (o indicador) vem se retraindo como um todo e, naturalmente, na contratação de temporários. O varejo e serviços são os grandes contratadores de temporários”, disse.

O percentual de aumento nas vendas no primeiro semestre deste ano no varejo da cidade (1,9%) foi a pior para o mesmo período dos últimos cinco anos: 3,99% em 2013, 6,75% em 2012, 6,06% em 2011, 6,1% em 2010, 3,9% em 2009. A queda no ritmo de vendas do varejo deixou o cenário tão desanimador que Cláudia Volpini, vice-presidente da Associação Comercial de Minas Gerais (ACMinas), prevê que pelo menos 1 mil vagas temporárias deixarão de ser abertas no último trimestre deste ano.

“As empresas, provavelmente, vão manter o atual quadro de funcionários ou colocar um ou dois colaboradores a mais”, disse Cláudia, sócia da loja O Bico das Canetas. Ela própria, que ano passado contratou um temporário, dessa vez não abrirá nenhuma vaga. A economista Ana Paula Bastos, da Câmara de Dirigentes Lojistas da capital (CDL-BH), é outra especialista que aposta em queda no número de vagas a serem ofertadas no comércio “em razão de as vendas no varejo estarem em desaceleração”. Ela questiona o futuro incerto pós-eleição presidencial: “O cenário econômico está nebuloso. Os juros vão aumentar? A inflação está alta e o comércio crescendo menos. Além disso, as pessoas estão endividadas”.

Uma pesquisa divulgada no início da semana pela Fecomércio-MG apurou que o total de consumidores endividados e a taxa de inadimplência subiram em BH. O estudo mostrou, destaca Juan Moreno, analista de economia da entidade, “que o nível de endividamento passou de 45,1% em julho para 53,3% em agosto. Já a taxa de inadimplência apresentou alta de 5,8%, ante 4,6% do mês anterior”. Diante disso, ele conclui: “O cenário econômico não está favorável a grandes contratações. O número de trabalhadores temporários em 2014 deve cair dois dígitos em relação ao ano passado”.

Decepção

O empresário Bráulio Gonçalves, dono da Golden Price, uma loja especializada em artigos para os pés no Centro de Belo Horizonte, irá contratar 40% menos colaboradores temporários no último trimestre de 2014. “Eu era acostumado a dobrar o quadro (de cinco para 10 vendedores)”, disse o comerciante. O mesmo lamento tem seu Élcio, proprietário da Carolina Calçados, que funciona na Galeria do Ouvidor, um dos pontos comerciais mais tradicionais da capital: “Esse ano está amarrado”.

Élcio, que contratava quatro ou cinco trabalhadores temporários, dependendo do ritmo das vendas, dessa vez irá solicitar a ajuda de um ou dois profissionais. “Não vai passar disso. Nunca vi o comércio numa situação tão ruim como a deste ano. O Brasil está crescendo menos.”

O principal indicador que mostra o ritmo de aceleração da economia nacional é o Produto Interno Bruto (PIB), cuja desaceleração está a passos largos. O último boletim Focus, divulgado segunda-feira pelo Banco Central com base na opinião dos principais economistas do país, apurou que o PIB deve fechar o ano com alta de 0,52%. Na última edição, o percentual havia sido de 0,7%.

Indicador

Foi a 15ª semana seguida que os especialistas reviram o indicador para baixo. O recuo no PIB atinge em cheio a taxa de empregos gerados, que também vem crescendo num ritmo menor. E o avanço tímido do emprego como um todo impacta, de acordo com analistas de mercado, na oferta de vagas temporárias, como explica Luís Testa, responsável pela área de pesquisa estratégica da Catho: “Sem dúvida, esse ano vem apresentando uma retração no mercado de trabalho como um todo. Desde abril estamos com recordes históricos de menores taxas de crescimento. Foram quatro meses seguidos, o que demonstra como o mercado de trabalho vem se retraindo e, naturalmente, na contratação de temporários. O varejo e os serviços são os grandes contratadores de mão de obra temporária”.

Luís Testa destaca ainda que o empresariado, independentemente do setor, irá aguardar o resultado das eleições para avaliar investimentos e contratações. “As empresas estão mais receosas. Aguardam o cenário econômico pós-eleição. O mercado está em compasso de espera, fazendo as contratações minimamente necessárias. O primeiro turno (para o pleito de presidente da República) vai dar a perspectiva do que vai ocorrer a médio prazo.”


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